Redação AI 15/04/2002 – Agora você vai conhecer uma granja em Nepomuceno, Minas Gerais, que cria trezentas mil codornas. A primeira coisa que impressiona é a escala. De pinto à codorna velha, são 320 mil aves. Em postura, são 270 mil. Seu José Augusto lida com galinha poedeira desde a juventude. É sócio de um grande aviário. A idéia de criar codorna também é antiga. “Em torno de 25 anos atrás, eu comecei uma criação de 1.500 a 2.000 codorninhas. Só pra ovo. Só que a história pareceu dizendo que o ovo de codorna é afrodisíaco. E era interessante, porque um indivíduo da minha faixa etária não tinha coragem de comprar ovo de codorna porque era criticado”.
Ao longo de 6 anos, a granja vem investindo muito em tecnologia para melhorar a qualidade e reduzir custos. O trabalho começa com a genética das aves. Aqui, só se cria codorna da raça japonesa, uma ave de pequeno porte. Pesa, no máximo, 160 gramas. Por isso, ocupa pouco espaço e consome menos ração se comparada a outras raças. Ela é precoce, inicia a postura por volta dos 40 dias de idade. Também é bastante produtiva. Um lote de cem aves rende 95 ovos por dia. E mais: é um bicho resistente. Tem pouco problema com doença. Comercialmente, as codornas ficam em postura por um ano. Depois são descartadas.
Os pintinhos de um dia são comprados de outra granja. Todo mês, chega um novo lote de 25 mil codorninhas que são alojadas no pinteiro. Aproveitamos também para conhecer a granja onde os pintinhos nasceram, em Suzano (SP). A granja Fujikura é especializada na produção de pintinhos de codorna.
A criação de aves é uma tradição na família do William, responsável pela propriedade. “Antigamente, nós mexíamos com galinha, marreco e pato. Essa experiência veio com o meu pai, do Japão, onde meus avós também mexiam com galinha”, revela William Fujikura, criador. Como cria matrizes, a granja segue um rígido controle sanitário. A gente não pode entrar nos galpões onde estão as poedeiras. Só vamos dar uma espiadinha pela porta. São 50 mil matrizes. A produção de pintos varia de 150 a 250 mil fêmeas por mês, de acordo com os pedidos.
Coletados nos galpões, os ovos vão para chocadeiras como essa. Em 17 dias começam a nascer. A codorninha recém nascida é bem pequena. Pesa entre 7 e 8 gramas. Em cada lote, nascem 50% de machos e 50% de fêmeas. Só uma pequena quantidade de machos é vendida para criações de engorda. A maioria é descartada.
Uma das grandes vantagens da codorna japonesa aparece na hora de se fazer a sexagem, que é feita pela cor. As mais claras são as fêmeas. Mas essa não é uma característica natural, foi um trabalho de seleção genética feita pelo pessoal da granja. “Essa técnica foi desenvolvida pelos meus pais, que estudaram vários anos nesse sentido para aprimorar e conseguir chegar onde chegou”, aponta Fujikura.
Distribuição – Da sexagem, as codorninhas vão direto pras caixas de transporte. As codornas do seu Zé Augusto viajam de caminhão. Umas oito horas de estrada. Apesar da aparência frágil, essas avezinhas são muito resistentes. Num lote de 25 mil aves, apenas 3 ou 4 morrem na viagem. As codorninhas chegam cansadas, mas bem espertas. Vão logo comer, beber água e correr pela nova casa. O pinteiro é fechado e quente. A temperatura ideal para as recém-nascidas é de 38 graus, mantida com aquecedor a gás. O responsável pela criação é o veterinário e professor da Universidade Federal de Lavras, Benedito Lemos de Oliveira. “Depois, gradativamente, nós vamos abrandando a temperatura em torno de 2 a 3 graus por semana. Fazendo isso como? Abrindo as janelas, dando mais ventilação, porque é curioso. Apesar de exigirem alta temperatura, as codornas exigem renovação de ar e também um bom nível de umidade”, diz o veterinário.
A umidade do ar deve ficar entre 60% e 80%. O o chão dos boxes é coberto com cama de palha de arroz moído e forrado com um pano. Por cima dele, se esparrama a ração. “A codorna é muito ágil, muito dinâmica. Então se não colocarmos a ração em toda a área do pinteiro, ela vai se estressar e acaba bicando a companheira. E é uma causa grande de mortalidade, a bicagem, o canibalismo”, completa Oliveira.
Uma vez por semana, as codornas são pesadas, até alcançarem o peso ideal para postura, o que leva 42 dias. Esse manejo permite acompanhar o desenvolvimento das aves e avaliar a eficiência das instalações e da alimentação. Na primeira semana de vida, as codornas recebem junto com a água, probióticos, que são produtos biológicos para aumentar a resistência e que também funcionam como promotores de crescimento. Aos sete e aos 35 dias de idade elas recebem, também na água, vacina contra doença de Newcastle. “A mortalidade aceita como normal é em torno de 5% a 6%, e nós já trouxemos esse nível para 2%”, garante Oliveira. Aos 21 dias, pesando entre 70 e 80 gramas, as codornas são transferidas para a recria. Vão ficar aqui outras 3 semanas até atingirem 120 gramas, quando estão prontas pra começar a botar.
Aí, mudam novamente de endereço: vão para os galpões de postura. Como na criação de galinhas, a codorna também precisa de uma ração especial para cada fase da vida. Aqui se usa ração inicial para os pintinhos, a de crescimento na recria e a específica para postura. E é muito importante também usar água de boa qualidade.
Postura – A granja de postura é bem diferente das convencionais. Normalmente, as codornas são criadas em ambiente fechado, escuro. Aqui não. É tudo claro, aberto e bem ventilado. “A codorna, num ambiente mal ventilado, também fica muito propensa a doenças, principalmente a doenças respiratórias”, revela Oliveira.
As cortinas, nas laterais, podem ser abertas ou fechadas de acordo com o clima. Tem ainda ventiladores e aspersores ligados nos dias muito quentes. Os galpões novos são ainda mais modernos. Têm pé direito alto, o piso vazado e estão bem acima do solo. Assim, o esterco cai lá embaixo e fica fora do ambiente de criação.
Isso reduz o mau cheiro próprio das fezes da codorna, deixa o ambiente mais agradável para as aves e funcionários e facilita a limpeza das instalações. Para evitar desperdício de ração e de mão-de-obra, tratadores automáticos. Eles distribuem a comida em horários programados nesse painel eletrônico, inclusive de madrugada. E mais, na volta uma corrente nivela a ração dentro do cocho, fazendo com que cada codorna receba mais ou menos a mesma quantidade de comida. “É importante que ele exerça um estímulo às codornas, pelo barulho e pela movimentação, que quando ele passa, as codornas vêm todas ao cocho para se alimentar”, ressalta Oliveira.
O resultado desse manejo tão caprichado, aparece na postura. São 270 mil ovos por dia, coletados mecanicamente. “Para montar toda a estrutura, investimos entre R$ 1,8 milhão e R$ 2 milhões. A rentabilidade está em torno de 8% a 10% durante o ano todo, porque há época em que dá lucro e há época em que dá prejuízo. Na média fica entre 8% e 10%. O que a gente ganha mais aqui é por causa do volume, porque mesmo a margem sendo pequenininha, a granja tem um volume maior”, revela José Augusto de Almeida, agricultor. A granja vende ovos de codorna para Minas, Rio de Janeiro, São Paulo e Paraná. Conquistou um mercado garantido. E ainda vai aumentar a produção. Até o final desse ano, deve chegar a 400 mil ovos por dia.