O Carrefour da França anunciou recentemente que não comercializará carne proveniente de países do Mercosul. Seguindo essa decisão, o grupo varejista francês Les Mousquetaires também informou que deixará de vender carne do bloco sul-americano. A declaração oficial foi feita na noite de quinta-feira (21/11).
Thierry Cotillard, CEO da Les Mousquetaires, explicou a decisão, destacando a importância de proteger a produção nacional de alimentos: “Sobre essas questões, que dizem respeito diretamente à nossa soberania alimentar, devemos agir coletivamente. Todos devemos nos mobilizar”.
O grupo Les Mousquetaires é um importante conglomerado varejista na França, controlando sete marcas: Intermarché e Netto, especializadas em supermercados; Bricomarché, Brico Cash e Bricorama, focadas no setor de bricolagem; e Roady e Rapid Pare-Brise, voltados para serviços automotivos. A decisão de interromper as compras de carne do Mercosul afeta diretamente todas essas redes.
Ao boicotar a carne do Mercosul, Cotillard defende a ideia de proteger os agricultores franceses e as normas locais de produção.
Pressão contra o acordo Mercosul-União Europeia
A decisão reforça a resistência francesa ao acordo de livre comércio entre a União Europeia e o Mercosul. A assinatura do tratado, prevista para 6 de dezembro, enfrenta forte oposição do governo francês e de produtores agrícolas locais.
Nesta semana, os agricultores franceses intensificaram os protestos. Na terça-feira (19/11), o ministro da Agricultura e Pecuária do Brasil, Carlos Fávaro, anunciou os dados previstos para a assinatura do acordo. Em resposta, o sindicato Coordination Rurale (CR47) bloqueou, na noite de quarta-feira (20/11), as estradas de acesso ao porto de Bordeaux, importante ponto de conexão com o Atlântico.
Negociações com o governo francês
Na sexta-feira (22), os agricultores liberaram as vias após o primeiro-ministro da França, Michel Barnier, atender às demandas do setor. De acordo com José Perez, presidente do CR47, o desbloqueio ocorreu após o compromisso de Barnier em revisar a “sobretransposição” de regras impostas pela União Europeia, que, segundo os agricultores, prejudicam determinados setores agrícolas.
“O primeiro-ministro respondeu ao nosso pedido e declarou no Senado que ‘os agricultores têm razão, há critério demais’”, afirmou Perez à Agence France-Presse (AFP). Apesar da divulgação, o sindicato afirmou que novas ações poderão ocorrer na próxima semana, dependendo do andamento das negociações.
Além do boicote à carne do Mercosul, os agricultores também criticam a importação de cereais de países que seguem normas diferentes das francesas. “A guerra está longe de ser vencida. Queremos ações agora, não palavras. A partir de segunda-feira, vamos entrar em contato novamente com o primeiro-ministro”, declarou Perez.
O cenário reflete a crescente mobilização de agricultores e varejistas franceses contra práticas comerciais que, segundo eles, colocam em risco a soberania alimentar do país.