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Entrevista

ABCS quer fortalecimento político

Marcelo Lopes assume pela primeira vez a presidência da entidade e buscará em sua gestão mais espaço para a suinocultura dentro do governo. Instaurar o PNDS em SP e MT também está em seus planos. Leia a entrevista.

No início deste mês, a Associação Brasileira dos Criadores de Suínos (ABCS) elegeu seu novo conselho para o biênio 2011/2013. O escolhido para ocupar a presidência da entidade neste período foi o suinocultor Marcelo Lopes, que assume pela primeira vez este cargo em um momento delicado da suinocultura nacional. O elevado patamar atual de preços de insumos – como milho e soja – e a desvalorização dos produtos suinícolas no mercado interno tem causado prejuízos ao produtor neste primeiro semestre de 2011. Ciente do problema, Lopes buscará aumentar o poder político da ABCS em sua gestão para combater momentos de crise como este. “Com isso, mais recursos governamentais poderão ser injetados no setor, que precisa de auxílio”, acredita o novo presidente da ABCS. Segundo Lopes, o grande foco de seu mandato será a participação política da ABCS junto ao governo brasileiro. “Precisamos fortalecer a entidade politicamente para sermos, de fato, a voz do suinocultor em Brasília”, enfatiza o novo líder da entidade suinícola. 

Outras ações destacadas por Lopes são os trabalhos realizados pela gestão anterior, como a expansão do Programa Nacional de Desenvolvimento da Suinocultura (PNDS) e a execução programas de produção sustentável, que serão continuados segundo ele. “Muito se tem feito a favor do crescimento da suinocultura brasileira, mas é preciso avançar mais”, diz o presidente da ABCS. 

Os objetivos, os desafios e as propostas de Marcelo Lopes frente à ABCS foram destacados em entrevista concedida à Suinocultura Industrial. Lopes comenta também a situação econômica da suinocultura nacional. Leia a seguir.

Suinocultura Industrial- A antiga diretoria acaba de encerrar seu ciclo à frente da ABCS. Que avaliação o senhor faz do trabalho da entidade nesse período?

Marcelo Lopes – Foi um trabalho muito positivo do ponto de vista de mercado interno. A ABCS fortaleceu muito o PNDS. Conseguimos levar o programa para nove estados e o fortalecemos junto ao mercado. A proposta inicial da gestão anterior foi exatamente fortalecer o PNDS. Foi mostrar ao grande público a nova cara da carne suína, a qualidade e as propriedades nutricionais de nosso produto. Conseguimos êxito neste ponto, o trabalho da antiga gestão foi muito positivo. A execução programas de produção sustentável também se destacou no período. 

SI- O senhor assume a liderança da ABCS pela primeira vez. Qual o significado desta eleição para o senhor?

ML- Para mim esta liderança é muito importante. Eu acho que a ABCS tem um papel fundamental na vida dos suinocultores e na produção suinícola. Nós que somos produtores, que batalhamos no dia a dia, precisamos de uma entidade forte politicamente. A ABCS significa exatamente isso. Estar aqui e ser a voz do produtor junto ao poder executivo , legislativo e judiciário é muito importante para mim. 

SI- O que muda na ABCS sob sua gestão?

ML- O que muda é um pouco do foco. Na verdade não muda. Nós vamos abrir uma linha paralela. Além de fortalecer ainda mais o PNDS, a nossa entrada aqui na ABCS buscará aumentar o poder político da associação, ou seja, fazer com que o produtor seja ouvido aqui em Brasília. A parte administrativa da entidade já está na capital brasileira. Vamos trabalhar muito forte a parte política da ABCS. Buscaremos mais recursos e facilidades para melhorar os ganhos do produtor. 

SI-  Em sua opinião, quais serão seus principais desafios neste mandato? 

ML- Eu acho que o principal desafio será instaurar o PNDS nos estados que ainda não possuem o programa, que seriam São Paulo e Mato Grosso. Talvez possamos incluir o Rio de Janeiro e outros estados com grande consumo de carne suína. E também, como eu disse, queremos fortalecer a ABCS politicamente. Temos que fazer o produtor ser ouvido. Então, o fortalecimento político da entidade e a expansão do PNDS nos estados de maior consumo que ainda não aderiram ao programa são nossos principais objetivos. 

SI- Quais o principais obstáculos que devem ser superados para atingir estes objetivos? 

ML- Estamos vivendo um período de crise muito ruim, muito difícil. Do ponto de vista do PNDS, sem dúvida enfrentamos problemas com a obtenção de recursos. Estamos levantando o capital e as entidades estaduais também devem atuar para conseguirmos mais verba. Precisamos executar com ainda mais sucesso o programa nacional da ABCS. Do ponto de vista político, o trabalho do dia a dia aqui na associação é o nosso maior desafio. Por exemplo, a ABCS já tem um envolvimento político com algumas entidades ligadas ao agronegócio brasileiro, mas estamos trabalhando para aumentar estas parcerias e buscar fortalecer a nossa entidade. 

SI- A chapa que compõe a atual diretoria da ABCS não conta com a participação da Associação Catarinense de Criadores de Suínos (ACCS) e da Associação Brasileira de Criadores de Suínos (APCS). Como será o relacionamento da ABCS com essas entidades nos próximos dois anos?  

ML- Elas não constam, mas as duas entidades fazem parte do conselho da ABCS. Elas só não fazem parte da diretoria. Eu tenho certeza que o relacionamento será o melhor possível. Estas entidades não foram para a diretoria por opção. Nós fizemos o convite. Enfim, o que vamos fazer daqui pra frente é tentar unir todos os produtores, termos “voz única”. Ou seja, todas as associações serão atendidas da mesma forma. Inclusive, nesse período de crise que estamos vivendo, as entidades – incluindo a ACCS e APCS – são acionadas diariamente pela ABCS para que nos mandem as demandas e os problemas. Essa conversa será igual com todas as associações.

Economia  

SI- Qual a atual situação da suinocultura brasileira?  

ML- É grave. É uma situação que no meu ponto de vista não termina em um prazo pequeno. Os insumos estão muito caros e a previsão é permanecer desta forma até o final do ano. Então, temos que reverter estes bloqueios às exportações, como o da Rússia e Ucrânia, junto ao governo e buscar fortalecer o mercado interno. Com os preços que estamos trabalhamos hoje, a suinocultura não sobrevive muito tempo. Isso não podemos admitir. 

SI- Tendo o preço das commodities, como milho e soja, como pano de fundo, quais são as perspectivas para a suinocultura em 2011 sob o ponto de vista do produtor? 

ML- Pelo menos nos próximos 60 dias as perspectivas não estão boas. Tenho informações de que os preços das commodities vão continuar altos. Então, precisamos reverter logo as barreiras comerciais para termos um viés de melhora. A reabertura comercial melhorará até o estado psicológico do setor. Acredito também que a abertura da China para a carne suína brasileira dará um maior fôlego para o suinocultor. 

SI- O senhor acredita que o resultado da suinocultura industrial até o final do ano será positivo? 

ML- Eu acredito que sim. Os custos continuarão altos, mas as perspectivas para o final do ano, onde você tem o aumento do consumo, é boa. Espero que os problemas de exportações sejam resolvidos até lá para finalizarmos 2011 de uma maneira bem positiva. Pelo menos estamos trabalhando para isso. 

SI- A entidade planeja alguma ação junto com a Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs) para enfrentar os problemas atuais? 

ML- Olha, nós conversamos sempre com a Abipecs. A Abipecs é nossa parceira. Não temos nada de concreto, mas o diálogo está aberto e naquilo que for possível, nós vamos ajudar. Inclusive, logo que eu assumi a ABCS já contatei o presidente da entidade, Pedro de Camargo Neto. Devo me encontrar com ele agora em julho para poder estreitar as relações e ver o que pode ser feito para benefício dos produtores brasileiros.