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A AmBev do frango

Furlan está desenhando um plano de reorganização societária e de capitalização da Sadia.

Redação (09/02/2009)- Na última semana, o empresário Luiz Fernando Furlan, presidente da Sadia, perdeu um quilo e meio. Na quinta-feira 5, o executivo não almoçou e, à tarde, comeu apenas alguns pedaços de mamão e melão. A redução de peso é resultado da intensa carga de trabalho exigida por um dos mais importantes projetos de sua carreira profissional. De acordo com informações do mercado financeiro, Furlan estaria desenhando um plano de reorganização societária e de capitalização da Sadia cujo objetivo é criar, com a ajuda do BNDES, um gigante mundial da área de alimentos, com receita de R$ 22 bilhões, ativos de R$ 20 bilhões e 110 mil empregados – enfim, uma espécie de ”AmBev dos alimentos”.

Esta empresa, resultado de uma fusão entre Sadia e Perdigão, só sairá do papel se uma série de etapas preliminares for cumprida. A primeira, e mais importante, é uma capitalização na Sadia, que sofreu perdas bilionárias com derivativos. A segunda, a mudança no conselho e no controle da companhia, com a saída de alguns sócios da família Fontana – entre eles, o primo de Furlan, Walter Fontana, que o antecedeu na presidência da Sadia. A terceira, a fusão com a Perdigão, com uma troca de ações entre as duas empresas. A quarta, o ingresso dessa nova empresa no Novo Mercado da Bovespa.

Furlan não confirmou a existência desse plano, mas também não negou. Num diálogo recheado de metáforas, inclusive futebolísticas (como costuma fazer seu exchefe, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva), o ex-ministro desconversou: ”É uma história interessante. Nós temos sidos bombardeados por esses tipos de elucubrações”, disse. ”A Sadia não tem compromisso com ninguém. Compromisso é compromisso, conversa é conversa. Jogo é jogo, treino é treino.” Ele admite que será necessário um processo de capitalização no grupo. ”Como isso vai ser feito, ainda não sabemos”, afirma.

Afetada pelos derivativos, a Sadia busca um sócio que traga R$ 2 bilhões e banque a saída de alguns acionistas
No início desta semana, representantes da Sadia voltam a se encontrar com diretores do BNDES, no Rio de Janeiro, para discutir o desenho da organização. A operação é complexa porque exige, efetivamente, que cada uma das etapas seja cumprida de forma precisa. Embora a Sadia seja maior do que a Perdigão, a segunda, que não derrapou na crise dos derivativos, vale mais.

O valor de mercado da Sadia é de R$ 2,6 bilhões, enquanto as ações da Perdigão valem cerca de R$ 6,4 bilhões. Numa lógica simples de mercado, o natural seria uma aquisição pura e simples, com a empresa mais valiosa engolindo a mais fragilizada. Mas esse não é um caminho viável. E é por isso que o plano da Sadia tem como premissa inicial a valorização da posição de controle da própria Sadia. Seria então necessário realizar uma capitalização da ordem de R$ 2 bilhões.

A injeção se dará por meio da compra de lotes de ações ordinárias da Sadia por um valor superior à cotação atual – de R$ 4,74, na quinta-feira 5. Estima-se que pouco mais de 25% dos R$ 2 bilhões seriam usados para a compra das participações de parte da família Fontana. ”Essa operação, inclusive a fusão com a Perdigão ou com outra empresa do setor de alimentos, só será viável se antes houver uma reorganização societária dentro da própria Sadia”, confirma Rafael Weber, da Geração Futuro. Os outros 75% do aporte ajudariam a resolver o problema financeiro da empresa. O saneamento ainda contaria com a venda de ativos imobiliários e de parte (ou até a totalidade) do Banco Concórdia, controlado pela Sadia.