Iniciativas de mitigação de emissões de gases de efeito estufa na agricultura e na pecuária têm potencial de reduzir as emissões de poluentes no mundo entre 3% e 7% até 2030, segundo um estudo do Centro de Investimentos da Agência da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) e do Banco Europeu de Reconstrução e Desenvolvimento (BERD), apresentado ontem na COP26, em Glasgow, na Escócia. A estimativa de redução considera os volumes registrados em 2020 como referência.
O benefício econômico da mitigação pode ficar entre US$ 60 bilhões e US$ 360 bilhões, de acordo com a FAO. Entram no cálculo os custos de oportunidade e as despesas de compensação caso nada seja feito.
Em uma estimativa mais abrangente, que também leva em consideração fatores como a restauração da biodiversidade perdida, o crescimento inclusivo e a melhora da saúde e da capacidade de nutrição, o benefício pode ir a US$ 5,7 trilhões até 2030. Segundo a FAO, o investimento necessário para mitigar as emissões no setor seria de US$ 300 milhões a US$ 500 milhões ao ano, montante que corresponde a menos de 0,5% do PIB global e que é que é bem menor que o retorno esperado. As iniciativas gerariam US$ 4,5 trilhões ao ano em novas oportunidades de negócio, diz a FAO.
O estudo lembrou que os sistemas agroalimentares são responsáveis por 21% a 37% de todas as emissões de gases de efeito estufa e também que os produtores rurais estão entre os grupos mais afetados pelas mudanças climáticas. Em outra pesquisa, também divulgada ontem, a FAO mostrou que as emissões de gases de efeito estufa na agricultura e na produção de alimentos aumentaram 17% nas últimas três décadas, o que reitera a importância da agropecuária no combate às mudanças climáticas.
Para os pesquisadores responsáveis pelo estudo sobre a mitigação, os países precisam adotar “abordagens institucionais inovadoras e tecnologias digitais para cortar os custos, particularmente porque muitos sistemas agroalimentares baseiam-se em cadeias de suprimento fragmentadas, incluindo grandes números de pequenos produtores”. Além disso, afirmam, ainda há desafios de governança na verificação da efetividade e confiabilidade dos diferentes estágios necessários para se alcançar a neutralidade em emissões de carbono.
O estudo reconhece que um número crescente de empresas do setor agroalimentar tem demonstrado interesse e planos de caminhar para a neutralidade de carbono. No entanto, diz o documento nem todas essas companhias estão interessadas ou podem bancar financiamento de pequenos produtores que trabalham em suas cadeias de suprimento para implementar práticas regenerativas de agropecuária.
Para FAO e BERD, algumas plataformas de mercado de carbono que já existem e atuam regionalmente podem ser uma opção para as empresas investirem no sequestro de carbono nas fazendas.
“A agricultura precisa se tornar o foco de uma coalizão global pela neutralidade de carbono e nós precisamos apoiar tanto a mitigação quanto a adaptação. Nós precisamos permitir que os pequenos produtores se adaptem e se beneficiem economicamente por meio do fornecimento de serviços ambientais”, defendeu Mohamed Manssouri, diretor do Centro de Investimentos da FAO, em nota.
Para Natalya Zhukova, líder da área de agronegócios do BERD, “o universo dos investimentos está evoluindo rapidamente”. Isso ocorre, diz, “à medida que os bancos alinham empréstimos ao objetivo ‘net zero’ e que gestores de recursos buscam opções para descarbonizar portfólios enquanto gerenciam riscos associados às mudanças climáticas”.