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22 de março: Dia Mundial da Água

<p>Veja aqui as reflexões do engenheiro agrônomo e superintendente regional do Incra/SP, Raimundo Pires Silva, sobre o uso da água na agricultura e como podemos diminuir o seu desperdício com os Dez Mandamentos da Economia da Água.</p>

Redação (22/03/07) – A história do Brasil tem sido marcada pela transformação de seus recursos naturais em mercadorias, quase sempre em prejuízo do povo brasileiro. Agora, no momento em que o mundo discute possíveis cenários de escassez de água no futuro, grandes corporações multinacionais se apresentam como portadoras da solução. Mas é o poder público quem dispõe dos mecanismos mais eficazes para garantir não só a gestão dos recursos hídricos, como a sua democratização. A reforma agrária pode ser um desses mecanismos. Esta é a reflexão que propomos neste Dia Mundial da Água (22 de março).

Água virtual

Enquanto o Brasil, por meio do comércio agrícola, exporta a chamada “água virtual”, aquela utilizada nos processos produtivos, cerca de 20% da população não tem acesso à água potável. O consumo humano responde por pouco mais de um terço da água utilizada no País. O restante é utilizado pela agricultura e pela indústria, sendo que só a irrigação consome 46% do total. O mais grave é que, no modelo agrícola hegemônico hoje em dia, o agronegócio exportador, os métodos de irrigação adotados são os menos eficientes. Na aspersão por pivô central, por exemplo, o desperdício chega a 70%. Boa parte da água utilizada simplesmente evapora sem ser absorvida pelas plantas.

Sabe-se, ainda, que para produzir uma tonelada de grãos são necessárias mil toneladas de água. É dessa forma que o comércio agrícola é responsável por uma gigantesca transferência de água virtual de um país para outro. Por exemplo: para produzir as 18 milhões de toneladas de soja compradas pela China em 2004, os países exportadores utilizaram 45 milhões de metros cúbicos de água, quase dois terços do total utilizado no consumo humano no mundo inteiro. Segundo a Unesco, o Brasil é o décimo exportador mundial de água virtual. Somado ao fato de que o País é detentor de 12% da água doce superficial do planeta, é inadmissível que possua uma população excluída do acesso à água. E mais inadmissível ainda é a perspectiva de acirramento dessa exclusão pela pura e simples má utilização.

A gestão responsável dos recursos hídricos passa hoje, inevitavelmente, pela política agrícola e pela reforma agrária. Se o desafio que se impõe mundialmente é garantir o abastecimento de água para as gerações futuras, o Brasil deve enfrentar o desafio de garantir a justa distribuição já para as gerações atuais, colocando o caráter público dos recursos hídricos à frente de sua apropriação privada.

por Raimundo Pires Silva é Engenheiro Agrônomo, Mestre em Desenvolvimento Econômico, Espaço e Meio Ambiente pela Unicamp e Superintendente Regional do Incra-SP.

 

Dez Mandamentos da Economia de Água  

O brasileiro gasta, em média, cinco vezes mais água do que o volume indicado como suficiente pela Organização Mundial da Saúde (OMS) – a organização recomenda o consumo diário de 40 litros diários por pessoa, enquanto no Brasil são consumidos 200 litros dia/pessoa, em média.

O problema da falta água vem se agravando ano a ano nas principais metrópoles brasileiras, apesar de vivermos no território mais rico em água doce do mundo, detentor de 12% das reservas do planeta. O sentimento de ter água em abundância dá, à maioria dos brasileiros, uma sensação de que a água doce nunca vai acabar. "A cultura do desperdício levou o país a uma condição preocupante. Faltará água nas torneiras se a população não tomar consciência", afirma o engenheiro Carlos Lemos da Costa, consultor especialista em Uso Racional da Água.

Tecnologia e atitude

De acordo com o consultor, existem basicamente duas formas de economizar água: com tecnologia e atitude. A atitude não custa nada, ao contrário, permite economizar recursos que podem pagar a adoção de tecnologia, que aumenta a economia. "O que pretendemos com esta ação é conscientizar o maior número de pessoas com informações do quanto uma mudança de atitudes no seu cotidiano pode colaborar com a economia de água", diz Costa.

O grande vilão

Um dos principais vilões do desperdício é a bacia sanitária. Uma residência com quatro pessoas aciona a descarga sanitária em média 16 vezes ao dia. A conta revela uma economia de 11.560 por mês, ou o equivalente à redução de 80% no consumo de água nas descargas sanitárias.

Bacias de 30 litros  Desacargas   litros/dia  litros/mês   m3/mês  Gastos  Economia
                           
16 vezes/dia     480     14.400        14,4      R$46,00       80%

Bacias de 6 litros    Desacargas   litros/dia  litros/mês  m3/mês   Gastos 
                           
16 vezes/dia     96       2.880          2,88      R$9,22

Carlos Costa lembra ainda que a água utilizada para a descarga nos vasos sanitários é a mesma água tratada e potável, proveniente da rede pública de abastecimento, e cuja destinação deveria servir a finalidades mais nobres, para as quais é imprescindível o uso de água tratada e dentro dos padrões internacionalmente estabelecidos.

Veja como coisas simples podem ajudá-lo a reduzir o consumo:

1) Reduza o volume de água de sua bacia sanitária;

2) Feche a torneira quando for escovar os dentes ou fazer a barba e economize até mil litros de água por mês;

3) Tente tomar banhos de 5 minutos e, se possível, feche a torneira enquanto se ensaboa. A cada minuto, mais 20 litros de água vão embora pelo ralo;

4) Reduza o seu tempo de banho em 1 ou 2 minutos e você economizará até 540 litros de água por mês; se o seu chuveiro enche um vasilhame de 5 litros em menos de 15 segundos, troque o seu aparelho por um mais eficiente;

5) Deixe os talheres e pratos de molho dentro da pia antes de lavar. E não deixe a torneira aberta enquanto os ensaboa. Você estará economizando 100 litros de água!

6) Coloque a funcionar sua máquina de lavar louças ou roupas quando estiverem cheias. Você pode economizar 3.600 litros de água por mês;
7) Use balde em vez de mangueira para lavar o carro;

8) Jamais use água para varrer a calçada! Saber utilizá-la com moderação é uma questão de educação;

9) Não regue as plantas nas horas quentes do dia. A água evapora antes mesmo de atingir as raízes;

10) Esteja atento a vazamentos! Uma torneira pingando consome 46 litros de água por dia e, num mês, 1.380 litros! Canos furados e vazamentos em vasos sanitários também são grandes prejuízos.