É anátema, para o governo, a possibilidade de racionar energia elétrica nos próximos meses, mas os técnicos do setor alertam: ainda que as chuvas de fevereiro persistam em março e em abril, será difícil de recuperar o nível dos reservatórios das hidrelétricas que atendem a Região Sudeste. O abastecimento dependerá de termoelétricas, muitas em situação precária.
Nem só os técnicos temem os cortes de energia – a população percebe que, sem água para o abastecimento, a geração de energia fica ameaçada. Pesquisa do Datafolha revelou que 65% dos entrevistados apoiam a “adoção imediata” de restrições ao fornecimento de luz.
As autoridades protelam decisões sobre o tema, mas o ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, admite que o governo poderá fazer campanha de racionalização do consumo. O governo já recuou quanto a estender o horário de verão, que termina sábado. Uma hora a mais de luz natural, segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), poderia reduzir a demanda em 2.065 MW no Sudeste/Centro-Oeste (-4,6%) e em 630 MW no Sul (-5%).
O risco é postergar um programa amplo de racionalização do consumo, abrangendo residências, indústria e comércio. E bastaria pôr em prática o que já existe, como o Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica (Procel), de 1985.
Hoje, o Procel é mais lembrado pelo selo de economia de energia, de 1993, colocado em eletrodomésticos para atestar que geladeiras e máquinas de lavar, por exemplo, foram fabricadas com vistas à eficiência energética. O programa estimulou a troca de lâmpadas usadas na iluminação pública. Em São Paulo, prevê-se trocar, em cinco anos, 580 mil lâmpadas de vapor de sódio por iluminação em LED.
Mais do que isso, o Procel visa a baixar o nível de perda e desperdício de eletricidade, ainda muito elevado – chega a 40 milhões de kW, ao custo anual de US$ 2,8 bilhões, calcula o Ministério do Meio Ambiente. Indústrias, residências e comércio desperdiçam 22 milhões de kW. As concessionárias de energia têm perdas técnicas e problemas na distribuição responsáveis por 18 milhões de kW.
Além de induzir o consumidor residencial a poupar energia, o programa deveria estimular a racionalização energética, principalmente por parte da indústria, para elevar sua competitividade. Equipamentos que consomem menos energia e água reduzem custos e têm menor impacto ambiental.