Redação (27/03/2009) – Escaldados depois de uma safra em que tradings exportadoras de grãos restringiram o crédito para plantio de soja no Brasil, produtores avaliam com cautela a próxima temporada, a 2009/10, que será semeada entre os meses de setembro e dezembro, dependendo da região do país.
Na área do chamado Mapito (Maranhão, Piauí e Tocantins), até poucos anos considerada uma nova fronteira agrícola, produtores ouvidos pelo Valor durante o Rally da Safra, indicaram que a tendência, de uma maneira geral, é manter a área de plantio, pois há temor de que o crédito se mantenha escasso.
Além disso, para plantar a atual safra, boa parte dos produtores teve que gastar mais recursos próprios do que em anos anteriores, como mostrou estudo da consultoria Agroconsult. E há possibilidade de que isso volte a ocorrer, já que a crise financeira internacional, razão para a seca de crédito, persiste e ninguém sabe quando vai acabar.
Henrique Esser, paranaense, que planta soja e milho na região conhecida como Batavo, em Balsas, no sul do Maranhão, disse que teve de gastar mais do próprio bolso em 2008/09 por causa do aumento dos custos de produção. O agricultor, que chegou à região em 1995 e arrenda 2.150 hectares para plantio, diz que não pretende ampliar a área na próxima safra. E explica a cautela por conta das incertezas da economia mundial.
Esser tem área própria em Balsas, mas prefere arrendar "porque abrir [novas áreas] é caro". E gastar mais é tudo os que os produtores não querem num momento de custos já elevados.
De acordo com Oswaldo Massao, há 22 anos em Balsas, os custos para plantar a atual safra na região foram 40% a 45% superiores aos do ciclo 2007/08. Massao, que faz integração lavoura-pecuária, não pretende abrir novas áreas para ampliar o plantio em 2009/10. Desde 2007/08, semeia 5 mil hectares de soja e 1 mil hectares de milho.
Nesta safra, declara Massao, "o sacrifício foi maior" e foi necessário usar mais recursos próprios. Em 2007/08, 15% do que gastou para plantar saíram do seu próprio caixa – nesta safra foram 25%, afirma o produtor.
As queixas sobre os custos – afetados pela variação cambial nesta safra – são unânimes entre os produtores. Amilton Bortolozzo, da Canel, em Uruçuí (PI), explica que houve um descasamento de preços entre insumos e soja. "Compramos insumo alto, na hora em que fomos pegar o insumo, a soja baixou e o dólar estourou", relata.
Segundo Bortolozzo, a Canel conseguiu "trabalhar 30% da soja" da safra 2008/09 com preço mais alto na Bolsa de Chicago, em junho e julho do ano passado, até o momento em que as tradings se retraíram. Naqueles meses foi possível fechar contratos a US$ 27,00 a saca, diz. Hoje, a soja (segunda posição) está cotada a US$ 20,73 na bolsa americana.
Na Canel, a área de soja – de 12.500 hectares, sendo 80% de grão transgênico – deve ser mantida no próximo plantio (ver mais em matéria acima). O paulista Amilton Bortolozzo avalia que o crédito continuará escasso, mas aposta no "parceria" longa com a Bunge, que tem esmagadora em Uruçuí, e que tem financiado parte de sua produção.
Um grande produtor da região de Balsas, que preferiu não se identificar, disse que a falta de crédito impedirá o avanço da área plantada na região.
Nem mesmo grupos com capital internacional que investiram em grandes arrendamentos na região foram poupadas da seca no crédito para plantio e, na última hora, desistiram de plantar na safra 2008/09.