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Logística

Caos logístico brasileiro se revela com previsão de safra recorde

Atrasos nos portos já fizeram com que o Japão cancelasse um pedido de milho brasileiro e comprasse dos EUA, depois que um importador reclamou de atraso no embarque em setembro.

Caos logístico brasileiro se revela com previsão de safra recorde

Gargalos logísticos e atrasos nos transportes previstos para o início do próximo ano no Brasil deverão desacelerar o fluxo de uma safra recorde de soja para compradores ao redor do mundo, que estão contando com a América do Sul para preencher o vazio deixado pela quebra de colheita nos EUA, atingidos por uma seca.

Começam a crescer as dúvidas de que o Brasil consiga escoar até 20 por cento a mais de soja através de uma rede de transporte carente de caminhões, estocagem e capacidade portuária, deixando importadores e traders vulneráveis.

“O Brasil não está preparado para esta colheita, nós precisamos resolver nosso problema logístico com urgência”, disse Antonio Alvarenga, presidente da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA).

Apesar de ser improvável que o Brasil venha a descumprir seus contratos de exportação, atrasos podem levar compradores a buscar suprimentos nos EUA, pagando preços mais altos, ameaçando as aspirações do país de se tornar o maior fornecedor de soja após os Estados Unidos terem reduzido sua produção neste ano.

Atrasos nos portos já fizeram com que o Japão cancelasse um pedido de milho brasileiro e comprasse dos EUA, depois que um importador reclamou de atraso no embarque em setembro.

“E isso acontece numa época em que o Brasil não tem nenhuma soja!”, disse o analista Steve Cachia, da Cerealpar, a respeito da desistência japonesa.

“Quero acreditar que não teremos problemas sérios, mas veremos volumes altos… Abril e maio serão os piores meses”, disse ele à Reuters.

Em janeiro, o Brasil iniciará a colheita de uma safra de soja estimada para ser recorde em 81 milhões de toneladas, um volume que deverá colocar o país como maior produtor mundial da oleaginosa, ultrapassando os EUA pela primeira vez.

No entanto, haverá pouco tempo para comemorar, já que a oferta extra deixará claro quão inadequada continua sendo a infraestrutura brasileira, num momento de expansão de sua agricultura.

Pesquisadores do setor de logística da Universidade de São Paulo disseram que a chegada da soja, em conjunto com uma esperada recuperação de produção de açúcar em abril e maio, poderia resultar em uma falta de caminhões, enquanto navios ancorados e à espera de carregamentos poderiam ser multados por atrasos, elevando os custos.

Chuvas que são frequentes até março poderiam também dificultar os embarques de granéis em porões abertos, enquanto o país tentará escoar 36,25 milhões de toneladas da oleaginosa, em projeções do governo, um volume bem maior que as 31,25 milhões de toneladas exportadas na temporada que está se encerrando.

“Isto está fazendo o mercado questionar a capacidade que o Brasil tem para atender à demanda mundial de soja entre fevereiro e setembro de 2013”, disse um trader de grãos local.

Um cenário similar afetou o setor da cana em 2010, quando uma colheita recorde aliada a uma enorme procura pelo produto no início da safra e a chuvas atrasaram os carregamentos nos portos.

O problema elevou o tempo de operação dos navios nos dois principais portos brasileiros, Santos e Paranaguá, de alguns dias para um mês no pico da colheita, custando caro para os importadores em multas e afretamento de navios. Também levou um mercado carente de açúcar a ofertar valores recordes pela commodity.

Uma nova lei que obriga caminhoneiros a descansarem por um período específico poderia adicionar complicações extra em um modal de transporte que é responsável por 70 por cento do transporte de grãos brasileiros destinados à exportação.

A legislação pode reduzir a capacidade de escoamento rodoviário do país em 30 por cento, disse a associação que reúne empresas transportadoras direcionadas ao agronegócio (ATR Brasil).

“Essa mudança foi feita num momento de crise e está criando caos logístico”, disse Rogério Martins, diretor da entidade.

Esmagamento de soja – O governo brasileiro minimiza os gargalos que se somam dizendo que investimentos irão resolver a questão em alguns anos.

“Há avanços na agricultura brasileira que a infraestrutura não consegue acompanhar no que diz respeito às exportações”, disse à Reuters Derli Dossa, chefe da Assessoria de Gestão Estratégica do Ministério da Agricultura. “É melhor que a gente aumente a oferta mesmo se isso signifique ter todos esses problemas”.

Dossa afirma que a logística vai começar a melhorar após a próxima safra, mas levará provavelmente quatro a cinco anos para ter resultados com os investimentos públicos e privados.

O governo vai oferecer concessões no setor de rodovias e ferrovias num total de 133 bilhões de reais, com o objetivo de melhorar a estrutura de transporte.

O aperto logístico pode se espalhar por todo o sistema de produção, desde a falta de armazéns –que deixou milho empilhado a céu aberto no Centro-Oeste este ano– até a fila de caminhões cujas cargas os portos não conseguem digerir com rapidez suficiente.

“Não temos a resposta para o curto prazo, e precisamos ter uma”, disse Carlo Lovatelli, presidente associação das indústrias de soja (Abiove), durante um evento em São Paulo na quarta-feira (28).