Fonte CEPEA

Carregando cotações...

Ver cotações

Política

Ato de desagravo a Rossi

Michel Temer fez ato político em São Paulo. Amizade de 50 anos liga vice-presidente a ministro da agricultura brasileiro.

Ato de desagravo a Rossi

Com a perspectiva do surgimento de novas denúncias contra o ministro da Agricultura, Wagner Rossi, lideranças nacionais do PMDB fizeram uma defesa ostensiva do pemedebista. Rossi é o ministro mais próximo da cúpula nacional do partido e tem na antiga amizade com o vice-presidente da República, Michel Temer, um de seus principais trunfos para tentar manter-se no cargo.

Há duas semanas Rossi responde a acusações de supostas irregularidades e desvios de conduta no Ministério da Agricultura e na Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), da qual foi presidente entre 2007 e 2010. O clima de apreensão quanto ao futuro político do ministro não melhorou mesmo depois de Rossi ter participado de sabatinas na Câmara, no Senado e de ter anunciado uma “faxina” nos órgãos sob sua responsabilidade.

A incerteza sobre o que virá em possíveis novas denúncias fez com que Temer comandasse ontem um ato político em São Paulo em que as demonstrações de apoio ao ministro ganharam destaque. Na sede do diretório paulista, o intuito do evento era marcar o retorno do ex-governador paulista Luiz Antonio Fleury Filho ao PMDB, mas integrantes do partido fizeram uma defesa pública do ministro.

O presidente em exercício do PMDB, senador Valdir Raupp (RO), disse que o partido “não vai se entregar” às denúncias de suposta corrupção. “Não vai ser agora, ministro Wagner, que vão nos atingir”, declarou. Raupp disse que o ministro é “extraordinário” e que não há dúvidas “sobre sua lisura e capacidade”.

O deputado federal Edinho Araújo (SP) disse ter acompanhado os depoimentos do ministro a parlamentares e afirmou que Rossi “entrou grande e saiu maior ainda”. O ex-governador Fleury, que teve Rossi como secretário de sua gestão, disse que o ministro é um homem correto e “que não se curva diante das dificuldades”. “Você está dando um truco neles”, disse, sendo interrompido por aplausos. “Nos orgulhamos muito de você.”

Temer e Rossi chegaram juntos ao evento e ficaram próximos durante todo o tempo.

A amizade de Rossi, com 68 anos, e Temer, com 70 anos, é antiga – os dois políticos se conhecem há quase cinco décadas. Nos anos 60, foram contemporâneos na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo e, posteriormente, atuaram na carreira acadêmica como professores universitários em São Paulo.

Fundadores do PMDB, Rossi e Temer se aproximaram por intermédio do governador morto Orestes Quércia, que despontava com uma das principais lideranças políticas do partido. Na gestão Quércia (1987-1991), Rossi foi secretário de Educação e de Esporte e Turismo. Nessa época, Temer exercia o mandato de deputado federal. Os dois trabalharam juntos na gestão do governador Luiz Antonio Fleury Filho (1991-1995). Rossi foi secretário de Infraestrutura Viária e de Transporte e Temer comandou a Secretaria Estadual de Segurança Pública.

Os laços políticos estreitaram-se na Câmara dos Deputados, nos anos 1990. No mesmo período em que Temer ascendia como liderança entre os deputados federais e presidiu a Câmara, Rossi foi vice-líder do PMDB na Câmara e segundo vice-presidente do PMDB.

Com reduto político e eleitoral na cidade de Ribeirão Preto e boa interlocução com o setor do agronegócio, Rossi ajudou o PMDB a se estruturar no interior paulista, sobretudo nas regiões mais ricas. “Quando fui candidato ao governo, ele foi me apresentando a todo mundo”, lembrou ontem o ex-governador Fleury Filho.

Dentro do PMDB, Rossi e Temer sempre estiveram do mesmo lado, o que lhe rendeu indicações importantes. Sob influência de Temer, representou os pemedebistas no comando da campanha de José Serra à Presidência em 2002. Antes, chegou ao comando da Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), também por intermédio do atual vice-presidente da República. Ficou no cargo entre 1999 e 2000. A aproximação de Rossi com o atual governo se deu no segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, quando o PMDB passou para a base aliada. Ambos resistiram à influência de Quércia, de ficar na oposição. Temer indicou seu aliado para presidir a Conab, cargo que o projetou do diretório paulista para o PMDB nacional. Entre 2007 e 2010, era responsável por gerenciar um orçamento anual de mais de R$ 5,5 bilhões na estatal vinculada ao Ministério da Agricultura.

Rossi chegou ao comando do ministério novamente por intermédio de Temer. A articulação política dos dois pemedebistas paulistas implicou em uma derrota do ministro antecessor, Reinhold Stephanes (PMDB), que preferia o secretário-executivo da Pasta, José Gerardo Fonteles. Na época, opositores de Temer diziam que ele teria firmado acordo de “porteira fechada” para a Agricultura, dando direito ao ministro de trocar todos os cargos que quisesse por indicações de filiados ao partido.

Em suas passagens nas duas estatais preferidas do PMDB, Rossi foi citado em suspeitas de irregularidades. Em 2001, no ano seguinte ao deixar a presidência da Codesp, o pemedebista chegou a ser ameaçado pelo senador morto Antonio Carlos Magalhães (DEM), que dizia ter um dossiê sobre o porto de Santos com supostas irregularidades envolvendo o pemedebista. Rossi negou e disse ter sido alvo de pressão política, por ter feito nomeações técnicas.

Na Conab, sua gestão foi acusada de loteamento de cargos. Com boa interlocução com o agronegócio, Rossi esteve sempre na mira da Justiça por comandar uma estatal com potencial para influenciar e captar votos nas regiões agrícolas. A Conab é estratégica por operar o amplo programa de subsídios financeiros da política agrícola. Durante sua gestão, uma auditoria do Tribunal de Contas da União apontou problemas ao longo de várias gestões nas áreas jurídica e de armazenagem da estatal. O pente-fino do TCU, feito dois anos e meio depois de Rossi assumir a estatal, indicou problemas como contratações irregulares. Na época, Rossi disse que estava corrigindo os problemas.

A amizade de Rossi e Temer rendeu benefícios para o filho do ministro, deputado Baleia Rossi. Desde que o vice-presidente conquistou o controle do diretório paulista, com a morte de Quércia, repassou o controle político para Baleia Rossi, que é o presidente do diretório. Baleia é o responsável, sob a batuta de Temer, por articular todas as alianças políticas no Estado para 2012.