No dia 29 de março, a comitiva brasileira na China assinou um novo acordo com o país asiático para estabelecer uma instituição bancária que permitirá transações bilaterais sem a necessidade de utilizar o dólar.
Essa iniciativa tem como objetivo fortalecer as relações sino-brasileiras e diminuir a influência da moeda norte-americana.
O anúncio foi feito durante o Simpósio de Negócios China-Brasil, que aconteceu em Pequim e reuniu mais de 500 empresários de ambos os países, além de autoridades nacionais.
O que muda para as exportações e o agro?
Para Felippe Serigati, pesquisador da FGV Agro, é importante ter essa opção de negociar “por fora” do dólar. No entanto, ele não imagina que a medida seja utilizada pelos exportadores.
“É difícil você escapar do dólar. Vamos pensar no cenário das transações: você está exportando soja, açúcar, carne, minério de ferro, entre outros. Todos esses produtos serão precificados em qual moeda? Em dólar! Sendo assim, ninguém vai olhar para o real ou yuan, já que os agentes estão habituados a olhar a cotação destes produtos com base na moeda norte-americana”, explica Serigatti.
Para ele, a opção faria mais sentido se houvesse um problema de balanço de pagamentos, uma falta de dólar na China e no Brasil. Outra desvantagem são as características das moedas que seriam utilizadas nessas transações. Na visão do pesquisador, o dólar continuará sendo a unidade de referência não apenas hoje, mas por um bom tempo.
“O problema, no caso do real, é que a moeda conta com muita flutuação, e isso pode resultar em um cenário de volatilidade. O yuan, por outro lado, não flutua, mas é altamente controlado pelo governo e qualquer decisão das autoridades da China pode alterar o valor da moeda. O dólar não entra nessa, já que ele é referência no mercado internacional. Mesmo sendo uma opção, esse acordo não muda muita coisa na minha avaliação, eu não acredito que os agentes vão querer realizar suas transações com outra unidade monetária”, finaliza.