Redação (27/01/2009)- A queda dos preços das commodities agrícolas e a crise econômica, que tendem a diminuir os investimentos dos agricultores e a área agrícola, podem derrubar a produção mundial de alimentos no próximo ano-safra, segundo análise da FAO, o braço Organização das Nações Unidas (ONU) para agricultura e alimentação.
"O plantio no próximo ano-safra pode ser reduzido, com uma queda expressiva em 2009/10 e uma disparada dos preços que pode ser maior que a de 2007/08", disse Jacques Diouf, dirigente da FAO, em evento sobre segurança alimentar realizado em Madri.
Segundo ele, as quedas recentes dos preços das commodities agrícolas não devem ser interpretadas como o fim da crise do setor. "A crise não apenas continua como pode piorar", afirmou. "A queda das cotações e as incertezas com a economia podem desencorajar muitos agricultores a investir na produção".
De acordo com estimativa da FAO, a produção mundial de cereais atingiu em 2008 o recorde de 2,245 bilhões de toneladas, volume superior à demanda prevista para a temporada 2008/09, de 2,198 bilhões de toneladas. A entidade estima em 963 milhões, em uma população total de 6,5 bilhões, o número de pessoas que sofreram com desnutrição em 2008.
O crescimento da produção mundial de cereais no ano passado pode ser creditado principalmente aos países desenvolvidos, que a aumentaram em 11% em decorrência da disparada das cotações, segundo Diouf. Entre os países em desenvolvimento, o aumento foi de 1,1%, mas, se China, Índia e Brasil forem excluídos da conta, a queda foi de 0,8%.
As perspectivas para os preços, por sua vez, são de novas altas, de acordo com projeção apresentada pelo instituto de pesquisas Chatham House, de Londres. A tendência de alta justifica-se pelas mudanças climáticas, a queda nos investimentos para a produção de petróleo (base para a produção de fertilizantes) e a escassez de água, segundo o instituto.
A disputa por terras e o crescimento da demanda por alimentos, causada pelo aumento da população e também da renda das famílias, apresentam-se como os principais desafios para a segurança alimentar global, segundo texto assinado no relatório por Alex Evans, ligado ao Center on International Cooperation, da Universidade de Nova York. "Há um risco real de ”aperto alimentar” em algum ponto do futuro", disse Evans.