A hidrovia mais conhecida do Brasil, a Tietê-Paraná, será transformada num verdadeiro alcooduto fluvial a partir de maio do ano que vem. O Conselho do Fundo da Marinha Mercante autoriza para abril a implantação de um estaleiro em Araçatuba (200 km a oeste de Bauru) para a construção de 80 barcaças e 20 empurradores.
Elas serão utilizadas no transporte de álcool produzido na região central do Brasil para Anhembi, interior do estado de São Paulo.
O projeto, que tem investimentos orçados em US$ 239,1 milhões (ou R$ 393,6 milhões), envolve a Transpetro – subsidiária da Petrobras – e a empresa Rio Tietê, responsável pela construção do estaleiro em Araçatuba.
Pelo contrato, o primeiro lote de barcaças e empurradores deverá ser entregue em maio do ano que vem.
Logística /Após a conclusão total do projeto, em 2013, os comboios de chatas vão transportar 4 bilhões de litros de álcool por ano, embarcados em São Simão, Goiás, com destino a Anhembi, em São Paulo, num trajeto de 760 quilômetros.
A partir de Anhembi, o combustível “viajará” por um alcooduto até a Replan (Refinaria do Planalto), em Paulínia (região de Campinas), e de lá seguirá para os portos de São Sebastião-SP e Ilha D’água-RJ para ser exportado.
O projeto da hidrovia integra o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).
Cada comboio será formado de quatro barcaças e de um empurrador, com capacidade para transportar 7,6 milhões de litros.
A intenção do governo federal é baratear o transporte do álcool para garantir concorrência de preço do combustível no mercado internacional.
Impacto /Ainda não se sabe com exatidão qual o impacto que o projeto provocará nas economias dos municípios de médio e grande porte que se situam no entorno da hidrovia Tietê-Paraná, mas na operação direta dos comboios serão gerados 400 empregos diretos e outros 1,6 mil indiretos.
Por conta da operação necessitar de mão-de-obra especializada, a Fatec (Faculdade de Tecnologia) de Jaú será uma das unidades educionais que fornecerá profissionais para o projeto. Ma o sistema Senai e Senac também estarão envolvidos.
O transporte do etanol pela hidrovia substituirá o equivalente a 40 mil viagens de caminhão por ano, com ganhos ambientais, econômicos e de segurança.
O transporte hidroviário emite um quarto de gás carbono e consome vinte vezes menos do combustível utilizado pelo rodoviário para uma mesma carga e distância.
Obras de estaleiro começam em abril – O gestor da empresa Estaleiro Tietê, Delmo Conti Pescuma, confirma que está tudo pronto para o início da construção do estaleiro às margens do rio, na região de Araçatuba.
“Agora só dependemos da reunião do Conselho do Fundo da Marinha Mercante para outorgar o contrato. Acreditamos que em abril começamos a implantação do estaleiro”, prevê.
Com relação às licenças ambientais, Delmo também afirma que os processos já foram iniciados na Cetesb (Companhia de Tecnologia do Estado de São Paulo) para a implantação do projeto básico do estaleiro.
“A partir daí, começa a correr o prazo de 13 meses para a entrega do primeiro comboio de quatro barcaças e um empurrador, com capacidade para transportar 7,6 milhões de litros de etanol”, explica.
Na avaliação do gestor, o projeto vai provocar um impacto econômico grande na região servida pelo rio Tietê.
“O fomento na área de tecnologia, principalmente no desenvolvimento de softwares, de prestação de serviços e mão-de-obra operacional será grande. Será um reflexo múltiplo”, garante.
O entusiasmo de Delmo é reforçado pelo vice-presidente da Faesp (Federação de Agricultura do Estado de São Paulo), Mauricio Lima Verde Guimarães, que também é diretor da CNA (Confederação Nacional da Agricultura).
“Esse projeto é resultado da necessidade. Vai minimizar efeitos ambientais com menos poluição do ar, o número de acidentes nas rodovias”, comenta.
Ele alerta que o Brasil é um país carente de infra-estrutura logística. “Muitas vezes deixa-se de produzir determinadas coisas porque sabe-se que o transporte será uma dificuldade”, diz.
Para Lima Verde, o álcool é um combustível cada vez mais viável no Brasil e no mundo.
“O projeto é louvável e temos que aplaudir. Agora é preciso que os prazos sejam cumpridos”, alerta
Mercosul /O sistema hidroviário Tietê-Paraná possui 2,4 mil quilômetros de vias navegáveis de Piracicaba e Conchas (ambos no estado de São Paulo) até Goiás e Minas Gerais (ao norte) e Mato Grosso do Sul, Paraná e Paraguai (ao sul).
O caminho fluvial liga cinco dos maiores estados produtores de soja do país e é considerada a hidrovia do Mercosul.
Em seu trecho paulista, a hidrovia Tietê-Paraná possui 800 quilômetros de vias navegáveis, dez reservatórios, dez barragens, 23 pontes, 19 estaleiros e 30 terminais intermodais de cargas.