Dois meses antes de deixar o cargo para disputar a eleição de 2010, o ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Reinhold Stephanes (PMDB), assumiu ontem a condição de candidato a deputado federal do setor agropecuário. Na reunião de fechamento das contas de 2009 dos líderes sindicais rurais do Paraná – realizada em Curitiba ontem (25/01) – o ministro fez um balanço de sua gestão e diagnosticou que os produtores carecem de representantes fortes em Brasília.
“Quem é o representante dos produtores de trigo? E o representante dos produtores de bois? Eu, normalmente, não sei quem é. Agora, eu sei quem é o representante dos compradores de trigo, dos exportadores de carne. É um ex-ministro, um ex-embaixador, uma pessoa que faz um lobby extremamente elevado. Quem é o representante dos produtores?”, questionou o ministro, que se colocou como um defensor das principais bandeiras da agropecuária – como a revisão do Código Florestal e o fim da dependência dos fertilizantes importados.
O presidente da Federação da Agricultura do Paraná (Faep), Ágide Meneguette, disse concordar que faltam líderes à agropecuária. Ele adiantou que a entidade vai tentar mostrar aos produtores quais políticos assumem compromissos com o setor. “Tenho certeza que o ministro vai ser reconhecido nas urnas”, declarou. Ágide, porém, ponderou que a Federação não pode indicar candidatos, por questão estatutária.
Antes do discurso de Stephanes, a Faep distribuiu aos líderes sindicais que atuam no interior do Etado boletim em que elogia a atuação “rigorosa e serena” do ministro. A foto dele aparece na primeira página com a mensagem “Estilo Stephanes: No peito e na raça… mas sem perder a ternura”.
Stephanes deve deixar o ministério da Agricultura em abril para disputar o sétimo mandato para a Câmara Federal. Existem dois nomes cotados para assumir o posto: o do secretário-executivo do ministério Gerardo Fontelles e o do presidente a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Francisco Rossi.
Críticas
O ministro voltou a criticar ontem o Programa Nacional de Direitos Humanos. Ele disse que a discussão de mandados de reintegração de posse da Justiça em audiências públicas é inconstitucional e provocou quem defende esse trâmite. “Na hipótese de essas audiências ocorrerem, teriam de funcionar também para ocupações nas cidades.” Em sua avaliação, a sociedade urbana não compreende a posição dos produtores rurais.
Para o ministro, quando o assunto é meio ambiente, essa situação se agrava. Stephanes diz que os especialistas do ministério da Agricultura raramente são chamados para discussões, mesmo quando o tema diz respeito à produção rural. “Os maiores especialistas no assunto não estão no Meio Ambiente, mas na Agricultura. Temos 50 doutores e pós-doutores”, garantiu, citando os técnicos da Embrapa. O ministro comentou que os programas de governo e a própria legislação adotam indevidamente posição claramente ideológica.
Reaproximação
Stephanes trabalhou oito anos no Ministério da Agricultura nos anos 70, e foi secretário da Agricultura do Paraná, de 79 a 81. Mas nas duas décadas seguintes se concentrou em áreas como administração, planejamento, trabalho e previdência. A reaproximação com a agricultura, após 26 anos, teria sido uma surpresa inclusive para ele. “Se alguém me perguntasse se eu seria ministro da Agricultura quatro dias antes de assumir (em 27 de março de 2007), nem eu saberia dizer. Agora, não tomo como estratégia, mas se for convidado, serei ministro de novo. Minha paixão é a agricultura.”
Por essas décadas de distância do setor agrícola, o ministro admitiu que os agricultores “nunca foram” seus eleitores à Câmara Federal. “Mas isso não me preocupa”, disse. Ele relatou que vem recebendo amplo apoio do setor não só no Paraná, mas também em estados como Mato Grosso do Sul e Minas Gerais. “Numa palestra para 5 mil pessoas em Minas, fui aplaudido de pé por quatro minutos. Há uma unanimidade”, afirmou.