O Brasil está prestes a receber um investimento significativo de US$ 5 bilhões em um projeto dedicado à produção de hidrogênio verde (H2V) no Complexo Industrial e Portuário do Pecém, localizado no Ceará. Esse aporte será realizado pelo grupo australiano Fortescue, liderado pelo magnata da mineração Andrew Forrest. A empresa, classificada como a quarta maior mineradora do mundo, obteve a primeira licença prévia no país para a implementação de uma planta de tal envergadura.
Andrew Forrest tem direcionado investimentos para diversas instalações de produção de hidrogênio ao redor do mundo. De acordo com ele, a disponibilidade de energia solar e eólica a preços acessíveis coloca o Brasil em uma posição competitiva em relação à indústria de combustíveis fósseis. Forrest destaca que, ao invés de exportar petróleo e gás, o Brasil pode se tornar um exportador de combustíveis e energia limpa, oferecendo uma alternativa mais econômica do que a queima de óleo e gás. Ele expressou entusiasmo com a perspectiva de competir no setor de combustíveis fósseis por meio dessa abordagem mais sustentável.
O projeto apresenta um potencial para produzir 837 toneladas de hidrogênio verde por dia, utilizando 2.100 MW de energia renovável. A empresa estima que a iniciativa possa gerar cerca de cinco mil empregos durante a fase de construção. A localização estratégica do projeto no Porto de Pecém permitirá exportações para os mercados dos Estados Unidos e da Europa a custos mais baixos em comparação com outros terminais no país.
A produção de hidrogênio verde no Brasil é uma alternativa promissora para impulsionar a transição para uma economia de baixo carbono. Esse método específico de produção do elemento químico envolve o uso de eletricidade renovável, tornando todo o ciclo de produção isento de emissões de carbono. O hidrogênio verde pode ser utilizado como uma fonte de energia limpa nos setores de transporte, indústria e geração de eletricidade, contribuindo para reduzir a dependência de combustíveis fósseis e diminuir as emissões de gases de efeito estufa.
Atualmente, as iniciativas de hidrogênio verde no país operam no que é chamado de mercado voluntário, onde as regras dependem do que é definido pelos compradores. O hidrogênio de baixo carbono ainda está em fase de regulamentação no Brasil, com projetos de lei em tramitação no Congresso Nacional e uma minuta de regulamentação em elaboração no Ministério de Minas e Energia (MME).
Há mais de 30 memorandos de intenções pelo país visando a criação de novas fábricas de hidrogênio. O projeto da Fortescue já está na fase de pré-contrato, e o grupo recebeu a aprovação do Estudo de Impacto Ambiental (EIA), permitindo que a iniciativa avance para as próximas etapas.
Na semana passada, a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) emitiu os primeiros certificados de hidrogênio verde do Brasil. Esses certificados garantem que os insumos produzidos pela EDP Energias do Brasil e por Furnas Centrais Hidrelétricas, subsidiária da Eletrobras, foram fabricados com energia de fontes renováveis, seguindo as diretrizes europeias. A primeira planta certificada foi a de Furnas em Itumbiara (GO), onde o projeto piloto de hidrogênio renovável começou em maio de 2018, com inauguração em dezembro de 2021, já produzindo 3 toneladas de H2V.
“A certificação é uma iniciativa pioneira, que vai garantir ao cliente a compra de um produto verdadeiramente sustentável. Essa parceria com as empresas representa um passo importante na construção de uma relação de confiança com os investidores do mercado de hidrogênio renovável brasileiro, que vai garantir a liderança do nosso país nos esforços mundiais em prol da transição energética”, destacou Alexandre Ramos, presidente da CCEE. A expectativa é de que o tema avance nos poderes Legislativo e Executivo. Segundo o MME, cerca de US$ 30 bilhões em projetos já foram anunciados.