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Mercado Interno

Alta da conta de energia aumentou 40% o preço do frango em 2021

Apenas em agosto carne de frango ficou 8,6% mais caro nos supermercados paulistanos 

Alta da conta de energia aumentou 40% o preço do frango em 2021

Sob efeito da séria crise hídrica enfrentada pelo Brasil, o preço da energia elétrica residencial já acumula alta de 10,6% em 2021 e de 21% em 12 meses até agosto, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

O brasileiro já sentiu essa alta na hora de pagar a conta de luz nos últimos meses. Mas o aumento de preço da energia elétrica está batendo num outro lugar mais inusitado: no preço do frango que compramos no supermercado.

Segundo dados da Apas (Associação Paulista de Supermercados), divulgados em primeira mão à BBC News Brasil, o frango ficou 8,6% mais caro nos supermercados paulistanos apenas em agosto. Desde janeiro, a alta acumulada é de 21,42% e, em 12 meses, de 40,44%.

Com isso, o frango supera em aumento de preços a carne bovina, que teve alta de 0,15% em agosto e de 36% no acumulado de 12 meses.

E o aumento de custos chega também aos ovos de galinha, com alta de 1,46% em agosto e de mais de 20% em 12 meses.

“O caso do frango exemplifica o efeito dominó causado pelos aumentos da bandeira tarifária, já que a energia elétrica é fundamental para a criação de aves”, explica Diego Pereira, economista da Apas.

A bandeira mais cara das contas de luz já foi reajustada em 127% desde dezembro de 2020, com a cobrança adicional passando de R$ 6,24 a cada 100 kWh (quilowatt-hora) ao fim do ano passado, para R$ 14,20 em setembro deste ano.

Criado em 2015, o sistema de bandeiras tarifarias visa indicar para os consumidores que os reservatórios hidrelétricos estão em baixa e que está sendo necessário o acionamento de usinas termelétricas, que produzem energia mais cara. Além disso, o valor adicional pago pelos usuários serve para bancar essa geração mais custosa.

“A indústria do frango utiliza energia elétrica 24 horas por dia, para acelerar o processo de maturação das aves para abate e de produção de ovos”, explica o economista. “Então esse incremento de preços da energia em decorrência do acionamento das usinas termelétricas está sendo repassado para toda a cadeia.”

Segundo Pires, os sucessivos reajustes da bandeira de energia a partir de julho se somaram a um outro efeito que já vinha impactando o preço da aves e seus derivados desde o início do ano: a alta global das commodities, particularmente do milho e da soja, ingredientes da ração usada na alimentação de pintos, frangos e galinhas.

“Soja e milho compõem cerca de 70% da ração animal”, explica o analista, acrescentando que os produtores também têm sido afetados pela alta no preço dos combustíveis utilizados no transporte dos alimentos.

E tem mais más notícias à frente: a alta de preços do frango não vai parar, já que a bandeira foi reajustada novamente em setembro, impacto ainda não captado pelos dados da Apas, que vão só até agosto. “A gente aguarda um novo reajuste, que já está contratado em decorrência desses ajustes tarifários da energia que a gente vêm acompanhando”, diz o economista.

Assim, a proteína que costumeiramente serve de alternativa para os brasileiros nos momentos em que a carne bovina fica mais cara, também deve se tornar cada vez mais proibitiva.

Uma alternativa é a carne de porco, que ao contrário do frango e da carne de bovina, registrou queda de preços de 1,61% em agosto e de 6,76% no acumulado deste ano, segundo os dados da Apas, referentes aos preços praticados nos supermercados de São Paulo.

A crise política e o preço dos alimentos

As perspectivas para o preços dos alimentos não são favoráveis, por três motivos principais.

O primeiro deles é a crise hídrica, que tem se mostrado mais severa do que o inicialmente previsto pelo governo e já compromete safras de produtos que abastecerão os supermercados no próximo ano.

O segundo é que não há perspectiva de que as commodities agrícolas voltem a um patamar de preços muito mais baixo do que o atual.

“Desde março de 2020, com a crise do coronavírus, diversos países fizeram uma expansão monetária, que contribuiu para a supervalorização dessas commodities”, explica Pires.

A expansão monetária é um instrumento utilizado pelos governos para estimular a economia em momentos de crise, por exemplo, baixando os juros ou comprando títulos no mercado para estimular a circulação de dinheiro, com efeito positivo no consumo e no investimento.

A recuperação das economias mundiais – particularmente da China – com a contenção da pandemia e o avanço da vacinação também contribuiu para a maior demanda por commodities e para a alta de preços.

“Em março de 2020, a saca de soja estava valendo em torno de R$ 94 e hoje está em torno de R$ 170”, diz Pires. “E a China já sinalizou que está em movimento de reposição de estoques de todas as commodities dela, então a gente vai sofrer um pouco esse impacto.”

Por fim, a crise política constante tende a mantar o real desvalorizado em relação ao dólar. E um real desvalorizado contribui para mais exportações, o que, apesar de ajudar o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto), reduz a oferta de produtos no mercado interno e, consequentemente, também pressiona os preços dos alimentos.

Na quinta-feira (9/9), o IBGE divulgou o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) de agosto. A inflação oficial do país teve alta de 0,87% no mês, acima do esperado pelos analistas e maior aumento para agosto em 21 anos.

Com o resultado, diversos economistas revisaram para cima suas expectativas de inflação para o ano, como o Bank of America, que aumentou sua previsão para o IPCA em 2021 de 7,75% para 8%, e a MCM Consultores, que reajustou sua estimativa de 7,8% para 8,2%. A meta para a inflação este ano é de 3,75%.