O vazamento de petróleo na Golfo do México deu nova vida ao projeto do presidente Barack Obama para incentivar o uso de fontes alternativas de energia nos EUA, que parecia morto. Só não se sabe, porém, quais são as propostas defendidas pelo governo americano.
Senadores e analistas políticos tentavam decifrar ontem (16/06) o que Obama quis dizer ao pregar o uso de energias menos poluidoras em discurso à nação na noite anterior. No pronunciamento de 17 minutos sobre o vazamento de petróleo, o presidente não citou nenhuma vez a sua proposta defendida desde a campanha eleitoral, de criar mecanismo de crédito de carbono.
A ideia básica desse sistema é limitar as emissões, pelas empresas, de gases que provocam o efeito estufa. Quem quiser superar o limite teria de comprar créditos de emissão de gases, que seriam vendidos por quem polui abaixo de sua cota. Na União Europeia já funciona um sistema similar.
Em meados do ano passado, a Câmara dos Deputados dos EUA aprovou projeto de lei nessa linha patrocinado por Obama. Desde então, o assunto patina no Senado, onde o Partido Democrata, de Obama, tem 59 votos, abaixo da maioria absoluta de 60 para fazer passar esse tipo de iniciativa.
As lideranças no Senado tentam criar consenso em torno de um projeto dos senadores John Kerry, democrata, e Joe Lieberman, independente. A meta é que, em 2020, os gases estufa emitidos pelos EUA estejam 17% abaixo dos volumes observados em 2005.
Em tese, o vazamento no Golfo do México colocou a indústria de petróleo em xeque, abrindo espaço para Obama puxar sua agenda de energias limpas. O Partido Republicano, de oposição, acusa o presidente de usar o desastre ambiental de forma oportunista para impor sua agenda legislativa. Os republicanos mais à direita dizem que o crédito de carbono não passa de um imposto sobre emissões, que vai tornar a energia mais cara para o americano médio.
Hoje, os senadores democratas vão se reunir para discutir suas opções. Muitos deles enfrentam eleições difíceis neste ano, quando a crise econômica afeta a popularidade de Obama. O tema do crédito de carbono é sensível para alguns Estados fortemente dependentes de energia elétrica gerada a partir de combustíveis fósseis.
No seu discurso, Obama não só deixou de defender claramente a proposta de seu partido, como estendeu a mão para algumas ideias defendidas pelo Partido Republicano. “Estou disposto a examinar propostas que qualquer partido, desde que ataquem seriamente o nosso vício por combustíveis fósseis”, disse. E citou propostas feitas pela oposição, como buscar mais eficiência energética nas residências e prédios comerciais, como foi feito com a indústria automobilística no passado.
Os senadores Kerry e Lieberman soltaram uma declaração conjunta dizendo que Obama apoia o projeto deles. “Não há dúvida de que o presidente está arregaçando as mangas para assegurar que seja criado um mecanismo de mercado para lidar com a poluição de carbono”, diz a nota.
O governo enfrenta uma corrida contra o tempo para aprovar um projeto sobre o tema, seja qual for o conteúdo. O recesso de verão e as eleições do segundo semestre, que renovam parte do Congresso, tornam ainda mais apertado o calendário legislativo. Se o assunto não passar neste ano, o governo terá que apresentar outro projeto no ano que vem, quando começa outra legislatura.