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Um sistema que cresce

Cooperativas de crédito crescem e colaboram com o avanço do agronegócio brasileiro

Número de associados a cooperativas de crédito passou de 6,2 milhões em 2013 para 9,6 milhões em 2017

Cooperativas de crédito crescem e colaboram com o avanço do agronegócio brasileiro

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Por Anderson Oliveira

No bojo do crescimento do agronegócio brasileiro ao longo dos últimos anos está a participação cada vez maior das cooperativas de crédito. Foram essas instituições que mais contribuíram para os avanços da produção rural, possibilitando investimentos em mais tecnologia e eficiência da porteira para dentro. O cooperativismo de crédito existe há mais de 100 anos, mas foi principalmente a partir de 1980 ou 1990, após resoluções do Banco Central, que o sistema passou a se expandir com força maior. As vantagens das cooperativas de crédito foram a presença mais forte em cidades e regiões onde os bancos tradicionais ainda não haviam chegado, aponta Maiko Zanello, analista técnico da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar). Atualmente, existem 967 cooperativas de crédito em atividade no Brasil. Há cinco anos, eram 1.149. A redução, no entanto, não se deve a problemas ou riscos enfrentados por estas instituições. “O sistema se profissionalizou mais e se concentrou no sentido de aproveitar melhor as estruturas existentes para reduzir custos e crescer de maneira consistente”, explica o especialista.

Outros números comprovam a avaliação de Zanello. Um deles é o número de cooperados deste sistema, que passou de 6,2 milhões em 2013 para 9,6 milhões em 2017. O crescimento anual foi de 8%, ou seja, em torno de 60 mil novos cooperados a cada ano. Os depósitos nas cooperativas de crédito também cresceram neste período, destaca o analista. Em 2014, o montante – 64% apenas de pessoas físicas – era de R$ 67,6 bilhões. O volume fechou 2017 em R$ 95,8 bilhões. As operações em cartão de crédito também aumentaram 35% de 2016 a 2017.

“A própria natureza do sistema leva ao crescimento. Quando uma pessoa conhece e sente confiança de trabalhar, vê que é muito melhor que o sistema bancário convencional”, explica o analista da Ocepar. Segundo Zanello, o nível de risco das carteiras de crédito das cooperativas do segmento está classificado entre A e B. Além disso, as cooperativas de crédito possuem grande liquidez, porque não se arriscam muito no mercado, ele acrescenta. Em geral, os investimentos dessas instituições são conservadores, mantendo o foco na segurança do negócio.

As cooperativas de crédito também são reguladas pelo Banco Central e os cooperados tem a proteção do Fundo Garantidor do Cooperativismo de Crédito (FGCoop), que garante até R$ 250 por associado. “O sistema também faz parte da Ocepar e da Organização das Cooperativas de Crédito do Brasil, que monitoram os balanços financeiros e, caso não estejam bem, economistas e contadores vão à cooperativa para apresentar possíveis soluções. É um sistema bem consolidado”, afirma Zanella.

O fundo garantidor regulado pelo banco central e operação de até 250 mil por cooperado, o que traz mais segurança ao segurado. O sistema também faz parte do Ocepar e sistema OCB que monitoram elas. Sescoop tem a função de monitorar todas as cooperativas do PR. Mandam para Sescoop todo o balanço financeiro dela. Em casos que não estejam bem, economistas e contadores vão à cooperativa e apresentam soluções possíveis para elas. O sistema, em ultimo caso, se organiza para que cooperado não seja impactado por eventual falência de cooperativa. É um sistema muito bem consolidado.

Maiko Zanello, analista técnico da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar).

Um diferencial das cooperativas de crédito é que não existem clientes ou correntistas. Na verdade, estes são cooperados e ainda se tornam donos das cooperativas. “Todos os anos, as cooperativas de crédito devolvem as sobras no fim do exercício”, conta o especialista. Neste sentido, se nos bancos tradicionais os recursos se concentram nas mãos de famílias ou donos, nas cooperativas de crédito o dinheiro permanece nas regiões atendidas. “É uma nova forma de operar no mercado, no qual não se tira o dinheiro de onde ele está, pois os recursos circulam por ali”. Esse olhar dos correntistas como cooperados que também proporcionam um atendimento diferenciado dos funcionários no atendimento das agências. “O tratamento é especial, uma vez que qualquer cooperado pode um dia ser o presidente da cooperativa”, ressalta Zanello.

A região Sul é onde se concentra a maior parte das cooperativas de crédito. Mais de 50% dos cooperados vivem nos municípios do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Se antes as agências das maiores cooperativas do segmento estavam presentes até mesmo nas menores cidades desses Estados, agora o movimento é inverso. “As cooperativas tem aumentado o numero de postos de atendimento e agências, em uma tendência contrária à do sistema bancário convencional, e estão crescendo nas capitais”, diz Zanello. De 2016 para 2017, o número de agências de cooperativas de crédito cresceu 5%. O foco são cidades como Curitiba e São Paulo, por exemplo.

As maiores cooperativas do setor são aquelas que possuem centrais, como Sicoob, Sicredi, Unicred e Cresol. Com exceção da Unicred, as demais têm forte presença no agronegócio, afirma Maiko Zanello. O Sicoob possui atualmente 16 centrais e 464 singulares. Já o Sicredi, tem cinco cooperativas centrais e 116 singulares, enquanto a Cresol conta com quatro centrais e 110 singulares.

 

UMA HISTÓRIA DE MAIS DE 100 ANOS

Manfred Dasenbrock, presidente Nacional do Sistema Sicredi e da Central Sicredi PR/SP/RJ

O modelo do cooperativismo de crédito chegou ao Brasil em 1902, em uma iniciativa do padre suíço Theodor Amstad. A cidade era Nova Petrópolis, no Rio Grande do Sul. Em conjunto com outras 19 pessoas, ele fundou a primeira cooperativa de crédito da América Latina, que até hoje está em funcionamento: a Sicredi Pioneira. Manfred Dasenbrock, presidente Nacional do Sistema Sicredi e da Central Sicredi PR/SP/RJ, é quem conta essa história. “O sacerdote inspirou-se em um movimento que começou com Friedrich Wilhelm Raiffeisen, alemão que criou em 1864 a Associação de Caixa de Crédito Rural de Heddesdorf. A partir dessa iniciativa, o movimento não somente se expandiu pela Alemanha, mas também por outros países, conquistando amplitude mundial”, relata.

A cooperativa sempre teve grande ligação com o agronegócio, focando a atuação no desenvolvimento dessa atividade. Atualmente, cerca de 18% dos mais de 3,9 milhões de associados são de perfil agro, o que representa mais de 600 mil pessoas distribuídas nos 22 Estados em que o Sicredi está presente, conta Mandredi. “Atendemos produtores de todos os portes, mas nossa principal atuação é com a agricultura familiar, que responde por cerca de 90% da nossa base de associados ligados ao agronegócio”.

Neste sentido, a cooperativa de crédito cresceu nas regiões com maior força no agronegócio. Primeiramente, na região Sul e, em seguida, no Centro-Oeste. O Sicredi possui atualmente mais de 1.600 agências em 22 Estados e no Distrito Federal. Um dos grandes marcos do crescimento do Sicredi foi a partir de 2003, de acordo com Manfredi, quando o Banco Central do Brasil permitiu a todas as cooperativas de crédito trabalharem com todos os públicos (a chamada livre admissão, quando qualquer pessoa, de qualquer segmento, poderia ser admitida como associada das cooperativas). Até este momento o Sicredi, contava com cerca de um milhão de associados. “Após a livre admissão, iniciamos uma trajetória acelerada de crescimento, chegando também em cidades de médio e grande porte”, ressalta.

Chegar ao Nordeste brasileiro e ampliar uso dos meios digitais agora são a chave para a cooperativa de crédito continuar crescendo, afirma o presidente. Neste último ponto, a instituição lançou o Woop Sicredi, aplicativo que permite a pessoas se associarem e abrirem suas contas de maneira totalmente digital, sem precisar ir em uma agência. “Em poucos cliques e escaneando os documentos necessários você tem a sua conta aberta”, conta.

As estratégias tem dado resultado positivo anualmente, segundo Manfredi. Em 2017, a instituição registrou 20% de crescimento, alcançando o resultado líquido de R$ 2,35 bilhões. Os ativos totais apresentaram crescimento de 17,3%, na comparação com o ano anterior, chegando a R$ 77,3 bilhões. Em patrimônio líquido, o Sicredi também conquistou resultado positivo, com aumento de 18,2%, totalizando R$ 12,8 bilhões. Para 2018, a previsão de crescimento permanece em torno de 20%, com investimento de mais de R$ 400 milhões para modernização de sistemas e abertura de novas agências até o fim do ano.

Em 2019, permanecem os planos de ampliação do número de agências por todo o País, destaca o presidente da cooperativa central. São mais de 200 agências planejadas para inaugurar, especialmente em Minas Gerais, no Nordeste e em São Paulo e “mantendo o reforço da operação digital para atingir a mais e mais públicos”.

 

O CRÉDITO SOLIDÁRIO

Adriano Michelon, diretor Superintendente da Central Cresol Baser

O foco do Sistema Cresol atende em torno de 200 mil famílias brasileiras com o objetivo de promover a inclusão na agricultura. Foi no sentido de promover o desenvolvimento local que a cooperativa de crédito se tornou referência nacional e internacional no chamado Crédito Solidário, aponta o diretor Superintendente da Central Cresol Baser, Adriano Michelon. “O Sistema Cresol Baser nasceu há 23 anos com a missão de incluir famílias agricultoras ao sistema financeiro nacional, proporcionando crédito para investir e gerar renda na propriedade familiar. O sistema, ao longo dos anos, se desafiou em ser e fazer a diferença e hoje é referência em crédito solidário, sendo a maior cooperativa do Brasil”, conta ele.

Atualmente, são mais de duzentas mil famílias cooperadas em dez Estados – Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Minas Gerais, Goiás, Rondônia e Amazonas –, onde as cooperativas trabalham para o desenvolvimento econômico e social dos seus associados, proporcionando serviços financeiros a custos inferiores em relação aos do sistema financeiro bancário tradicional.

Segundo Michelon, com foco no atendimento e nas necessidades e demandas do cooperado, a Cresol dispõe de soluções financeiras, como soluções para crédito e movimentação financeira, onde disponibiliza de linhas de recursos próprios para atender às necessidades momentâneas dos cooperados, com créditos rotativos, aquisição de bens móveis, imóveis e serviços. “Mantendo a essência de ser uma cooperativa completa, com produtos e serviços tecnológicos, de uso fácil e inteligente, a Cresol preza pelo grande diferencial de mercado que é o atendimento pessoal, onde nossas equipes estão organicamente ligadas a realidade da comunidade, das necessidades financeiras e de serviços complementares, levando aos cooperados a solução ideal no momento que ele mais precisa”, diz.

Para o público que busca soluções para aplicação financeira, a Cresol possui linhas para aplicação, investimento em cota capital, investimento em planos de Previdência Complementar Privada, os planos de consórcios de serviços, bens móveis e imóveis. Já para garantir, tranquilizar e dar solução de segurança para os cooperados fazerem investimentos a médio e longo prazo, a Cresol possui um grande portfólio de seguros.

A Cresol possui até o momento 240 agências de relacionamento e um patrimônio de referência de R$ 512 milhões. Os depósitos totais somam R$ 881,64 milhões. Segundo a cooperativa, o crédito rural para investimento é de R$ 1,17 bilhão, enquanto o de custeio atingiu 647,82 milhões em 2017.

 

A MAIOR REDE

O Sistema de Cooperativas de Crédito do Brasil (Sicoob) possui 4,2 milhões de cooperados em todo o país e está presente em todos os Estados brasileiros e no Distrito Federal. É composto por 460 cooperativas singulares, 16 cooperativas centrais e a Confederação Nacional das Cooperativas do Sicoob (Sicoob Confederação), segundo informações da assessoria de imprensa. O sistema foi criado em 1997 com o objetivo de organizar e fortalecer um grupo de instituições financeiras cooperativas com foco na solidariedade e intercooperação.

Integram o sistema, ainda, o Banco Cooperativo do Brasil (Bancoob) e suas subsidiárias (empresas de cartões, consórcios, DTVM, seguradora, previdência) provedoras de produtos e serviços especializados para cooperativas financeiras. Com tudo isso, segundo a cooperativa, a rede Sicoob é a quinta maior entre as instituições financeiras que atuam no país com 2,8 mil pontos de atendimento.

A cooperativa informa que diferentes questões impulsionaram o crescimento do Sicoob ao longo de sua história. Dentre eles, o modelo de negócio, o propósito, o foco na comunidade, além da atratividade de suas taxas e tarifas, tecnologia de ponta. Por fim, contribuíram a ampliação da gama de produtos e serviços ofertadas aos seus cooperados. “Gestão eficiente e pautada em sólidos conhecimentos de mercado. Cada vez mais pessoas se interessam pelo modelo, que representa ótima alternativa em relação aos bancos tradicionais”, aponta a instituição.

Conforme o Sicoob, uma das principais vantagens da instituição é que “sua finalidade maior é o desenvolvimento regional das comunidades onde as cooperativas atuam, e não o lucro”. As singulares investem seus recursos no mercado local em que estão inseridas e dão tratamento igual a cada associado, afirma.

Nos últimos 20 anos, o Sicoob registrou crescimento médio anual de 21% em seus ativos, passando de R$ 1,8 bilhão em 1998 para R$ 100 bilhões até setembro de 2018. Segundo a cooperativa de crédito, isso denota o modelo sustentável de suas atividades.