O uso de sistemas de análise de dados e de inteligência artificial (IA) vai promover um novo salto tecnológico e produtivo no campo. A transformação é tão intensa que o mercado já usa o termo “agricultura de decisão”, parafraseando a “agricultura de precisão” – introduzida no Brasil nos anos de 1990 e marcada pelos sistemas de geolocalização, computadores de bordo e softwares para elaborar mapas de produtividade.
A diferença, apontada pelos especialistas, está no fato de que será possível ‘enxergar o futuro’, modelando cenários e realizando análises complexas. “É uma nova fronteira do conhecimento, que permitirá cruzar dados da propriedade com informações sobre o clima, mercado, controle de pragas, gestão de recursos, entre outras”, diz Claudio Kapp Junior, pesquisador do setor de economia rural da Fundação ABC.
Entre os desafios está o de disseminar a cultura digital. “Os mais jovens querem sistemas aprimorados. Mas produtores e agrônomos mais velhos vão exigir esforço de conscientização”, diz. O caminho, no entanto, é sem volta.
Kapp acompanha o uso de sistemas por cooperativas no Paraná e ajuda no desenvolvimento de uma solução utilizada pelos cooperados da Frísia (Carambeí), Castrolanda (Arapoti e Castro) e Agrária (Guarapuava). “Nestas propriedades, etapas como planejamento da safra, logística e operações de crédito já são todas feitas com ajuda de sistemas.”
Para ele, o avanço da digitalização é algo natural e vai acelerar a inovação sistêmica no campo, permitindo o desenvolvimento de técnicas de manejo alinhadas com a sustentabilidade. “A pesquisa agronômica já se beneficia dos dados coletados pela automação no campo. A integração com as análises estatísticas vai fomentar mais projetos”, comenta.
Conectividade
A conectividade é outra demanda que cresce no Brasil rural. Diego Silva Aguiar, gerente de internet das coisas (IoT), bigdata e inovação da Vivo, comenta que o setor de telecomunicações está empenhado em estender as redes para o campo, levando cobertura de internet fixa e móvel. “Mas o modelo de negócios é muito diferente. Estamos lidando com um segmento que tem necessidades específicas”, diz.
No agronegócio, não adianta oferecer só a conexão à internet, é preciso empacotar as soluções, criando as bases para o produtor rural tirar proveito da automação – por meio da coleta de dados em tempo real de máquinas e equipamentos. Para servir o agronegócio, a Vivo investe em participação ativa no ecossistema de inovação. Entre as parceiras, conta com instituições como Esalq-USP e Ericsson.
Na Usina São Martinho, a Vivo e a Ericsson trabalham para implementar soluções que usam rede móvel de quinta geração. O objetivo é aumentar a eficiência agrícola e industrial com os recursos da nova tecnologia. Entre as soluções testadas está um drone conectado à infraestrutura da Vivo que é capaz de monitorar, em tempo real, áreas de cultivo de cana para, no futuro, indicar áreas específicas para a aplicação de defensivos agrícolas. “O Brasil é um grande produtor de proteína animal, mas ainda há pouca tecnologia aplicada no segmento”, diz Eduardo Speranza, analista da Embrapa Informática Agropecuária.