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As peripécias do produtor rural

A atividade ou tarefa dos produtores rurais nunca foi das mais fáceis e mais lucrativas, notadamente para os de pequeno e médio porte.

As peripécias do produtor rural

Instabilidades climáticas, sanidade tanto no setor pecuário como no agrícola e a má distribuição de renda entre os diversos agentes envolvidos, historicamente tem sido fatores adversos, de grande preocupação e desestímulo dos que exercem a missão, por vezes heróica, de produzir alimentos.

Como produtor e ex- dirigente de entidades representativas dos produtores de leite e suínos, em níveis regional, estadual e nacional, bem sei da luta destes e de outros setores para sobreviverem às intempéries climáticas e crises econômicas enfrentadas com tanta frequência. Se estamos controlando com eficiência as doenças dos rebanhos e das lavouras com vacinações, defensivos agrícolas e novas tecnologias, infelizmente o clima e a distribuição de renda cada vez mais acentuam as dificuldades.

Com o aquecimento global a natureza vem apresentado extremos e excessos antes nunca vistos, em todas as partes do planeta. Todos os dias somos surpreendidos com fenômenos destruidores, muitos bem perto de nós e que podem, à qualquer momento, nos afetar, consumindo toda nossa produção e destruindo nossas benfeitorias.

Tal situação nos obriga a enterrar as sementes e ficar olhando para o céu, pedindo à Deus que nos proteja da estiagem, vendaval, granizo e enxurrada.

Com relação à distribuição de margens de lucro, presenciamos diariamente os mais diversos setores da produção primária protestando pelo aviltamentamento dos preços recebidos. As mais recentes queixas que ouvimos são dos produtores de suínos, leite, ovos, arroz e feijão, sem dúvida importantes componentes da mesa dos brasileiros todos os dias.

Relato dois exemplos que bem expressam o verdadeiro abismo que existe entre o produtor e o consumidor, em termos de preços:

-De férias na praia resolvi pesquisar valores cobrados por alguns produtos no maior supermercado da cidade e me deparei com absurdos como: O kg de presunto crú custando R$92,87 e da copa por R$57,20 o kg, enquanto o suinocultor recebe R$2,20 pelo kg do suíno vivo. Isto faz com que o mesmo, com o equivalente a um suíno de 100kg consiga adquirir somente 2,3 kg do dito presunto.

Com relação ao leite, enquanto o produtor recebe, em média, R$0,60 por litro, o preço dos queijos oscilam entre R$20,00 e 60,00 o kg, sendo que o leite em pó, pote de 300gr por R$8,90.

Como estes, poderíamos citar muitos outros exemplos que justificam plenamente o “choro” dos produtores rurais, não raras vezes forçados à vender suas produções abaixo dos custos que tiveram para produzir.

O Código Florestal tem se constituído em outra dor de cabeça para o homem do campo. E não é para menos, para começar se não acontecerem as modificações sugeridas e reinvindicadas, do próximo mês de junho em diante,aproximadamente 95% dos produtores rurais estarão fora da lei e consequentemente, sujeitos à todas as repercusões negativas inerentes à esta desfavorável condição.

Antigas, justas e necessárias reinvindicações dos produtores precisam ser postas em prática; garantindo as condições para que os remanescentes continuem na lida do campo, com a adoção de uma política agrícola oficial que contemple os principais anseios da classe, como:

– Garantia de preços mínimos adequados às necessidades de cada setor;

– Medidas que coibam as distorções na qualidade e nos preços dos insumos que compõe os custos de produção;

– Facilitar, independentemente de porte do produtor, o acesso ao seguro agrícola para lavouras, rebanhos e benfeitorias;

– Implantação de um amplo programa de irrigação, com linhas específicas de crédito e agilização de licenciamentos ambientais para construção de reservatórios de água;

– Adoção de uma política ambiental sem exageros, que contemple a necessária preservação e um adequado uso da terra.

O produtor, pelo que representa na cadeia alimentar, deve ser prestigiado e justamente recompensado pelo seu esforço e riscos inerentes à atividade. Caso contrário veremos ameaçado o normal abastecimento de alimentos e consequente encarecimento do custo de vida, com já ocorre em várias regiões do mundo, resultando em revolta popular de tal magnitude, capaz de derrubar governos.

Por José Adão Braun, Produtor Rural e Ex-Presidente da ABCS e Acsurs