Na região de Concórdia, oeste de Santa Catarina, existem muitos frigoríficos e granjas onde se criam suínos. Santa Catarina é o principal produtor brasileiro e é na região que fica também a primeira central de sêmen do país, criada há mais de 40 anos. A tecnologia e a genética buscam qualidade e sanidade para os leitões que ainda vão nascer.
Porco nessa região é sinônimo de higiene e de limpeza. Toda a equipe do Globo Rural, para poder chegar perto de grandes machos reprodutores, tiveram que tomar um banho com sabonete bactericida e depois colocar uma roupa apropriada.
Com o equipamento esterilizado e com roupas higienizadas o Globo Rural entrou na Central de Sêmen da Associação de Criadores de Suínos de Santa Catarina.
Esse rigor é para que nada ameace a saúde desses reprodutores que custam, em média, 16 mil reais cada um.
“Se por acaso tivermos o problema de contaminação, um tipo de doença, isso vai passar para os produtores de suínos, que terão os índices de produtividade prejudicados”, explica Osmar Dalla Costa, zootecnista da Embrapa.
Hoje cerca de 85% da produção de suínos de Santa Catarina é feita através da inseminação artificial. Isso garante maior controle na criação de um rebanho mais saudável.
A Central de Sêmen da Associação de Criadores de Suínos de Santa Catarina produz em média 19 mil doses de sêmen por mês, para atender 250 produtores independentes e de cooperativas de Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Paraná, que criam mais de oito mil fêmeas nas suas granjas.
Na central de sêmen os machos vivem numa temperatura climatizada de 25 graus. Os boxes são individuais, tem seis metros quadrados, o piso é ripado, conforme os padrões exigidos pelo bem estar animal. Cada um bebe cerca de 20 litros de água por dia, e come 2,5Kg de ração feita de milho, farelo de soja, minerais e aminoácidos, alimentação específica para machos reprodutores.
“Os animais são conduzidos dentro do manejo racional sem gritarias, sem pancada, eles são extremamente dóceis”, mostra o zootecnista.
Eles são brasileiros; a maioria catarinenses, uns poucos mineiros. São bisnetos e tataranetos de uma linhagem de porcos norte americanos e europeus, que estão entre as melhores do mundo em qualidade.
“Para ser um bom reprodutor, tem de ser muito bem tratado para produzir sêmen em grande quantidade e de boa qualidade, isso vai repercutir na cadeira produtiva”, explica Dalla Costa.
Esses suínos nunca cruzaram com uma fêmea de verdade, na hora de coletar o sêmen eles sobem num manequim de coleta, um modelo feito de metal. Eles são condicionados aos seis meses de idade, quando chegam à central. Os porcos mais jovens acompanham os mais velhos até a sala de coleta, ali pela observação e pelo cheiro do sêmem eles aprendem o que devem fazer.
Estimulados por um funcionário ejaculam num copo coletor. A temperatura do copo é de 36 graus, para o sêmen não ter um choque térmico, o que poderia provocar a morte dos espermatozóides. O sêmen vai para o laboratório, onde uma amostra será coletada e analisada. Essa análise que determina se o material será utilizado ou descartado.
“A gente tem mais ou menos uma base, mas quem vai aprovar ou reprovar esse ejaculado, é o sistema. O que a gente toma cuidado é a questão das aglutinações, que pode ser alguma parte de contaminação bacteriana”, diz Mauro Serafim, veterinário.
Uma vez aprovado, o material ejaculado será diluído numa água extremamente pura, depois enriquecido com nutrientes. Esse material é envazado em doses de 50 e de 80 ml. As doses são coletadas e distribuídas no mesmo dia ao produtor que terá até sete dias para usar o material. Cada dose leva a identificação do macho reprodutor.
Nos arquivos do computador ficam registradas a quantidade de sêmen que cada animal produziu. Uma nova coleta só poderá ser feita depois de cinco dias. “Hoje, em média, a gente trabalha na central com 35, 40 doses por ejaculado. Isso representa de 12 a 15 fêmeas por animal”, comenta Serafim.
Apesar do tratamento de personagens principais, a metade dos suínos, 65 machos vão para o abate nos frigoríficos, nos próximos meses. Outros 65 machos mais jovens vão chegar para substituí-los. Um porco reprodutor não vive mais de dois anos numa central de inseminação.
“A gente não pode ficar com um animal muitos meses ou anos dentro de uma central, porque a gente supõe que hoje os animais estão vindo melhor do que há dois anos atrás, então faz parte do melhoramento genético, porque a vida útil dele, produtiva, acabou”, explica o veterinário.
Em outra área da granja vivem apenas fêmeas. Todas elas são jovens, meninas, quase adolescentes, muitas vão ficar prenhes pela primeira vez, elas são criadas à imagem e semelhança de outros porcos, mas elas são fruto de um melhoramento genético feito através de um cruzamento industrial.
Dez anos atrás as fêmeas costumavam ter seis pares de tetas, com a genética passaram a ter sete e hoje chegam a ter oito pares de tetas.
Na granja da família Zanata, André, o pai e a mãe cuidam sozinhos de 350 fêmeas. “A cada 21 dias vai uma remessa de 50 porcas para nascer os leitãozinhos”, comenta Marina Zanata, produtora.
As fêmeas que esperam pela inseminação precisam ser estimuladas a entrar no cio. Para prepará-las um macho atravessa a frente delas. As leitoas querem cheirar o porco. Se ele conseguir despertar o cio nas jovens, elas estarão prontas para receber a inseminação artificial, depois de dois dias.
A família Zanata há alguns anos começou a usar o sêmen da Central de Sêmen e percebeu uma melhora na produção. “Eu gostei muito do método. Inclusive os resultados melhoraram: 2017 fechou com 31,5 leitões fêmea/ano. Nos anos anteriores a produção ficava em torno de 20, 22”, conta André.
Durante os 28 dias de amamentação a mãe come de sete a 10 quilos de ração por dia. É preciso ter leite suficiente para tantos bebês esfomeados que mamam 16 vezes por dia.
Em outra granja, da família Cesca, no município de Salto Veloso, vivem quase cinco mil fêmeas, pelo menos 600 a cada mês dão à luz cerca de 9 mil leitões. Durante as semanas finais de gestação as porcas ficam em baias coletivas e o desenvolvimento dos leitões é acompanhado através de ultrassom.
As outras fêmeas que estão nas celas e estão no cio já foram separadas e vão receber a inseminação artificial. São mais de 1.500 doses por mês vindas da Central de Sêmen. Isso significou economia para a granja. Antigamente pagavam royalties pelo sêmen para uma outra empresa. Agora pagam apenas pelo custo da dose: R$ 9,80 por 50 ml e R$ 11,20 por 80 ml.
Depois da inseminação elas permanecem em celas por mais 40 dias, onde elas só podem ficar em pé ou deitar. “É importante que ela fique assim por causa da fecundação do embrião na fêmea”, explica Edevânio Cesca, sócio-proprietário da granja técnico agrícola.
O ciclo de vida das fêmeas é assim: elas dão à luz, ficam na cela parideira durante 28 dias amamentando os filhotes. Ao final desse período voltam para a cela com 60 cm de largura. Depois de cinco dias do final da amamentação, serão inseminadas novamente.
“O período do suíno é 114 dias de gestação, então a gente procura tirar em torno de 6 a 7 partos no mínimo, por fêmea. Ela dá em torno de 29 a 30 leitões por ano. Dá quase 100 leitões na vida útil dela. Isso dá dois anos. Depois ela é descartada, engordada novamente e vai para os frigoríficos para o abate”, explica.
Na granja da família Cesca, mesmo com tantos partos e tantos bebês, cada leitão que nasce é muito importante e precisa ser salvo. Primeiro cortar o cordão umbilical e colocar um pó secante para aquecer o bichinho que precisa de uma temperatura de 34 graus nos primeiros dias de vida.
Um leitãozinho que nasceu com cordão rompido, fica sufocado, o funcionário massageia o coraçãozinho, mas ele está com o corpo largado, sem forças. Ele está com dificuldade para respirar. O sopro do homem devolve a vida ao leitão recém-nascido.
“Sozinho ali ele ia morrer, provavelmente morreria, porque não ia ter ninguém para desentupir as vias nasais, ia acabar se afogando, então agora ele vai lá com os irmãozinhos”, diz o funcionário.
Junto com os irmãozinhos começa a batalha para aprender a mamar. Ele nasceu mais frágil que os outros, assim o homem precisa ensiná-lo a sugar o leite. “Ele sobrevive com ajuda do ser humano, é um trabalho de muita dedicação, de pegar o leitão pôr na teta da fêmea, segurar por vários minutos durante o dia para ele mamar”, explica João Pedro Cesca, criador.
Dedicação e paciência até que o bebê, sozinho, possa descobrir que o movimento da vida é buscar sempre por mais vida.