Após pesquisar a viabilidade de produzir combustíveis renováveis na Europa, nos EUA, em Moçambique e no Brasil, o fundador da norueguesa Umoe Group, Jens Ulltveit-Moe, decidiu que seria em terras brasileiras sua primeira e maior tacada neste segmento. O plano era investir com recursos próprios um terço do necessário para o projeto. Os dois terços restantes seriam financiados por bancos. Mas o curso dessa história, conta Ulltveit-Moe, foi mudada pela crise.
“Começamos com grande esperança e também muito mal”, afirma Ulltveit-Moe, fundador da Umoe Bioenergy, que hoje tem duas usinas de etanol no Estado de São Paulo. O ano era 2007. Naquele momento, 25 usinas sucroalcooleiras novas estavam para ser inauguradas e outras 35 eram previstas para 2008. Os preços do álcool no Brasil vinham de forte alta e o mundo voltava-se para a ambiciosa política de etanol americana, que prometia mudar os paradigmas de remuneração ao setor.
Os investimentos começaram e, em seguida, a turbulência financeira chegou. O empréstimo previsto de dois terços do valor do projeto não aconteceu. “Era verão de 2008 e a crise estava em seu momento mais agudo. Eu tinha de escolher entre desistir e jogar fora todos os R$ 150 milhões já aplicados ou investir mais R$ 300 milhões”, lembra Ulltveit-Moe, que lidera a Umoe Group, formado por diversos negócios, como transporte e equipamentos marítimos e alimentação – o grupo tem 250 restaurantes nos países escandinavos, entre eles, os das redes Burguer King e Fridays.
A decisão se tornava mais difícil porque, além do contexto financeiro negativo, naquele momento a usina estava operacionalmente ruim, com pequenos problemas iniciais, conta o empresário. “Perdemos muito dinheiro. Mas, decidi ir em frente e eu estou satisfeito”.
Assim, a Umoe fez com capital próprio os investimentos que faltavam para por de pé suas duas usinas no Pontal do Paranapanema (SP) que, juntas, processam 2,6 milhões de toneladas de cana-de-açúcar e produzem 220 milhões de litros. Do lado mercadológico, a estratégia foi associar-se à Copersucar – recentemente, foi uma das sócias a ter aprovação da agência de proteção ambiental americana (EPA) para exportar aos EUA.
Depois de toda a tempestade, a Umoe voltou a investir com ímpeto e iniciou dois projetos que vão demandar mais R$ 300 milhões. Um deles é o de ampliar em mais 1 milhão de toneladas a capacidade de uma das usinas, o que elevará para 3,6 milhões de toneladas a capacidade de processamento do grupo. O outro, é o de cogeração com bagaço de cana para produzir 35 megawatts (MW). Até por ter investido com recursos próprios, a dívida líquida da empresa está na casa dos R$ 35 milhões, 10% do valor patrimonial da empresa.
Quando todos esses projetos estiverem concluídos, a Umoe Bioenergy terá investido no Brasil R$ 700 milhões. Ao final desse processo, o empresário espera que suas unidades estejam altamente rentáveis. “Estamos aproveitando apenas metade da energia da cana e nossa operação já está gerando fluxo de caixa positivo”, anima-se.
Com isso, explica Ulltveit-Moe, não é preciso que se atinja grandes escalas para ser economicamente viável. O que não significa que a Umoe continuará do mesmo tamanho, esclarece.
Em cinco anos, o executivo quer contar outra história. Ele antevê que a promessa das energias renováveis, enfim, chegará, em forma de preços altamente remuneradores, puxados por um petróleo mais caro. “Neste momento, o Brasil ganhará mercado e nós estaremos aqui moendo 5,6 milhões de toneladas”, profetiza o executivo.