Redação (27/03/2009) – Com a redução no uso de insumos na última safra, devido a forte aceleração nos custos de produção, especialmente de fertilizantes, aumentou a incidência do plantio direto e a utilização de sementes geneticamente modificadas. Na safra atual, o percentual da área plantada com soja transgênica aumentou em todas as regiões do País e a média brasileira evoluiu de 49,6% para 58,2%. O percentual de milho transgênico (Bt), plantado pela primeira vez no Brasil, foi de 1,5%, chegando a 6,4% na Região Centro-Oeste, segundo dados da Agroconsult, que realiza o Rally da Safra.
De acordo com André Pessoa, diretor da Agroconsult, o volume de milho geneticamente modificado só não foi maior porque não houve tempo de as empresas do segmento oferecerem as sementes a tempo do plantio na safra de verão. "Para a safrinha estamos estimando cerca de 30% de milho transgênico, um resultado surpreendente", avalia. Segundo ele, a curva de adesão à tecnologia em milho será muito mais rápida e acentuada que a da soja que demorou quase uma década para chegar a 60% da lavoura. "Acredito que na próxima safra cheia o plantio de milho transgênico possa chegar a 40%, 50%", afirma.
A opção pelo uso da tecnologia deve contribuir ainda para que a redução da safrinha de milho seja bem menor que a inicialmente estimada. O acesso ao seguro agrícola, nas regiões onde houve quebra da safra de soja, e preços melhores para grãos com a alta do dólar, fizeram com que a expectativa para a retração da área da safrinha recuasse de 20% (previsão feita em novembro) para apenas 2% atualmente.
De forma geral a avaliação da Agrocunsult é a de que o desempenho da safra de grãos irá reduzir os efeitos da crise na agricultura mesmo com a queda de produtividade. "O resultado qualitativo traz um alívio, tendo em vista a economia no uso de insumos e, em termos de rentabilidade, graças a alta da soja, influenciada pela seca na Argentina, e a valorização do câmbio a redução da safra não foi a esperada", diz Pessoa.
Ainda assim, o estudo aponta para uma redução significativa da produção, muito em função do aumento do plantio direto que gerou um desgaste no solo. A produtividade nesta safra está estimada em 44,5 sacas por hectare, contra 46,9 sacas colhidas na safra anterior. A ocorrência de plantio direto, por sua vez, aumentou 10 pontos percentuais, de 62,2% para 72,1%, na média brasileira. A região Sul teve uma incidência deste tipo plantio surpreendente, saindo de 40,5% em 2007/2008 para 80,9% na safra corrente.
Mesmo com a queda da produtividade, o resultado neste ano será melhor que o esperado quando o plantio foi realizado. A quebra em função de problemas climáticos foi menor do que se estimava e a colheita está coincidindo com preços melhores. No Mato Grosso, a estimativa é a de um lucro de R$ 300 por hectare, aproximadamente. "O ânimo dos produtores com a colheita atual é outro. Começamos a afastar do setor a palavra crise", avalia Pessoa.
A análise de que a soja não sofre tanto com a crise é compartilhada por Carlo Lovatelli, presidente da Associação Brasileira de Agribusiness (Abag). "As exportações de soja do Brasil estão indo bem, em termos de volumes. E em reais, estão iguais às do ano passado", afirma. Observando os fundamentos é possível prever que os preços se sustentem no longo prazo. A produção mundial de grãos deve cair 3% na safra 2008/2009, para 1,725 bilhão de toneladas, segundo estimativa do Conselho Internacional de Grãos (IGC, na sigla em inglês). A queda é resultado da perda de área para oleaginosas e da desaceleração na demanda para ração animal.