Redação AI 20/09/2002 – O avestruz possibilita um bom retorno financeiro, já que o quilo da carne chega a custar R$70.
O crescente interesse dos empresários baianos pela comercialização de produtos derivados do avestruz poderá transformar o estado em referência da estrutiocultura no país. A ave possibilita uma variedade de aproveitamento comercial, do couro à casca do ovo, além de possuir um dos tipos de carne mais valorizadas no mercado brasileiro. Para se ter uma idéia da competitividade do produto, enquanto o quilo do frango custa, em média, R$1,80 e do filé mignon do boi R$8,50, o do avestruz sai por cerca de R$70.
Por conta disso, um grupo de 20 empresários e técnicos baianos esteve recentemente na África do Sul para conhecer as técnicas utilizadas no país, hoje referência na criação, industrialização e comercialização da ave. A comitiva contou com o apoio da Secretaria da Agricultura do estado (Seagri), que quer aproveitar o potencial climático do semi-árido baiano para difundir a atividade na região, principalmente nos municípios de Irecê, Morro do Chapéu, Juazeiro, Jequié, Paulo Afonso e no oeste do estado, onde é grande a produção de grãos.
“O negócio do avestruz na Bahia só terá sucesso se conduzirmos o desenvolvimento da atividade pensando na formação de pólos, agregando em determinadas regiões, especialmente o semi-árido, um grande número de animais que devem viabilizar a formação de agro-indústrias”, disse o diretor de pecuária da Seagri, Luiz Rebouças. Segundo ele, apesar do interesse comercial dos empresários baianos pela comercialização da ave, é preciso fazer da atividade um negócio além da porteira.
Atualmente, a criação de avestruz no estado é destinada apenas à multiplicação da população da ave para comercialização de filhotes. A ave de três meses vale, em média, R$1 mil, mas o preço do animal adulto pode chegar a R$6 mil, de acordo com Tadeu Lomanto, membro-fundador da Associação Baiana de Criadores de Avestruz (ABCAV) e proprietário de um dos maiores plantéis baianos, com 120 animais.
“Ainda não temos um volume de aves que justifique a exportação do couro e da pluma. Em números experimentais, para viabilizar frigoríficos seria necessária uma povoação mínima de 30 mil aves”, explicou Rebouças.
Só com os frigoríficos a Bahia terá condições de exportar a carne do avestruz, cuja maior demanda hoje é da União Européia, e o couro curtido da ave, que é muito utilizado pela indústria da moda na produção de carteiras, cintos, bolsas e sapatos. A expectativa de Rebouças é que, em um prazo de quatro a cinco anos, os frigoríficos já estejam em funcionamento no estado.
Até lá, a proposta do governo é de que os criadores desenvolvam outras alternativas de aproveitamento do avestruz, semelhante ao que ocorre na África do Sul. Duas delas, e que já podem ser iniciadas, são a fabricação de artesanatos com a casca do ovo da ave, como abajures, enfeites de mesa e outros objetos de decoração, e a utilização das plumas para confecção de adornos para escolas de samba e espanadores.
Irecê abriga primeiro pólo
O primeiro pólo de criação de avestruz na Bahia está em Irecê. O município já possui um incubatório de ovos, inaugurado recentemente, e está fechando uma parceria com a cidade de Jussara, a cerca de 30km da região, para utilização de um frigorífico de caprinos e ovinos. A idéia, segundo o presidente da Associação de Pecuaristas de Irecê, José Carlos Oliveira, é utilizar a infra-estrutura do frigorífico para industrialização de produtos derivados do avestruz.
A atividade no município começou há dois anos, quando seis amigos resolveram comprar, cada um, dois casais de avestruzes. Hoje já são 28 criadores e um plantel de cerca de 300 aves.
De acordo com Oliveira, a renda de cada pequeno criador com dez matrizes de avestruz pode chegar a R$80 mil por ano, sem incluir a receita a ser gerada com a comercialização de produtos que agregam valor à criação da ave, como couro, pluma e artesanato com ovos.
Irecê vem se constituindo também como um centro de estudos da estrutiocultura na Bahia. Através de um convênio entre a Apri, a Seagri e a Faculdade de Medicina Veterinária da Ufba, a cidade ganhou um pavilhão com fins de pesquisa. Um dos estudos em andamento é a combinação de cenoura, capim e a leguminosa leucena na alimentação do avestruz. “A resposta do animal tem sido excelente. As fêmeas estão pondo com apenas 17 meses de vida, além de obtermos uma economia de mais de 1000% na ração”, disse Oliveira.