Modelo em irrigação, reúso e gestão de água, as tecnologias desenvolvidas em Israel nos kibutz – fazendas comunitárias criadas na década de 40 – e Moshaves – fazendas cooperativas – ganharam o mundo nos últimas décadas. Hoje, a colaboração entre agricultores, cientistas e governo gerou uma moderna indústria, que desenvolveu sistemas de abastecimento, além de ferramentas e equipamentos inovadores, revolucionando o conceito de agricultura irrigada.
Três técnicos da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR) visitaram Israel para conhecer parte dessa estrutura e analisar possibilidades de transferência de conhecimentos para o Brasil. Durante cinco dias, Rafael Nascimento da Costa, do SENAR; Nelson Ananias Filho, da CNA; e Josimar Gomes, do SENAR-RN, viajaram por todo o país. Eles participaram da Watec, uma das feiras mais importantes do mundo sobre irrigação, e visitaram empresas de equipamentos, infraestrutura hídrica e tecnologia. Pesquisa, extensão e capacitação também fizeram parte da pauta da visita técnica.
O roteiro passou pela Soreq (maior usina de dessalinização do mundo), Netafim (que produz equipamentos de irrigação por gotejamento e microaspersão) e a Mekorot (empresa nacional de água de Israel). Além disso, os brasileiros conheceram o Volcani Institute (organização com atuação em pesquisa agrícola, instituto análogo à Embrapa brasileira), o Instituto Galillee (que promove capacitações de técnicos em diversas áreas agrícolas e de meio ambiente) e o Arava Institute (empresa de inovação voltada ao desenvolvimento de pesquisas para desenvolvimento no deserto), Evogene (empresa de tecnologia genética que pesquisa variedades para produção de biodiesel, entre outras.
Na opinião de Rafael Nascimento da Costa, o Brasil não está atrasado em relação à tecnologias de produção agropecuária, na comparação com Israel. O diferencial daquele país são os programas de gestão e as pesquisas para o melhor aproveitamento da água. Outro aspecto que chamou a atenção do assessor técnico do SENAR foram as parcerias público-privadas firmadas em Israel.
“Precisamos ter mais diálogo entre as entidades governamentais e representativas no Brasil, como a CNA e o SENAR. É viável ampliar tecnologias e softwares de monitoramento da água no Brasil, mas para que a irrigação seja profissional é preciso ter mais informações e investir em capacitação”, observa.
Nelson Ananias Filho acredita que o Brasil não precisa adotar todo o arcabouço tecnológico, porque não existem condições tão restritivas como as que foram vistas no território israelense, mas pode aprender boas lições de uso consciente e governança – como o reuso e o tratamento de efluentes – para manter os seus mananciais e aumentar a produção agropecuária. Ele ressalta que até mesmo o semiárido brasileiro registra índices pluviométricos superiores às regiões onde chove em Israel, mas o desafio é saber aproveitar essa vantagem natural. O sistema israelense de gestão do uso da água trata chuva como “bônus” de oferta de água. No Brasil, o manejo da água de chuva é a solução.
“Eles optaram por uma matriz tecnológica e de desenvolvimento com o uso de água sem desperdício e reúso para exploração de áreas produtivas. Podemos pegar exemplos sobre extração, reciclagem e informações para a tomada de decisão correta, ou seja, saber o que, como e quando irrigar”, declara.
O assessor técnico do SENAR-RN, Josimar Gomes, acredita que Israel pode ser um modelo de reúso de água em grande escala para a agropecuária brasileira. Ele já desenvolve um sistema de filtragem natural de água cinza (proveniente de banho, pias e lavanderia) para o cultivo de palma, milho e sorgo em uma pequena propriedade no município de Lajes (RN). Segundo ele, aproximadamente 90% da água utilizada na produção agrícola israelense é reaproveitada e os índices de produtividade alcançados pelo país são “formidáveis”.
“É uma tecnologia possível de ser adaptada ao Brasil, desde que tenhamos a visão de querer mudar e chegar onde Israel chegou. Tiramos água limpa dos nossos mananciais e rios e devolvemos ela poluída. Isso é uma contradição! E dinheiro não é o problema. A questão é cultural e de educação”.