Fundada em 1955, sendo seu primeiro presidente o industrial e criador R. Afonso Augustin, a entidade paradoxalmente deu seus primeiros passos em ambiente adverso a seus objetivos. Isto porque o pequeno núcleo de produtores que lhe deu apoio era formado, em sua maioria, por agricultores tendo a criação de suínos como uma atividade econômica, se não secundária, mas diluída no conjunto de trabalhos da multiatividade que os agricultores familiares exerciam na época. Os produtores tinham, assim, uma limitada participação associativa.
Por outro lado a indústria ainda não tinha despertado para a relevância do porco-carne. Isso contrastava com a suinocultura dos países mais adiantados no setor – Dinamarca, Reino Unido, Holanda, Canadá, USDA, França e outros – tendo o Brasil o quarto rebanho porcino em número, com cerca de 54 milhões de cabeças, abaixo da China, 180 milhões, URSS, 70 milhões e USA, 59 milhões. Com esse enorme rebanho, tinha o ridículo desfrute de 15%, enquanto os países antes citados tinham desfrutes de 182% (Reino Unido) a 108% (França)! Mesmo a Argentina já desfrutava de 58% de seu rebanho porcino.
Esses países com altos desempenhos produtivos já trabalhavam com o porco-carne e, por isso, tinham excedentes de banha…(Note-se que na época, mesmo nesses países, os suínos-carne não tinham as carcaças com as composições atuais). Esse aparente paradoxo se explica porque, enquanto no Brasil necessitava de 18 a 20 meses para levar o suíno ao abate, aqueles países produziam um animal de 100 kg aos 6-7 meses de idade. Assim, produzindo um suíno com menos gordura, mas também com menos idade, mais prolífero e muito maior precocidade, pelo volume produziam o excedente de gordura.·.
Paralelamente, expandia-se a indústria de óleos vegetais onde, com apenas quatro meses se obtinha a gordura básica para a culinária. Como tem acontecido na história dos povos, não faltou uma sutil e insidiosa campanha contra a banha suína, com a propaganda de que a banha era nociva à saúde humana! Hoje a ciência tem demonstrado a falsidade dessa afirmação e, um bom cozinheiro (a) não dispensa a banha no preparo de suas iguarias (isto sem falar nos óleos vegetais extraídos de grãos transgênicos….)
Nesse ambiente, a ABCS trabalhava com dois objetivos: com os produtores para evoluírem para o porco-carne e, com a indústria reivindicando melhor tratamento aos produtores. Nessa perspectiva os criadores passaram a se preocupar com o melhoramento zootécnico de seus animais. Havia igualmente, certa preocupação oficial pelo melhoramento do rebanho suinícola nacional. No Rio Grande do Sul, o “Posto Zootécnico das Colônias”, em Montenegro, e seu equivalente em Tupanciretã, ambos da Secretaria da Agricultura, distribuíam reprodutores das raças Duroc Jersey, Hampshire, Berkshire, Large Black, Polland China e Ladschwein. Igual trabalho era desenvolvido em outros estados, destacando-se o da Estação de Sertãozinho, do Ministério de Agricultura, em São Carlos, SP, sob a competente direção de Teixeira Vianna, trabalhando meritoriamente, em especial, com as raças nacionais.
Para divulgar a necessidade do melhoramento zootécnico do rebanho a ABCS promove exposições em vários estados, iniciativa que incorporou a suinocultura no contexto da pecuária nacional. A esses certames concorriam os melhores criadores, em sua maioria descendentes de colonos alemães e italianos. Menciono dois, representado todos do RS, SC, PR, SP, MG e CE, que não só participavam das exposições como tinham uma fecunda atividade associativa: Reinaldo Migliavacca, de Casca, e Leopoldo Lagemann, de Lajeado, ambos no RS. Registro, por necessário, a participação de dois grupos de SC: Fontana e Brandalise.
Com sede em Estrela, interior do RS, de início a ABCS teve pouca expressão nacional, embora fosse uma entidade brasileira. Em razão disso, sentimos a necessidade de ampliar sua área de ação e promovemos a criação de associações estaduais, ao que prontamente responderam SC, RS, PR, SP e MG. Assim a ABCS foi se consolidando em todo o país e os passos futuros foram a preocupação com o melhoramento zootécnico, o que aconteceu com a transformação do porco-banha em porco-carne; com a criação do Pig Book Brasileiro; das estações de avaliação; do block-test de carcaças suínas; a publicação da revista Suinocultura (1959) e, naturalmente, com uma permanente ação política em defesa dos interesses dos suinocultores. LCPM.