“Os produtores estão quebrando”, assim começou o discurso do presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Suínos (ABCS), Marcelo Lopes, ontem (29) em audiência pública na Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural da Câmara dos Deputados. O momento complicado enfrentado pelos produtores brasileiros de carne suína e o embargo russo a 85 frigoríficos dos Estados de Mato Grosso, Rio Grande do Sul e Paraná, reuniu para discussão associações estaduais de criadores, representantes do governo e mais de 30 deputados. O encontro, proposto pelos deputados Bohn Gass (PT-RS) e Onyx Lorenzoni (DEM-RS), buscou não só esclarecer o motivo do embargo da Rússia à importação de carne, mas também encontrar soluções para crise por que passa a atividade.
Junto das associações estaduais, a ABCS apresentou dados referentes ao prejuízo pago pelo produtor nos últimos três meses, que hoje já somam mais de R$ 1 bilhão e reforçou que embargo russo só vem agravar a crise dentro do setor. “Precisamos desatrelar essa crise do embargo russo, que passou a vigorar há apenas 10 dias. Nosso grande problema se encontra nos valores de comercialização do milho que atingiram índices desproporcionais à sustentabilidade do setor, aliado a um desequilíbrio entre oferta e demanda”, defendeu o presidente. O posicionamento da entidade foi ratificado pelo presidente da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs), Pedro de Camargo Neto, “vamos resolver a situação do embargo junto ao governo Russo e a crise irá permanecer no setor, por isso, precisamos enfrentar a questão de abastecimento de milho e alinhar a demanda interna”. Já o presidente da Associação Paulista dos Criadores de Suínos (APCS), Valdomiro Ferreira, atentou os presentes para as disparidades do preço pago ao produtor e os valores de venda no varejo. “Se o produtor está quebrando, os frigoríficos também não atingem suas margens de sustentabilidade e o preço na baixa na gôndola, alguém está lucrando com essa situação”, decretou.
A Companhia Nacional de Abastecimento, por meio do seu porta-voz o engenheiro agrônomo da gerência de oleaginosas e produtos pecuários, Tomé Guth, informou que irá priorizar o aumento de milho para venda balcão, em preços acessíveis, e também buscará ampliar o armazenamento do grão para o segundo semestre desse ano. Além disso, a Conab também se prontificou a levantar alternativas e novos instrumentos de política agrícola.
Para a maioria dos deputados o principal problema é a ausência de um plano de contingencia e um planejamento estratégico, “que resulta em um ônus que o suinocultor brasileiro não tem mais condições de arcar”, defendeu o deputado Onyx Lorenzoni. Segundo Francisco Turra, presidente da União Brasileira de Avicultura (Ubabef), é preciso intervenção direta do governo. “Somos responsáveis por salários, empregos, geramos renda que sustenta milhares de municípios. Não podemos ser marginalizados pelo governo de estado”. Respondendo a esse questionamento, Dr. Francisco Jardim, Secretário de Defesa Agropecuária do MAPA, apoiou uma das reivindicações mais importantes propostas pelos representantes da suinocultura presentes: a aquisição de carnes pelo governo e a formação de estoque. Outra definição é a presença do governo no desenvolvimento de campanhas de incentivo ao consumo da carne suína, buscando equilibrar imediatamente a oferta e demanda do produto no varejo. O deputado Ronaldo Caiado defendeu a necessidade imediata de renegociação das dívidas de custeio e investimentos dos produtores de suínos. “Há mais de 10 anos que há um incentivo efetivo para os produtores rurais. Vários setores como o automobilístico e tecnológico tiveram redução de impostos e incentivo do governo, enquanto a suinocultura que emprega mais de 1 milhão de pessoas está a mercê do mercado”, encerou.