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As soluções por trás das crises

<p>Confira artigo feito por Rubens Valentini, presidente da ABCS.</p>

Foto: Roberto Castello

Redação SI (08/06/06)- A II Guerra Mundial seguramente foi uma das maiores crises mundiais, reunindo aspectos econômicos, políticos e sociais jamais enfrentadas pela história da humanidade. A Europa saiu dela arrasada. Mas, dela surgiu o Plano Marshall que, ao presidir sua recuperação, formatou as bases da Comunidade Econômica Européia que conhecemos hoje. A crise do petróleo do começo dos anos 70 gerou a indústria da bio-energia, ecológica e renovável. São grandes as possibilidades do Brasil vir a desempenhar importante papel na economia mundial deste século contando em boa parte com o arrojo de sua decisão histórica de investir no pró-álcool como solução alternativa para a escassez do petróleo.

A atual crise da suinocultura brasileira, em que pesem suas nefastas conseqüências, abre uma janela com inúmeras oportunidades. No noticiário de ontem, por exemplo, lemos que os companheiros da ACCS estão criando o mês da carne suína, envolvendo um frigorífico e uma rede de supermercados e uma negociação para redução da margem de comercialização e do preço final do produto colocado para o consumidor.

Em Curitiba, outras iniciativas estão sendo conduzidas no mesmo sentido pelos colegas do estado. Os produtores estão se reunindo com a Associação dos Supermercadistas do Paraná para discutir mecanismos de redução do preço final ao consumidor, argumentando face a face com o varejo aquilo que estamos acostumados a reclamar nos auditórios dos congressos do nosso segmento: a margem praticada nos pontos de venda é totalmente descolada do preço recebido pelos suinocultores.

Estas ações são da maior importância e revelam que temos muito o que fazer além de reclamar da difícil situação que enfrentamos. E mais, mostram que sabemos o que fazer e entendemos que temos que fazê-lo em conjunto, dentro da cadeia. Mas insistimos em fazê-lo somente na crise e perdendo de vista que a crise é da suinocultura brasileira, não regional. E, sobretudo, que o grande mercado consumidor está distante das regiões produtoras.

Os ensinamentos das crises são palpáveis e podem ser medidos. No nosso caso, pela expressiva presença política dos representantes de produtores, da indústria de transformação e da indústria de insumos e serviços que estiveram presentes ao Fórum Legislativo da Suinocultura. Em vinte anos de setor nunca vi uma reunião com tamanha força qualitativa como esta, atestou Fernando Pereira, Diretor Superintendente da Agroceres Pic, em sua participação no Fórum, expressando de público opinião muito ouvida no plenário. E o Deputado Waldemir Moka(PMDB-MS) cutucou na ferida: vocês precisam parar de se reunir apenas nos momentos de crise.

Ainda que o Fórum Legislativo tenha sido concebido a partir de uma perspectiva estruturante e que sua data tenha sido planejada bem antes da Rússia decretar o embargo comercial ao Brasil, o Deputado não deixa de ter razão.

Ações tópicas adotadas pelas lideranças regionais para melhorar o quadro da comercialização da carne suína são muito bem-vindas. Mas é muito importante não perdermos de vista as políticas macro, que carregam em seu bojo o potencial de promover uma revolução estrutural na forma como nós, suinocultores, encaramos a questão sanitária, como promovemos nosso produto e como comercializamos a carne suína brasileira.

O Fórum foi apenas uma etapa do trabalho. Seu principal desdobramento está na criação de Comitês de Trabalho envolvendo representantes da cadeia produtiva para analisar as sugestões colhidas no encontro e sugerir ações concretas de curto, médio e longo prazos. A estrutura dos comitês é a mesma daquela que presidiu os trabalhos nos Fóruns Estaduais e depois foi consagrada nos debates da Câmara dos Deputados: política sanitária; mercados; meio ambiente; marketing.

A ABCS está sempre pronta para apoiar as iniciativas das entidades regionais movidas, ou não, pela crise. Porém, a Associação Brasileira considera igualmente importante que as regionais – assim como todos os outros elos da cadeia produtiva não percam de vista a necessidade de sustentar as ações que vão no sentido de construir um alicerce sólido e definitivo.

Enfrentar as crises com os recursos disponíveis e possíveis não só é legítimo, como elogiável. Não obstante, a ABCS tem por missão principal trabalhar estruturas políticas que livrem o setor definitivamente do espasmo de crises desnecessárias, sejam elas oriundas da inconseqüência gerencial do Estado ou da nossa  insubsistência logística e promocional.

Ou seja, se com uma mão temos que trabalhar na massa, no micro, com a outra, temos que tecer o macro, o estratégico.

Não temos mais tempo a perder!