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Frigorífico Independência entra com pedido de recuperação judicial

Pedido foi protocolado na última sexta-feira, na comarca de Cajamar (SP). Empresa afirma que manterá as atividades.

Redação (03/03/2009)- Um dia após anunciar suspensão temporária dos abates em todas as suas unidades espalhadas pelo País, o frigorífico Independência, entrou com pedido de recuperação judicial na comarca de Cajamar (SP). O pedido foi protocolado na última sexta-feira. Estava marcada para ontem uma reunião para informar ao mercado a real situação das operações da companhia. Das 19 unidades no Brasil, sendo uma no Paraguai, apenas onze abatem bovinos e desse volume, 54,54% delas estão localizadas em Mato Grosso e desde a última quinta-feira, interromperam as atividades.

As indústrias inoperantes no Estado estão localizadas nas cidades de Confresa, Colíder, Pontes e Lacerda, Nova Xavantina e Juína. A parada tira diariamente de circulação das escalas de abate cerca de quatro mil bois/dia e aproximadamente R$ 5 milhões da economia estadual, apenas com a venda direta dos bois.

Somente em Mato Grosso, da metade do ano passado até agora, 14 dos 37 frigoríficos mato-grossenses que exportam e compartilham o mercado nacional de bovinos fecharam as portas. Entre os grandes do segmento, além do Independência, passa por problemas o Grupo Arantes, como o Diário informa na página C2.

Em nota oficial divulgada ontem, a empresa diz que "à luz das mudanças materiais adversas nos mercados global e brasileiro de carne bovina, a contínua volatilidade e turbulência nos mercados financeiros do Brasil e do mundo, e com o objetivo de preservar o caixa necessário para dar continuidade às suas operações, a Companhia recorreu à proteção judicial", diz trecho.

Em sua primeira manifestação oficial desde a última quinta-feira, a empresa disse que seus negócios sofreram a influência negativa da queda da demanda internacional. Além disso, a retração dos preços externos, a falta de liquidez que impediu o rolamento de linhas de financiamento, o nível elevado de inadimplência e a renegociação de contratos de venda também tiveram grande impacto no negócio do frigorífico.

Na nota, o Independência disse que dará continuidade às suas atividades e manterá suas relações comerciais com seus clientes e fornecedores. De qualquer forma, a empresa irá apresentar em 60 dias, a contar da decisão da Justiça em conceder a recuperação, um plano de reorganização perante seus credores. "O plano irá detalhar as providências a serem tomadas de forma a permitir que a companhia endireitar sua atual situação financeira, de forma a viabilizar a continuidade de seus negócios e satisfação dos interesses comuns de todas as partes envolvidas", diz a nota.

Até a noite de sexta-feira, o Independência tentava negociar junto ao Bando Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) a liberação da segunda parcela do aporte anunciado pelo banco em novembro do ano passado. Fontes informaram que a direção da empresa chegou a se reunir com o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, para tentar viabilizar a liberação, o que aparentemente, não aconteceu. Em novembro, o banco estatal de fomento aplicou R$ 250 milhões no frigorífico e outra parcela de R$ 200 milhões deveria ser liberada.

CAUTELA – Diante deste novo cenário da cadeia pecuária estadual, a Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), pede cautela e atenção aos pecuaristas. “Foi uma desagradável surpresa quando soubemos da paralisação. Isso é reflexo da crise internacional e do baixo consumo interno de carne. A situação tem se agravado nos últimos 90 dias”, observou o presidente da Acrimat, Mário Candia. Ele completa dizendo que o mercado internacional está comprando com um prazo maior, que chega a 70 dias, e as plantas não tem crédito para suportar essas condições.

Para Cândia, o governo federal tem de se posicionar nesse momento delicado e “liberar uma linha de crédito para a recuperação dos frigoríficos evitando assim, só em Mato Grosso, a demissão de 15 mil pessoas. Enquanto isso o produtor tem que ter muita cautela, pois a única forma segura é vender o boi com pagamento à vista. É melhor deixar o boi no pasto do que correr o risco de não receber, pois não temos nenhuma segurança”.

Segundo o assessor jurídico da Acrimat, Armando Biancardini, “o pecuarista tem que ficar atento ao edital para se habitar na recuperação de crédito, manifestando sua posição quanto ao PVE (Plano de Viabilidade Econômica). Se os pecuaristas não aceitarem a proposta do PVE será decretada a falência do frigorífico e aberto um processo que não tem prazo para encerrar”.