Depois de dois anos e meio de pesquisas, a primeira “fábrica” de nematoides do País entrará em operação em Indaiatuba, no interior de São Paulo. O negócio é fruto de uma parceria entre o Instituto Biológico, vinculado à Secretaria Estadual de Agricultura, e a empresa de comercialização de biodefensivos Bio Controle.
Os nematoides são vermes de até 1 milímetro de comprimento cuja principal função é atacar pragas de plantas. A produção terá como foco o bicudo da cana-de-açúcar, uma praga antiga que ataca sem perdão a principal lavoura agrícola paulista. É, como brincam os pesquisadores, um “verme do bem”. Segundo Ari Gitz, diretor da Bio Controle, a estimativa é de uma produção inicial de nematoides para dois mil hectares de cana no Estado.
São necessários três avais para a formalização do uso do nematóide. Dois já foram obtidos, o do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e o da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O terceiro, do Ministério da Agricultura, está em fase final de avaliação e deve ser obtido até novembro, diz Gitz.
Com isso, a fábrica pode entrar em operação ainda neste ano. “Até lá, vamos continuar com as pesquisas”, afirma. O uso do nematoide para o combate de pragas pode ocorrer também na produção de flores, entre outros cultivos. Este será, segundo Gitz, o primeiro registro de defensivo macrobiológico do País – termo usado em referência a defensivos biológicos visíveis a olho nu.
“Até então tínhamos apenas pesquisas nessa área. A partir de agora teremos uma produção em escala industrial”, afirma o diretor-geral do Instituto Biológico, Antonio Batista Filho. Para a Biocontrole trata-se também de um avanço e tanto: até então, a empresa apenas comercializava biodefensivos. Esse será seu primeiro passo na produção.
Os nematóides ainda não serão a solução definitiva para garantir a saúde da cana, alerta Batista, mas uma ferramenta extra para o controle biológico do bicudo, contido hoje com o uso amplo de produtos químicos.
A nova fábrica levará ao canavial o verme de nome Heterorhabditis, gênero de nematoide que carrega em seu intestino uma bactéria fatal. Assim que penetra no inseto, ele libera a bactéria, que se multiplica e provoca a morte do hospedeiro. O processo todo dura de 24 horas a 48 horas.
O Heterorhabditis tem também uma vantagem: seu peculiar comportamento de “procura e perseguição” do hospedeiro. Graças a quimiorreceptores na região cefálica, ele é capaz de localizar com facilidade o bicudo por meio, principalmente, das liberações de gás carbônico da vítima. De acordo com o diretor do Instituto Biológico, “foi a melhor resposta encontrada”.
Para o pesquisador Luís Garrigós Leite, do Laboratório de Controle Biológico do Instituto, a nova fábrica dará outras alternativas aos produtores. Ele explica que bioinseticidas similares são fabricados em outros países, mas não são importados devido à burocracia (questão de sanidade) e ao alto custo desses produtos. Segundo Leite, a dose de bioinseticida por hectare custa, em média, US$ 200. (Com Patrick Cruz)