Em um esforço para garantir a sobrevivência dos negócios num mundo que tende a consumir menos combustíveis fósseis, companhias que atuam como fornecedoras de serviços e equipamentos para atividades de exploração e produção de petróleo e gás estão em busca de oportunidades para expandir o leque para fontes renováveis.
No Brasil, um dos exemplos é a Ocyan, que fornece sondas de perfuração de poços para a indústria de petróleo e serviços associados à infraestrutura submarina, e que se associou em setembro à Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica).
Segundo o presidente da Ocyan, Roberto Bischoff, a companhia quer ter 25% dos negócios ligados a áreas fora do setor de óleo e gás até 2045. ”Estamos discutindo há alguns anos nossa visão de longo prazo e percebemos a necessidade de começar a desenvolver novas frentes de negócios”, disse.
No caso da Ocyan, as decisões a respeito da negócios fora do setor de origem estão sendo balizadas por estudos encomendados a consultoria internacionais sobre o potencial de diversificação.
O vice-presidente de inovação e novos negócios da Ocyan, Rodrigo Lemos, diz que a empresa pode aproveitar similaridades em ativos como os navios de lançamento de cabos elétricos, que são demandados tanto pela indústria de petróleo assim como para geração eólica. “Mas, caso a decisão seja investir em um navio de instalação de torres e turbinas ou de fundação, vamos precisar de um navio novo”, diz.
Por também se dar no ambiente marítimo, a área de energia eólica offshore tem grandes similaridades com o setor de óleo e gás, por isso, se torna uma candidata natural a ser uma fonte de novos negócios no longo prazo para as fornecedoras que até então atendiam às petroleiras. Outro exemplo é Subsea 7, que fornece soluções submarinas para exploração e produção de petróleo e foi contratada para instalar sistema de cabo de rede em um parque eólico offshore no Reino Unido.
A companhia também é associada à Abeeólica no Brasil. O Porto do Açu, operado pela Prumo no norte do estado do Rio, por exemplo, atende principalmente empresas que atuam nas Bacias de Campos e Santos, mas tem buscado atrair novas unidades de negócios e fechou recentemente parcerias com Neoenergia para avaliar oportunidades em eólicas offshore e hidrogênio verde. Apesar de ainda não ter ganhado escala no mundo, o hidrogênio verde é um combustível de baixa emissão e um ponto de interseção claro entre as duas indústrias.
Ele pode ser consumido na forma líquida, com semelhanças a outros derivados de petróleo, ou gasosa, assim como o gás natural, mas depende de energia renovável para ser produzida.
Por isso, se torna um candidato de oportunidades também para empresas especializadas em serviços de gás natural.
De olho nessa aproximação entre os setores, em outubro a Abeeólica assinou um memorando de entendimento com o Instituto Brasileiro do Petróleo e do Gás (IBP). O objetivo é que as associadas das entidades troquem conhecimento técnico e experiências. Segundo a presidente da Abeeólica, Elbia Gannoum, o avanço da regulação vai ser importante para que o Brasil atraia fornecedores a indústria eólica offshore, que ainda não tem projetos no país.
“Algumas atividades são muito específicas, muito caras, e percebemos que com o avanço dos investimentos em eólicas offshore no mundo em algum momento vai haver uma competição maior para atrair essas cadeias de fornecedores”, diz.
Para além das sinergias mais claras, há também fornecedoras que olham oportunidades no segmento de geração solar fotovoltaica. O presidente da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), Rodrigo Sauaia, diz que empresas de grande porte que atendem ao setor de óleo e gás em obras de infraestrutura e engenharia como portos e terminais também vislumbram oportunidades no setor solar.
“A tecnologia fotovoltaica é simples, modular, tem uma engenharia bem menos complexa do que a de óleo e gás. Isso facilita, uma empresa acostumada a trabalhar em projetos complexos pode também trabalhar com uma tecnologia mais simples e rápida de se implementar”, diz.
Ele lembra ainda que o fato de muitas empresas que atendem ao setor de petróleo já terem experiências com atividades ligadas à geração termelétricas também facilita a diversificação.
“Desde a década de 1970, o preço da energia solar caiu 528 vezes, a tecnologia se tornou mais acessível e competitiva. As empresas estão vivendo esse movimento global de diversificação para além das fósseis, muitas petroleiras deixaram de se denominar como empresas de petróleo e gás e passaram a se denominar como empresas de energia”, afirma Sauaia.
O presidente do IBP, Roberto Ardenghy, diz que as indústrias de petróleo e gás e de renováveis estão caminhando lado a lado no desenvolvimento de novas tecnologias e que há “sobreposições” tecnológicas importantes entre os setores, principalmente nas áreas de geotermia, eólicas offshore e hidrogênio.
“A expansão das tecnologias de descarbonização e a retração dos custos vão depender de recursos de engenharia e gerenciamento de projetos em larga escala, expertises associadas às grandes empresas do setor de petróleo”, diz.