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Sustentabilidade

Banco Santander cria áreas para zerar pegada de carbono de clientes

Objetivo do banco é fomentar transição de empresas por meio de operações de mercado

Banco Santander cria áreas para zerar pegada de carbono de clientes

O Santander está estruturando no Brasil núcleos com base em critérios sociais, ambientais e de governança (ESG, na sigla em inglês) para fomentar operações de mercado com o objetivo de zerar a pegada de carbono. As áreas de dívida e estruturação financeira (“project finance”), liderada por Sandro Marcondes, e de banco de investimento, que tem o executivo Gustavo Miranda à frente, já trabalham para identificar projetos com esse viés.

A iniciativa é um passo na direção de atingir a meta global do banco, que é chegar a 2050 com toda a operação, inclusive a dos clientes, com emissão zero de carbono. Esse objetivo envolve três fases. No escopo 1, que inclui as operações do próprio banco, o Santander já afirma ser neutro em emissões desde 2010. No escopo 2, que visa o uso de energia renovável, a instituição alcançou 80% da meta, que deve ser plenamente atingida em 2025.

Agora, o banco está adotando estratégias para viabilizar também a zeragem da emissão de carbono no escopo 3, que envolve todos os clientes de sua carteira de crédito, o que deve ocorrer até 2050.

Segundo Marcondes, com a nova estrutura, o Santander deve apoiar os clientes a encontrar soluções para reduzir e, em algum momento, zerar a emissão de carbono. O primeiro passo, explica, é conscientizar as companhias sobre a importância e urgência desse movimento. “O objetivo do banco é influenciar as empresas no sentido de elas caminharem na transição rumo à sustentabilidade”, afirma, ressaltando que essa adesão será sempre uma escolha da própria empresa.

“Num primeiro momento, não tem como o Santander sozinho impor para um cliente qualquer que ele adote uma determinada estratégia. Esse é um processo de transição”, diz. Com o tempo, entretanto, é provável que a adesão da companhia também influencie o custo e a disposição do banco em oferecer crédito. “No primeiro momento será mais voluntário. Mas, à medida que a gente se aproximar das metas e dos compromissos que o banco assumiu, a coisa tende a ser mais firme.”

O Santander já não financia novos projetos de energia a carvão e novas plantas de exploração de petróleo, onshore e offshore.

De todo modo, a estratégia dos bancos em geral não tem sido a de excluir clientes ou setores inteiros de seu escopo, e sim fechar a torneira para projetos mais controversos. Marcondes vê as grandes corporações em um passo mais avançado. “Clientes com um inventário de carbono saem na frente e têm operações mais sustentáveis.”

Há, contudo, um grande número de companhias que precisam mudar. “Há desafios porque a maioria não é ‘green’ [verde]. Precisamos olhar como a empresa posiciona seu projeto de sustentabilidade. Precisamos construir parâmetros financeiros para transformar operações tradicionais para ‘green finance’. Temos que ajudar as empresas a construir essas operações.”

Para auxiliar os clientes na identificação de suas pegadas de carbono e na busca de uma trajetória sustentável, o Santander comprou, em março, 80% da consultoria WayCarbon, que pode ajudar os clientes a fazer esse inventário.

“O Santander ajuda o cliente a financiar essa jornada, mas é importante que ele entenda exatamente qual é o caminho para reduzir a pegada. Se ele não tem essa inteligência, a gente não consegue prover as soluções financeiras que ele precisa para chegar lá”, afirma Miranda.

Outra forma de atender aos clientes é conectar companhias que buscam soluções de transição sustentável com aquelas que oferecem esse serviço que, muitas vezes, passa por inovação tecnológica. A ideia é que o banco ajude a empresa a levantar capital para investir nessas tecnologias, seja por meio de fusões e aquisições ou operações junto ao mercado de capitais. “Vemos uma nascente de empresas que encontram soluções envolvendo o tema de sustentabilidade e que estão despertando o interesse de grandes companhias”, afirma Miranda.

O executivo conta que o Santander criou um time global chamado ‘Corporate Finance M&A’, que olha as novas tecnologias, como hidrogênio verde, armazenagem de energia, carro elétrico, agricultura e alimentação sustentável, economia circular e materiais sustentáveis, combustíveis verdes (etanol e aviação sustentável). “Uma empresa que acha uma solução para hidrogênio, por exemplo, eleva seus múltiplos e uma hora pode abrir capital. Então, os bolsões de dinheiro que vão se interessar por essas empresas vão mudando à medida que elas vão crescendo”, diz. A ideia é replicar esse modelo no Brasil. Assim, o banco de investimentos já conta com uma pessoa dedicada a tentar conectar grandes empresas e esses provedores de tecnologia, que muitas vezes são startups.

O banco tem um time que se reporta à matriz para construir essas operações. E contará também com consultorias. “Esse processo será implantado com equipe uma multidisciplicinar (tecnologia, negócios, produtos, clientes e controladoria) para reportar e evitar o risco de ‘greenwashing’ (benefício que não se prova verdadeiro)”, diz Marcondes.

O executivo vê o Brasil avançado, sobretudo, em setores de energia renovável. “Fomos o primeiro banco a financiar energia eólica lá atrás, com mais de 300 projetos, também de solar, financiamentos a comercializadoras.”