Acervo com mais de 340 mil documentos que contam a história da sanidade agropecuária paulista e brasileira estão sendo resgatados pelo Instituto Biológico da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios, órgão da Secretaria de Agricultura e Abastecimento (IB/Apta/SAA), por meio de seu Centro de Memória. Os documentos vão desde o final do século 19, permeiam todo o século 20 e chegam ao século 21. A sistematização e disponibilização do material conta com recursos do Tesouro do Estado e da Fundação de Amparo à Pesquisa (Fapesp).
Parte do acervo é composta por 260 mil documentos textuais sobre pesquisas científicas, as campanhas sanitárias da área animal e fitossanitárias (área vegetal), a vida de cientistas e as conquistas adquiridas no dia-a-dia de suas pesquisas, anotações de trabalhos realizados no exterior que identificaram o Brasil como um dos marcos na pesquisa científica no século 20.
Inclui, ainda, originais de documentos particulares que falam sobre a fé e confiança que tinham em um Brasil melhor, correspondências entre pesquisadores e escritores, como, por exemplo, o caso de Arthur Neiva com Monteiro Lobato, e uma grande quantidade de correspondências entre pesquisadores do IB e do mundo inteiro e artigos em jornais com toda a pesquisa que era realizada no Brasil e no exterior.
O acerto reúne, também, 60 mil fotografias e 17 mil negativos em vidro e mil negativos estereoscópicos, de cientistas, laboratórios, plantas e animais com as mais diversas patologias, insetos, experimentos, além de três mil documentos sobre a arquitetura do prédio principal.
Os conteúdos dos documentos estão presentes em algumas publicações, relata a pesquisadora Márcia Rebouças.
“Mas o acervo inédito de documentos textuais e iconográficos guardados no Centro é inigualável, pois são provas e testemunhos únicos do desenvolvimento científico e cultural de um período da história da Ciência, em São Paulo e no Brasil”, afirma a pesquisadora.
Entre os documentos, Márcia cita como exemplo o que faz referência ao “Gafanhoto”, nome dado por Henrique da Rocha Lima, então diretor da instituição, ao avião utilizado no combate às nuvens de gafanhotos.
“Era um Paulistinha, oferecido ao IB pela Campanha Nacional de Aviação. A aviadora Ada Rogatto, funcionária do instituto, grande conhecedora dos segredos da aviação e do paraquedismo, foi indicada para manejar a revolucionária “máquina agrícola”, relata.
Vários outros documentos são apresentados, trazendo informações sobre os estudos pioneiros das saúvas, com destaque para o primeiro formigueiro artificial construído em laboratório por Mario Autuori, além de documentos sobre a leprose da laranja, pragas do algodão, carvão da cana, tristeza dos citros, cancro cítrico, aftosa, doença de aujeszky, brucelose, doença das aves, tuberculose e raiva, entre outros.
Aberto a consultas, o IB atende estudantes universitários e profissionais de diferentes áreas de ciências agrárias, história, jornalismo, medicina e arquitetura (o instituto é um prédio art decó e possui importantes documentos nessa área do conhecimento). O acervo é também consultado por alunos de pós-graduação para a realização de teses, além de historiadores e pesquisadores de várias partes do Brasil.
“Isso demonstra o quanto é importante para o conhecimento científico o restauro e a disponibilização de documentos institucionais para a cultura de nosso País”, conclui Márcia.