O aumento do consumo de alimentos como osso de boi e carcaça de frango, que antes chegavam a ser descartados ou doados, fez com que o Procon Pernambuco identificasse uma variação de preços de até 220%. Essa foi a primeira vez que o órgão, que atua na proteção e defesa dos direitos dos consumidores, incluiu esses produtos na pesquisa.
“Para não ficar com fome, as famílias terminam comprando estes produtos”, afirma o economista Écio Costa, professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
Foram visitados, entre 8 e 12 de novembro, 22 estabelecimentos da Região Metropolitana do Recife, (RMR) para checar os preços destes alimentos, bem como de carnes bovina, suína e de frango, queijos e presuntos.
Em um estabelecimento, o osso bovino custa R$ 2,50. Em outro lugar, é vendido por R$ 8. A diferença de preço chega a 220%. A carcaça de frango é encontrada por R$ 2,50, em um lugar, e por R$ 5,99, em outro. A variação é de 139,60%.
De acordo com o secretário de Justiça e Direitos Humanos de Pernambuco, Pedro Eurico, o Procon incluiu os produtos no levantamento após receber denúncias do aumento excessivo dos preços.
“Começamos a observar que esses dois produtos, que no passado eram até distribuídos de graça aos pobres, começaram a ter um valor. A gente passou a receber denúncias de que esses produtos estavam aumentando exorbitantemente de preço. Não vamos tabelar preço, mas precisamos deixar claro que qualquer preço abusivo fere o código de defesa do consumidor”, disse.
Com a alta acumulada de mais de 20% no preço cobrado nos açougues, os pernambucanos têm tido dificuldade para compor o clássico prato com arroz, feijão e carne.
O secretário criticou quem pratica preços excessivos. “Isso reflete a situação de miséria, de pobreza absoluta que boa parte da população está submetida. Os que ainda podem consumir algum tipo de proteína estão comprando salsicha e, às vezes, ovos”, disse.
O abandono da carne vermelha foi a saída para 67% dos brasileiros economizarem nas refeições, de acordo com a pesquisa Datafolha divulgada em 20 de setembro.
A alta acumulada no preço da carne bovina chegou a 36%, entre agosto de 2020 e 2021, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O frango encareceu até mais nesse período: 40,4%. O ovos subiram 20%.
Imagens de pessoas buscando ossos que costumavam ser descartados por frigoríficos e açougues viraram um retrato da realidade de famílias de baixa renda nos últimos meses no Brasil. A venda dessa mercadoria era uma exceção, mas acabou se tornando uma regra.
Análise
De acordo com o economista Ecio Costa, professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e consultor de empresas, a inflação está concentrada em itens que são do consumo cotidiano das famílias e penaliza mais a baixa renda.
“A gente está chegando ao fim do ano com uma inflação pressionada e o salário da maioria dos trabalhadores só é ajustado anualmente e, em geral, no início do ano. Então, o poder aquisitivo das famílias mais pobres se deteriorou muito ao longo do ano. Para consumir proteína, as famílias acabam comprando esses produtos”, destacou.
Para o economista, a inflação deve ceder no próximo ano, mas não de imediato. “Se tem um aumento do preço da carne bovina termina puxando também o preço da carne de frango, da carne suína, fontes de proteína que tem substitutos. A mesma coisa com a gasolina e o etanol. O mercado todo está super aquecido. Vai levar um certo tempo ao longo do ano para que se reorganize”.