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Brasileiros vão à Dinamarca conhecer os segredos de uma suinocultura altamente produtiva

Dinamarca não utiliza antibióticos promotores de crescimento na alimentação animal e obtém elevados índices de produtividade. País exporta 85% de toda a produção de carne suína.

Redação SI 04/12/2003 – 10h40 – A Dinamarca é um dos maiores produtores e exportadores de carne suína do mundo. Com plantel de 12 milhões de animais, o país produz cerca de 2,5 milhões de toneladas de carne por ano e exporta 85% desse total, ou cerca de 2 milhões de toneladas/ano.

Os números comprovam que a produtividade da suinocultura do país escandinavo é uma das maiores do mundo. O Brasil, por exemplo, tem plantel de 36 milhões de suínos, três vezes maior que o dinamarquês, mas produz 2,6 milhões de toneladas   praticamente o mesmo que a Dinamarca e exporta 500 mil toneladas/ano (75% a menos).

O mais impressionante é que esse espetacular resultado da Dinamarca é obtido sem a utilização de antibióticos promotores de crescimento, cujo processo de banimento começou em 1994 e deflagrou movimento em toda a União Européia para a proibição total dos promotores de crescimento a partir de janeiro de 2006. Mas, afinal, é possível ser eficiente na suinocultura sem a utilização de antibióticos promotores de crescimento nem mesmo na produção interna?

Um grupo de 13 representantes de importantes organizações suinícolas do Brasil foi conferir de perto a realidade da suinocultura da Dinamarca para entender melhor as razões do sucesso da atividade. A convite da Alltech, empresa líder em soluções naturais em saúde e alimentação animal, técnicos, diretores e nutricionistas das maiores integradoras de suínos e empresas de insumos permaneceram uma semana naquele país, onde conheceram de perto todas as etapas de produção da carne suína da chegada da matéria-prima utilizada na ração (farelo de soja do Brasil e da Argentina), passando pelo sistema de cooperativas, abatedouros e supermercados e entenderam os motivos que levam aquele país a ser tão competitivos, inclusive no mercado externo, onde são concorrentes do Brasil.

“A suinocultura dinamarquesa vende 85% do que produz e trabalha, basicamente, em sistemas de cooperativas, que não competem entre si. No Brasil, quem vende a carne são as empresas e, em se tratando de mercado, há sempre a concorrência, além dos problemas normais de oferta e procura, que podem derrubar os preços”, informa Elias Zydek, diretor executivo da Frimesa Cooperativa Central (Medianeira/PR), um dos brasileiros convidados pela Alltech.

Duas empresas de nutrição em especial chamaram a atenção dos brasileiros, a DLA e a DLG. Juntas, elas detêm mais de 90% do mercado de alimentação de suínos da Dinamarca e trabalham em conjunto com produtores para fortalecer a marca “Danish Crown” no mercado externo a cooperativa, de mesmo nome, é responsável pelo abate de 90% dos suínos. “A suinocultura dinamarquesa quer ser a segunda opção mais lembrada pelos consumidores, depois da marca do próprio país de consumo. Para isso, investem pesado em genética (100% dinamarquesa), sanidade, alimentação dos suínos e segurança alimentar”, informa Jorge Pederiva, gerente de compras da Perdigão.

Os especialistas brasileiros ficaram particularmente impressionados com as questões sanitárias e de segurança alimentar, levadas a extremos na Dinamarca, o que reforça a preocupação em oferecer aos consumidores alimentos cada vez mais seguros. “A Dinamarca possui um complexo sistema de controle sanitário e foram pioneiros na eliminação de antibióticos promotores de crescimento. Além disso, levam muito a sério a rastreabilidade e preocupam-se com o bem-estar dos animais, tanto que estão adaptando todas as granjas para oferecer mais conforto aos suínos, evitando estresse e, conseqüentemente, aumentando a produtividade”, relata Pederiva, da Perdigão.

Nem mesmo o alto custo de produção no país, cerca de R$ 3,60 o quilo vivo, contra R$ 1,60 o quilo vivo no Brasil (custo médio), são problemas para os suinocultores da Dinamarca, já que a suinocultura dinamarquesa investe no fortalecimento da marca Danish Crow. “Por outro lado, o prazo de retorno dos investimentos na Dinamarca varia de 15 a 20 anos. Isso seria impossível no Brasil, onde existe a cultura do retorno imediato”, informa Elias Zydek, da Frimesa.

A principal lição tirada da viagem à Dinamarca foi o profissionalismo com que a atividade é tratada no país, além, obviamente, da questão de sanidade e segurança alimentar, levadas realmente às últimas conseqüências por toda cadeia produtiva. “É um sinal que o Brasil, como quinto maior exportador mundial, deve ficar atento aos passos dos nossos concorrentes, principalmente em relação à alimentação dos animais, que deve ser a mais natural possível, livre de antibióticos promotores de crescimento”, explica Jorge Pederiva, da Perdigão.