Apesar da grande concentração em soja, as exportações do agronegócio brasileiro para a China estão mais diversificadas, aponta a “Carta Brasil-China”, publicada pelo Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC). Há oportunidades crescentes em setores como carnes, frutas, laticínios e café, diz o artigo assinado pelo diretor de conteúdo e pesquisa do CEBC, Tulio Cariello, e pela assistente de pesquisa do Conselho, Camila Amigo. Eles lembram que em 2020 as exportações brasileiras atingiram 50% do volume importado pela China, ultrapassando US$ 22 bilhões. “A pauta de exportação do setor está mais diversificada e apresenta grandes oportunidades para produtos brasileiros em um mercado cada vez mais dinâmico e exigente”, afirmam.
Os pesquisadores apontam que esses segmentos, incluindo algodão e fibras têxteis, especiarias e produtos hortícolas, tiveram expansão significativa nas vendas para a China nos últimos quatro anos. Em alguns casos, os aumentos porcentuais de volume e receita foram de três ou quatro dígitos. No caso do café, destaque da carta, as exportações brasileiras cresceram 157% em volume entre 2016 e 2020 e o consumo da bebida no País aumentou entre 7% e 17% anualmente (ante 2% no mundo). “Apesar de ser conhecida como o país do chá, com uma classe média cada vez mais aberta a elementos do estilo de vida ocidental, é comum ver nas grandes cidades do país um número expressivo de cafeterias, que costumam atrair um público jovem e com maior poder aquisitivo”, dizem os pesquisadores.
Esta mudança de hábito pode favorecer o consumo da bebida do Brasil, especialmente o tipo solúvel. “A entrada do café solúvel brasileiro em pontos de venda físicos e online pode ser uma boa iniciativa para que os consumidores chineses passem a conhecer o produto nacional de forma gradual, enquanto o café torrado e moído poderia se tornar um mercado incremental ao solúvel quando a percepção do café na China sofrer uma transição de ‘produto de luxo’ para bebida de hábito diário”, observam os pesquisadores do CEBC. O Brasil é o segundo fornecedor do grão verde para a China, perfazendo 15,5% do volume importado pelo País.
O documento ressalta que a soja permanece sendo o principal produto brasileiro vendido para o país asiático, mas diminuindo sua participação na pauta exportadora. “Em 2016, a oleaginosa contribuía com 70% das vendas do setor. Em 2020, o porcentual foi de 62%, com o aumento do peso de outros produtos, sobretudo as carnes”, pontuam os pesquisadores.
Atrás da soja, as carnes brasileiras são o segundo principal produto comercializado na relação sino-brasileira, perfazendo 19% em 2020 ante 8% em 2016. Durante esse período, segundo dados do CEBC, os embarques cresceram 275% em valor e 179% em volume. Entre as proteínas animais, Cariello e Camila apontam que a perspectiva é de queda no médio e longo prazo nas exportações de carne suína, diante da recuperação do plantel suíno chinês, e aumento nas vendas externas de carne bovina. “Uma oportunidade para o Brasil, que apenas em 2020 foi responsável por 40% do volume importado pelo gigante asiático”, dizem os pesquisadores.