Ao mesmo tempo em que enfrenta uma crise energética este ano por causa do baixo volume de água nos reservatórios que abastecem as usinas hidrelétricas, o Brasil recebe boas notícias no setor de energia elétrica. O país subiu quatro posições em um ranking mundial sobre energia renovável e ocupa o 11º lugar em uma lista de 40 países, sendo o líder na América Latina.
As informações constam do Índice de Atratividade de Países em Energia Renovável (Recai, na sigla em inglês), elaborado pela consultoria EY. Produzido desde 2003, o Recai classifica os 40 principais mercados do mundo em relação à atratividade de seus investimentos e oportunidades de implantação de energia renovável, como eólica e solar.
De acordo com projeções do Operador Nacional do Sistema (ONS), do governo federal, as duas fontes vão aumentar sua participação na matriz energética nacional e reduzir a dependência de grandes hidrelétricas. Pelos cálculos do ONS, em 2025, cerca de 15% da matriz será eólica e solar. Hoje, esse índice (eólica solar) está em torno de 11%.
“O Brasil tem uma dádiva natural que é a possibilidade de diversificação de suas fontes energéticas. Temos sol em abundância, água, vento, petróleo e biomassa”, explica André Flávio, diretor-executivo do setor de energia da EY. “Por outro lado, como são muitas fontes, não conseguimos estruturar para saber o ponto forte de cada uma delas”, completa.
Segundo o especialista, é preciso diferenciar fontes renováveis das fontes alternativas renováveis. No primeiro grupo estão incluídas as grandes hidrelétricas, que são consideradas fontes renováveis. Já as fontes alternativas renováveis são a eólica, a solar, as pequenas hidrelétricas e a biomassa (queima de bagaço de cana, por exemplo).
Alguns fatores, diz André Flávio, explicam a melhoria de posição do Brasil no Recai. Entre eles, maior incentivo público e melhoria nas regras referentes ao setor de fontes alternativas renováveis, câmbio favorável para investimentos internacionais e demanda interna por fontes alternativas.
Em uma época em que o conceito ESG (governança ambiental, social e corporativa) avança no mundo corporativo, as empresas também valorizam, cada vez mais, o uso de energias limpas em seus negócios.
O estudo destaca o avanço da energia eólica no Brasil, cujas condições naturais favorecem a implantação de usinas eólicas em boa parte da costa territorial e projetos offshore (fora da costa, como turbinas instaladas no mar).
“O potencial do Brasil é enorme. Para se ter uma ideia, ainda não exploramos nada da eólica offshore no País”, explica Flávio. Segundo ele, um dos grandes desafios para os próximos anos é tornar o preço da energia alternativa renovável acessível ao consumidor final, de tal maneira que compense a substituição de outras fontes tradicionais em uso.
No ranking geral do levantamento, Estados Unidos e China seguem nas primeiras colocações globais. Já o Leste Asiático, assim como o Brasil, também desponta como destino com alto potencial para investimentos. À frente do Brasil estão países como Reino Unido (4º lugar no ranking geral da EY), França (5º), Austrália (6º) e Alemanha (7º). O mercado de energia renovável registrou, no ano passado, investimentos de mais de US$ 300 bilhões de dólares.