O plantio de soja não transgênica do Brasil na nova temporada (2022/23) deverá crescer 24%, em ritmo muito superior ao da área total semeada, formada em sua grande maioria por grãos geneticamente modificados, com uma demanda maior da Europa levando à forte alta nos prêmios do grão convencional, de acordo com estudo do Instituto Soja Livre (ISL).
Além da demanda crescente europeia por produtos não transgênicos, o Brasil deverá ocupar espaço deixado pela Índia, que planta somente soja convencional e tem limitado embarques de produtos agrícolas, em momento que os preços de óleos vegetais dispararam.
Outro fator citado pela ISL é recente movimento da Bunge no Brasil para operar unidades industriais da Imcopa, que processa somente grãos convencionais, uma demonstração da aquecida demanda externa.
“A soja que a Índia produz é toda convencional, mas vendida para a Europa sem prêmio, sem sustentabilidade… e agora com a pandemia, a Índia fechou suas fronteiras para exportação de alimentos e gerou essa demanda extra (para o Brasil)”, disse o diretor de Relações Internacionais do ISL, Endrigo Dalcin, à Reuters.
De outro lado, com a menor oferta de soja convencional no mundo, compradores europeus estão fechando negócios antecipados com produtores brasileiros, pagando prêmios de até 11 dólares por saca de 60 kg, com média de 6 dólares/saca em Mato Grosso para a próxima safra, enquanto uma saca no mercado tradicional está sendo cotada próxima de 40 dólares em algumas praças.
“Cada vez mais os europeus estão exigindo leite com vaca alimentada com farelo de soja convencional, ovo de galinha alimentada com soja convencional”, disse ele, citando que na Alemanha há até movimento para que a produção de suínos seja feita toda com grãos não transgênicos.
A soja não transgênica respondeu por apenas 2% da área plantada no Brasil, maior produtor e exportador da oleaginosa, que somou quase 41 milhões de hectares em 2021/22, de acordo com a ISL, associação que reúne produtores, tradings, sementeiros e a Embrapa.
Mas na nova temporada (2022/23), com plantio a partir de meados de setembro, a área de soja convencional deverá atingir quase 1 milhão de hectares, versus 793 mil hectares em 21/22, com impulso de Mato Grosso, maior produtor brasileiro da oleaginosa, que também responde por aproximadamente metade da produção não transgênica do país.
O instituto não fez projeções para a safra total brasileira, incluindo a soja transgênica. Mas algumas consultorias esperam um crescimento de cerca de 3% na área plantada.
Em soja transgênica, Mato Grosso também é seguido pelo Paraná, cuja área deve passar de 211,5 mil para 264,3 mil hectares, disse o instituto, que aponta também crescimento em Goiás, para 85,3 mil hectares.
Mas é em Mato Grosso o crescimento esperado no plantio mais expressivo em soja convencional, de 34,6% em comparação com a safra anterior, o que elevaria a representatividade da produção não transgênica de 3,3% para pouco mais de 4% do total, enquanto a maior parte ainda seguiria transgênica, segundo o ISL.
Para o coordenador-executivo do ISL, Eduardo Vaz, a soja convencional deve ganhar área pelo menos nas próximas duas safras, diante da forte demanda e da baixa oferta do produto.
O ISL citou números do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) apontando que os custos da soja convencional são 3% maiores que a transgênica, mas há um ganho médio em rentabilidade que supera o equivalente a 7,5 sacas a transgênica, considerando os prêmios pagos.