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Adoção de um programa de qualidade para a estrutiocultura paulista

<p>O Agronegócio Estrutícola, como já enfatizado, sintonizado com o processo de globalização, necessita contar com instrumentos precisos, sob o ponto de vista tecnológico e gerencial.</p>

Lucas Augusto Soeiro Pinheiro – Pós-Doutor, Presidente da Sociedade Mineira de Medicina Veterinária (SMMV) e Diretor Senior da TECNOGEN.

Luiz Eustáquio Lopes Pinheiro – Prof. Titular pela UFMG, Coordenador do Mestrado em Produção e Gestão Agroindustrial da UNIDERP e Presidente da TECNOGEN.

José Antônio Piantino Ferreira – Prof. responsável pelo Departamento de Patologia Aviária da USP de São Paulo.

Este capítulo, foi estrategicamente montado de forma a complementar as proposições, canalizando-as em torno do arcabouço de um Programa de Qualidade. Procurou-se assim, racionalizar as análises, baseadas nos componentes de tal programa, dando sustentação a cada etapa e a necessária validação ao todo.

Justificativas

O Agronegócio Estrutícola, como já enfatizado, sintonizado com o processo de globalização, necessita contar com instrumentos precisos, sob o ponto de vista tecnológico e gerencial, capazes de garantir a competitividade a ser obtida ou reverter processos de senescência, que afetam alguns segmentos. Embora o País detenha apreciável infra-estrutura, falta terminar a construção e implantar o SBC, o que necessita ser realizado, com a participação colegiada, dos diversos setores e segmentos do agronegócio, utilizando assim, a estrutiocultura paulista, como um modelo para tal.

Deve-se admitir, que o País possui pequena experiência em processos de avaliação e de certificação, modalidades estas, muitas vezes desacreditadas. Para tanto, deve-se estabelecer metodologias que levem em conta, a cooperação e a integração entre instituições representativas do setor, no estado de São Paulo, dando respaldo e credibilidade ao processo, e que tenha também, o mérito de não onerar ainda mais cadeia. Obviamente deverá contar com a competência instalada no estado de São Paulo e posteriormente no País, tanto em recursos humanos, quanto em laboratórios já credenciados, como sendo de alto nível (FARINA e ZYLBERSZTAJN, 1999; PINHEIRO et al. 1999; PINHEIRO et al.,2005). 

Dinâmica do Processo para a Adoção de um Programa de Qualidade para a Estrutiocultura de São Paulo

Papel do Sistema Público de C&T

A qualidade dos produtos Estrutículas, como visto anteriormente, não pode constituir-se num item sob a responsabilidade única do setor privado, pois interessa a toda a sociedade brasileira. Em vista do exposto, cabe ao Estado, garantir o acesso aos sistemas oficiais de acreditação de processos, subsidiar a formação de recursos humanos, a montagem e a manutenção de laboratórios de alto nível, bem como a pesquisa fundamenta. Neste particular, São Paulo conta com a FAPESP que, além do apoio já consagrado à pesquisa, adiantou-se com relação ao apoio ao desenvolvimento tecnológico, criando programas específicos de apoio à setores industriais, com é o caso do PIPE e do PIDE.

Papel do Setor Privado

Mesmo que se considere, os sistemas públicos federal e estadual, como os principais agentes indutores, é lembrado aqui, que a iniciativa privada talvez reúna maior especialização profissional nesta área, a qual poderia ser capitalizada pelo sistema. Isto deve forçosamente ser válido para as grandes empresas, com as quais parcerias especiais necessitam ser buscadas.

Em vista do exposto, o setor Estrutícula, uma vez convencido da factibilidade de um programa de qualidade, e de que o governo proverá os instrumentos e os meios para a aferição da qualidade, poderá vir a usar o seu peso decisório e gerencial.

Ações Requeridas para a Obtenção da Necessária Adesão

Vale destacar aqui, três passos indutivos considerados fundamentais na condução de ações bem planejadas, capazes de cumprir tais objetivos. O primeiro passo, é essencial como elemento de valorização da competência instalada e no fortalecimento de confiança no modelo. Serve ainda, para o exercício de “Quem é quem”, em todos os setores e segmentos. No segundo passo, incorpora-se a dinâmica construtiva, participativa e crítica, permitindo adicionalmente, identificar pontos fortes e fracos, além de novas lideranças. Finalmente, o último passo, fornece a chance de intenso “positive feedback” e de estabelecimento de condições para a manutenção do processo de indução à cooperação tecnológica e gerencial (PINHEIRO et al. 1998 e PINHEIRO et al, 2005).

Estrutura de Diagnóstico em Rede

Dentre todos os gargalos vigentes na estrutiocultura, o problema sanitário revela-se como sendo, no momento, o que requer urgente solução, uma vez que, as normas e os programas sanitários, encontram-se em fase de estruturação e implantação. Adicione-se que a veiculação de agentes infecciosos, não se limita aos eventuais animais portadores e disseminadores, mas também ao comércio de produtos biológicos, tais como; vacinas, antígenos, entre outros. Assim sendo, afigura-se como necessária, a formação de uma rede direcionada ao estado de são Paulo e posteriormente, em nível nacional, de laboratórios, destinada a dar o suporte necessário às atividades de melhoria da qualidade sanitária ao produto brasileiro, servindo ainda de base, para a implantação de amplo sistema de avaliação de conformidade. Enfim, tal rede é imprescindível para harmonizar, tanto o ambiente organizacional quanto o institucional.

A Sustentação da Proposta

A Rede Laboratorial a ser formada, deverá ter como pilares de sustentação, o Laboratório de Referência Animal (LARA) do MA, sediado em Campinas, além dos laboratórios passíveis de serem credenciados, onde destacam-se o da USP de São Paulo, da UNICAMP em Campinas e da Unesp (Araçatuba, Botucatu e Jaboticabal), que já realizam estudos pioneiros voltados a cadeia do Avestruz. A estas instituições, caberá a tarefa de servir como referência de procedimentos laboratoriais, a serem implantados, norteando o treinamento de recursos humanos, em distintos níveis de graduação e pós-graduação, além de acompanhar a implantação e o credenciamento de laboratórios privados nas diferentes regiões do Estado e mesmo do País. As justificativas para tal proposição são óbvias, pois ambas têm mandato e inserção nacional.

A gestão e a administração das atividades da rede, poderá ficar a cargo de um Comitê Gestor, contando com a participação de representantes do MAPA/LARA, da USP de São Paulo, da Unesp, da UNICAMP, e do Instituto Biológico, além do INMETRO/ABNT, bem como, de representantes das associações que representam o setor e se fazem representar em São Paulo. Se assim for feito, ter-se-á a desejável e indispensável cooperação, dando vida ao espírito de consórcio contido na proposta.  EsteS princípios encontram sustentação em publicações recentes como: PINHEIRO et al.(2005) e NEVES, (2006ª)

Todo o processo de padronização de diagnóstico, deverá estar em consonância com as normas e preceitos do MAPA, do MS e do INMETRO/ABNT, cabendo ao primeiro, as ações fiscalizadoras finais, com a adoção das devidas medidas requeridas.

Pelo exposto, justifica-se, ainda, a criação de uma rede laboratorial de diagnóstico, auto-sustentável financeiramente, para atender, de forma harmônica e dinâmica,os gargalos do setor Estrutícula do estado de São Paulo. Para tanto, é imperioso que se formem parcerias para apoiar e criar laboratórios, onde se realizarão, de forma padronizada, os diagnósticos das enfermidades Estrutículas, com a conseqüente certificação da qualidade dos produtos, bem como, a realização de ações na área e a formação dos recursos humanos. Finalmente, as ações específicas de C&T (o que pressupõe a participação da FAPESP, capaz de ampliar a parceria, inclusive com agências federais, como é o caso do MCT/CNPq e FINEP), requeridas para cumprir as etapas e as ações descritas nas següência:

• APORTE DE RECURSOS FINANCEIROS ESPECÍFICOS PARA A IMPLANTAÇÃO DAS AÇÕES PROGRAMADAS, O QUE PODE SER EXECUTADO PELA FAPESP, POR MEIO DE EDITAIS ESPECÍFICOS;

• MOTIVAÇÃO DAS ASSOCIAÇÕES ESTRUTÍCULAS PAULISTAS PARA PARTICIPAR DO PROCESSO DE PARCERIA COM O LARA E COM AS UNIVERSIDADES;

• IDENTIFICAÇÃO E MOTIVAÇÃO, PARA PARTICIPAÇÃO NA PARCERIA, DAS COMUNIDADES MUNICIPAIS, NAS QUAIS SERÃO SEDIADOS OS LABORATÓRIOS DA REDE (COMITÊ GESTOR);

• ELABORAÇÃO DE PROJETOS PARA A CRIAÇÃO DA INFRA-ESTRUTURA LABORATORIAL E DE PESSOAL ADEQUADO AOS OBJETIVOS IDENTIFICADOS (COMUNIDADE TÉCNICO CIENTÍFICA);

• PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DE DIAGNÓSTICO DAS ENFERMIDADES AVÍCOLAS E ESTRUTÍCULAS (REDE MONTADA);

• CERTIFICAÇÃO DA QUALIDADE DO PRODUTO AVÍCOLA/ESTRUTÍCULA (OCCs – ORGANISMOS CERTIFICADORES CREDENCIADOS);

• TREINAMENTO DOS RECURSOS HUMANOS NOS DISTINTOS NÍVEIS DE PÓS-GRADUAÇÃO (UNIVERSIDADES);

• IMPLANTAÇÃO DE UM SISTEMA DE GERENCIAMENTO LABORATORIAL INFORMATIZADO E ÚNICO PARA TODA A REDE (COMITÊ GESTOR);

A GESTÃO GLOBALIZADA E AS ETAPAS DE CONSTRUÇÃO DO PROGRAMA

Como mencionado anteriormente, foram detectadas em duas universidades do Estado de São Paulo, que já realizam efetivamente, trabalhos direcionados aos segmentos da Estrutiocultura (USP-São Paulo, Unesp-Araçatuba e Unesp-Botucatu). Ambas as universidades têm tudo para atuar de forma conjunta, de acordo com seus domínios e aptidões, criando uma rede de atividades complementares, seguindo as recomendações do MAPA e dos futuros países importadores. A supervisão e o acompanhamento devem ser conduzidos pelo LARA de Campinas. Ressalte-se que tudo isso depende do envolvimento de uma delas, assumindo os próximos passos de indução à cooperação.

A seguir, estão especificadas as atividades das universidades em questão;

ANÁLISE CRÍTICA

Após ter participado de reuniões técnicas, atuando nas análises das contribuições e das proposições apresentadas, e realizado as avaliações de documentos e publicações científicas e  técnicas, ficou evidente a convicção de que um programa de qualidade é essencial, estando disponíveis todos os elementos necessários à sua construção, inclusive com amplo entusiasmo dos atores relacionados, em suas diversas áreas de pesquisas. A lógica aplicada na construção do modelo aqui exposto centraliza-se no atendimento dos anseios de todos os que se envolveram no processo, sendo, conseqüentemente, coerente, simples e inovadora. Não há dúvidas de que, se devidamente montado e tendo os pontos fundamentais cumpridos, esta agrocadeia contará com excepcional instrumento para dar apreciável salto tecnológico.

Em vista de tudo o que está sendo exposto, deve-se registrar que o modelo proposto, mesmo sendo lógico, servindo de base para um real programa de qualidade, corre o riso de não se viabilizar. Esta análise vem do fato de que até o presente momento, nenhuma instituição foi suficientemente induzida a assumir a execução dos passos adicionais necessários à finalização e implementação do Programa

Felizmente, tendo em vista a urgência e as sérias ameaças que pairam sobre a competitividade do setor, somados ao grau de entendimento e de adesão dos vários atores consultados, pode-se esperar novos desdobramentos, permanecendo bastante viável a materialização de um programa com tais características. Pode-se até afirmar que o único ingrediente que falta, para tornar irreversível o processo de construção de algo parecido, reside em forte convencimento a ser realizado no agente catalisador maior, o LARA de Campinas, uma vez que não foi possível atuar de maneira mais incisiva quanto ao convencimento dos atores internos da Instituição a se envolverem no processo.

CONCLUSÕES FINAIS

1. A estrutiocultura Brasileira, apresenta entraves tecnológicos graves na área de qualidade, principalmente sob o ponto de vista de controle sanitário, o que poderá, a curto prazo, diminuir a competitividade da cadeia;
2. O setor não conta com um sistema oficial completo e em operação, capaz de dar sustentação a um programa integrado de qualidade, embora o estado reúna todas as peças necessárias para tal;
3. É factível construir-se um programa de qualidade, específico e inovador, capaz de amparar e de ampliar a competitividade da estrutiocultura paulista, o que depende de ações macro para a sua materialização, envolvendo principalmente os órgãos públicos e a iniciativa privada;
4. Os atores que representam segmentos e setores do complexo agro-industrial estrutícula encontram-se devidamente motivados para construir tal programa, dependendo agora exclusivamente dos agentes de aglutinação: MAPA e LARA, em especial, de seus dirigentes;
5. a Instituição que abrigou o desenvolvimento do projeto, dando suporte e apoio logístico, tem todas as condições de prosseguir o trabalho, inclusive utilizando a metodologia empregada neste.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FARINA E., ZYLBERSZTAJN, D.  A competitividade e organização das cadeias agro-industriais.  São Paulo: PENSA/FEA/USP, 1994.  p.1-61.  Trabalho para o IICA.

NEVES, M.F. Ações Coletivas entre Pordutores:Grandes Oportunidades. In: Agronegócio do Brasil, Editora Saraiva, SP, 2006, p.65-68

PINHEIRO, L.A.S.  Reestruturação organizacional da UBA como fator de integração da cadeia.  Revista Brasileira de Reprodução Animal, v.23, n.2, p.128-131, 1999.

PINHEIRO, L.E.L.; PINHEIRO, L.A.S.; PEREIRA, F..A.R.; PINHEIRO,L.S. Pesquisa cooperativa na produção agroindustrial: A criação de um novo modelo. In:Produção e Gestão Agroindustrial, Edit. UNIDERP, MS, 2005, p.165-178.