As ações da BRF registraram fortes quedas nos dois primeiros dias desta semana, depois que a empresa anunciou que deverá investir US$ 500 milhões em uma joint venture na Arábia Saudita para ampliar os negócios no mercado halal ao mesmo tempo em que pioram as perspectivas para o consumo de alimentos processados no Brasil.
Na segunda-feira, a baixa dos papéis foi de 7.7%, e nesta terça-feira a retração chegou a 11,24%.
Na joint venture, a BRF GmbH, subsidiária integral da dona das marcas Sadia e Perdigão, terá participação de até 70%, enquanto a Halal Products Development Company (HPDC), braço do Public Investment Fund (PIF), fundo de investimento público da Arábia Saudita, ficará com a fatia restante e também arcará com uma parte dos aportes previstos.
O cenário para as vendas de produtos halal, fundamental para a companhia brasileira, é considerado positivo, mas diante dos problemas à vista no Brasil, o principal mercado da BRF, a carga de incertezas aumenta.
Como destacou o Pipeline, site de negócios do Valor, em relatório divulgado nesta terça-feira o J.P. Morgan fez um alerta sobre o consumo mais fraco de processado no mercado brasileiro, diante de um cenário de recuperação econômica instável, superabastecimento e preços em queda. Nesse contexto, o banco cortou o preço-alvo para BRF de R$ 16,5 para R$ 15 — nesta terça, o papel fechou a R$ 12,24.
O Citi também rebaixou a recomendação para BRF, de compra para neutra. Mas os analistas do banco veem possibilidade de melhora dos resultados diante de possíveis sinergias com a Marfrig, que recentemente se tornou a maior acionista da companhia, e passou a recomendar a compra de papéis da companhia controlada pelo empresário Marcos Molina.
Sinergias
“A Marfrig controla a BRF em nível de diretoria, mesmo com apenas 33% de participação econômica, e busca integrar as categorias de alimentos de marca e aves/suínos da BRF na eventual entidade totalmente fundida. Enquanto isso, eles poderiam compartilhar as melhores práticas especialmente para as exportações”, disse o banco, em nota distribuída a seus clientes.
“As sinergias de médio prazo incluem a diversificação em três proteínas, além de alimentos de marca, que lhes permitem competir com a JBS [que também é dona da Seara] e suavizar as oscilações de custos de bovinos/grãos. Além disso, a Marfrig ganha acesso a alimentos processados de marca e à perspectiva de crescimento global mais rápida da categoria frango em relação à carne bovina”, continuou o Citi.
Com a queda das ações, o valor de mercado da BRF encerrou esta terça-feira em R$ 13,2 bilhões. No auge, em 2015, o valor chegou a R$ 55,5 bilhões. Procurada pelo Valor, a empresa preferiu não comentar, mas no início da noite desta terça divulgou um comunicado ao mercado em resposta a questionamento da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) sobre as fortes quedas das ações.
“A companhia esclarece que não tem conhecimento de qualquer fato ou informação não pública que possa justificar as oscilações, mencionadas no ofício [enviado pela B3], com relação à cotação e ao volume de negociação das ações de sua emissão”, afirma o comunicado, assinado por Fabio Mariano, diretor vice-presidente financeiro e de relações com investidores da BRF.