No dia 10 de março, o Paraná conseguiu a chancela técnica de Zona Livre de Peste Suína Clássica Independente e o reconhecimento externo como Área Livre de Aftosa Sem Vacinação pela OIE (Organização Mundial da Saúde Animal).
Essa conquista, além de garantir vantagens sanitárias aos produtores locais em ambiente internacional, abriu as portas para novos mercados, como por exemplo a Europa que só compra de frigoríficos que estejam em Área Livre. Nesse contexto, o Paraná que já vinha aumentando o número de abates em 2020, com um crescimento de 20% nas exportações, quer ultrapassar a marca de terceiro estado que mais exporta carne suína no país.
A Zona Livre colocou o Estado em concorrência direta com Rio Grande do Sul e Santa Catarina, os estados que são atualmente os maiores produtores da carne suína.
Marcos Pezzutti, gerente comercial do RPF Group (Rainha da Paz Foods) – nova marca do tradicional frigorífico Rainha da Paz, com matriz em Ibiporã (Região Metropolitana de Londrina), e quarta maior produtora de proteína suína do Paraná – assegura, no entanto, que a expectativa não é estar em primeiro lugar, agora, mas sim se espelhar na tecnologia dos outros estados do Sul e aprender com eles sobre como lidar com a Zona Livre para assim se consolidar no mercado.
Após isso podem começar a pensar em se tornarem o maior produtor do Brasil, o que seria possível considerando a área territorial de produção paranaense.
O RPF Group vive um bom cenário, com abates diários de 3,1 mil cabeças, a empresa colocou no mercado, em 2020, 100 mil toneladas de proteína suína, um aumento de 30% em relação a 2019. Os quais 13% foram exportados, principalmente para regiões da Ásia, Mercosul e Leste Europeu.
Isso significou um crescimento de 5% nas exportações sobre 2019. E tende a aumentar, uma vez que o mercado interno vem aumentando o consumo de suínos, especialmente em embutidos, como explicou o gerente comercial do RPF Group, Marcos Pezzutti.
A carne suína ser procurada muito como embutida, tem pouca concorrência com o frango ou o boi nesse sentido. O presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Suínos, Marcelo Lopes, assegurou em uma entrevista para a TV Gessulli que o aumento do preço da carne de boi afeta diretamente o aumento do consumo de suínos, que passam a ser uma fonte de proteína mais barata.
Somente ano passado houve um aumento de 18% na carne bovina e Pezzutti alerta que não existe previsão de baixa para o preço da carne bovina.
O que esperar de 2021
Em janeiro, houve quedas acentuadas em todos os estados produtores, o Paraná teve uma retração de 11,2%, com o quilo do animal vivo a R $6,50, em relação ao valor de R $7,32 da primeira quinzena. Pezzutti esclarece que a queda já era esperada devido ao calendário da China, que atualmente é a maior exportadora de suínos do Brasil.
Além disso, soja e milho são commodities que devido a sua grande procura para exportações têm mantido altos preços. Segundo uma pesquisa feita pela Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), o motivo pelo custo de produção do porco aumentar 38% de 2019 para 2020 foi o valor elevado do milho e da soja, que são as bases da alimentação de porcos. Pezzutti confirma que os produtores de suínos estão buscando incentivos para que os preços dessas commodities sejam menores nas transações dentro do país. Assim evitariam um efeito cascata, pois o aumento do preço da ração gera um aumento no preço da carne. Com valores mais acessíveis teriam os preços de exportação competitivos no mercado.
Pezzutti explicou que tradicionalmente a páscoa é uma época que as vendas aumentam, mas este ano por conta do lockdown que está acontecendo em diversos estados brasileiros houve quedas nas vendas. O gerente complementa dizendo que ano passado, mesmo com lockdown, o mercado não se retraiu tanto quanto esse ano.
Ainda assim, o cenário segue promissor para a suinocultura. Até o fim deste ano de 2021 a meta é chegar aos 30% em exportação. Em faturamento, o grupo planeja saltar dos R $812 milhões em 2020 e alcançar R $1 bilhão neste ano. “A carne suína é a proteína animal que mais cresce no Brasil e esse aumento do consumo é puxado pelo fato de ser uma alternativa à carne bovina, custando em média até 50% menos na comparação. As oportunidades no mercado externo também são grandes, principalmente devido à crise sanitária que impactou bastante o rebanho na Ásia”, conclui Pezzutti.
A Ásia, Alemanha e o Leste Europeu foram seriamente impactados pela Peste Suína Africana (PSA), isso abriu mercados aos frigoríficos brasileiros. Como as chances da doença chegar ao Brasil são quase nulas, pois não somos um país importador de suínos e as medidas sanitárias estão sendo respeitadas ao máximo, podemos contar com esse mercado para os paranaenses, principalmente agora com a titulação de Zona Livre.
O gerente da RPF elucidou porque dos investimentos e apostas para o aumento do lucro na suinocultura em 2021, “O investimento não é só porque estamos apostando no mercado, é também porque estamos investindo em mudanças dentro da empresa.”. Pezzutti explicou que estão colocando capital na empresa para aumentar a quantidade de produtos ofertados. E seguem na busca de mais certificações para abertura de comércio com novos países, para trazerem novas possibilidades de mercados. E finaliza esclarecendo que se conseguirem exportar 30% do que exportam hoje já seria ótimo, pois assim atingiriam o faturamento esperado de 1 bilhão de reais, que representa um aumento de R$200 milhões em relação a 2020.