O relatório do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), que reduziu a previsão para a safra americana de milho e os estoques finais do produto no país, voltou a impulsionar os preços futuros do grão ontem na bolsa de Chicago. De acordo com a Dow Jones Newswires, os contratos com vencimento em dezembro atingiram o maior valor em mais de dois anos com os temores das indústrias consumidoras em relação aos estoques apertados de milho.
O papel com vencimento em dezembro alcançou US$ 5,8425 por bushel em Chicago, o maior preço para um contrato de curto prazo desde 27 de agosto de 2008, informou a Dow Jones. Encerrou o pregão com alta de 23,25 centavos de dólar ou 4,2%, a US$ 5,79 por bushel. A segunda posição – vencimento em março – subiu 23,75 centavos de dólar a US$ 5,8875 por bushel, segundo o Valor Data.
O contrato de segunda posição já subiu 15,84% este mês, e a expectativa dos analistas é de que as cotações continuem a subir. O mercado já começa a projetar o bushel de milho a US$ 6,00, de acordo com a Dow Jones.
O relatório americano, que ajudou a reforçar os temores em relação a uma nova crise de alimentos no mundo, indicou que a produção de milho na safra 2010/11 nos Estados Unidos deve alcançar 321,7 milhões toneladas, queda de 3,8%, sobre o relatório anterior, ou uma redução de 12,6 milhões de toneladas. Além disso, o USDA reduziu os estoques finais de milho nos EUA na safra 2010/11 para 22,9 milhões de toneladas, uma queda de 19,2% em comparação ao relatório de setembro.
Os dados sobre o milho estão na mira do mercado porque o consumo do grão vem crescendo, principalmente para a produção de etanol. Os EUA fornecem quatro de cada dez bushels de milho que o mundo demanda, segundo o “Financial Times”.
Em uma análise, o jornal observa que o mercado de milho vem experimentando uma mudança estrutural na demanda na última década. Uma das mais importantes é a maior demanda da indústria de etanol, que é agora uma dos maiores consumidores dos EUA. O USDA estima que na safra 2010/11, esse setor vai consumir 118,4 milhões de toneladas, mais do que um terço da safra total.
A alta de 5% na demanda por etanol na safra atual reflete, segundo o FT, as maiores exigências por uso de biocombustíveis. Nos EUA, por exemplo, a mistura de etanol na gasolina deve passar de 10% para até 15%. Isso pode aumentar ainda mais a demanda por milho.
A forte demanda no exterior garantiu ao Brasil uma exportação recorde de milho em setembro conforme dados da Secex compilados pela Céleres. No mês passado, o país exportou 1,93 milhão de toneladas, 170% mais que o exportado um ano antes.
A soja também disparou ontem em Chicago. De acordo com a Dow Jones, o pregão teve a quarta alta consecutiva por conta da demanda para exportação e das preocupações com os estoques globais apertados. O contrato com vencimento em novembro fechou com alta de 26 centavos de dólar a US$ 11,785. Já a segunda posição na bolsa, o contrato com vencimento em janeiro, encerrou com ganho de 26,50 centavos a US$ 11,895 por bushel, segundo o Valor Data.
Além de perspectiva de forte demanda, principalmente da China, as incertezas sobre a produção de soja na América do Sul também sustentaram os preços.