Os criadores de suínos, em Mato Grosso, estão operando no vermelho nos últimos meses por causa do recuo da demanda interna, como também reflexo das perdas decorrentes da desvalorização do dólar frente ao real. O impacto imediato é a redução do preço do quilo/vivo dos animais que não cobre mais o custo de produção. Para minimizar os prejuízos, suinocultores estão reduzindo em 40% o ponto ideal de abate. Ao invés de abater os animais com 150 quilos, eles estão sendo comercializados aos 90 quilos.
O Estado tem hoje um plantel de 1,5 milhão de suínos, dos quais 120 mil são matrizes tecnificadas. Mato Grosso está entre os cinco maiores produtores nacionais do Brasil.
Apesar do posto no ranking nacional, a atividade está em pânico com a queda vertiginosa do valor do quilo do suíno nos últimos anos, e a consequente frequência de prejuízos acumulados pelo criador. Segundo dados da Associação dos Criadores de Suínos de Mato Grosso (Acrismat) – que reúne 350 produtores – o valor do custo de produção atual é de aproximadamente R$ 2,10/quilo, mas o mercado está pagando apenas R$ 1,41, ou seja, o suinocultor está acumulando prejuízo de R$ 0,69 por cada quilo que comercializar sobre esta cotação.
A Acrismat conta que a atividade gera mais de 30 mil empregos diretos e indiretos no Estado “e que precisa urgentemente da ajuda do governo do Estado, caso não haja amparo, a cadeia produtiva poderá ser dizimada nos próximos anos”.
De acordo com o diretor executivo da Acrismat, Custódio Rodrigues, as principais reivindicações do segmento são isenção de impostos em alguns custos de produção do setor. Como a isenção de ICMS sobre a energia, a queda do preço de pauta para comercialização do quilo, a compra de carne pelo governo para inclusão na merenda escolar, e ainda uma política de preços mínimos para categoria, medida que cabe ao governo federal.
“Precisamos de incentivos temporários para sairmos da crise. Pois centenas de produtores já estão pagando pra trabalhar. O ideal seria que o governo custeasse pelo menos de R$ 0,50 a R$ 0,60 no quilo do suíno vendido com prejuízo”, propõe Custódio.
O superintendente do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), Otavio Celidônio, durante uma reunião entre Acrismat e Federação da Agricultura e Pecuária do Estado (Famato), na semana passada, mostrou como o setor suinícola do Estado investiu na tecnificação e melhora da produção do seu plantel. Segundo levantamento do Imea, a produção teve um aumento de 9% entre janeiro e abril de 2011, comparado ao mesmo período de 2010. Já a exportação acumula queda de 23%, entre janeiro a maio de 2011, se comparado com o mesmo período de 2010.
Outro dado alarmante é a diferença na relação de troca. “Se antes com valor bom de mercado o produtor precisava vender quatro quilos de suínos para comprar uma saca de milho – base alimentar do suíno – agora necessita vender 10 quilos para compensar o intervalo de preços entre o custo de um quilo e o preço do quilo no mercado.
Brasília – A crise da suinocultura não se limita ao Estado. Conforme a Associação Brasileira dos Criadores de Suínos (ABCS), se os problemas não forem resolvidos no curtíssimo prazo, ilhares de empregos serão extintos no país. A entidade nacional junto às afiliadas estaduais, apresentou dados referentes ao prejuízo pago pelo produtor nos últimos três meses que já soma mais de R$ 1 bilhão e reforçou que o embargo russo só vem agravar a crise dentro do setor. O cenário foi apresentado no último dia 29, em Brasília aos deputados federais.
“Precisamos desatrelar essa crise do embargo russo, que passou a vigorar há apenas 10 dias. Nosso grande problema se encontra nos valores de comercialização do milho que atingiram índices desproporcionais à sustentabilidade do setor, aliado a um desequilíbrio entre oferta e demanda”, defendeu o presidente da ABCS, Marcelo Lopes. O posicionamento da entidade foi ratificado pelo presidente da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs), Pedro de Camargo Neto. “Vamos resolver a situação do embargo junto ao governo russo e a crise irá permanecer no setor, por isso, precisamos enfrentar a questão de abastecimento de milho e alinhar a demanda interna”.
O diretor executivo da Acrismat defendeu na audiência que é preciso buscar novos mercados para a carne suína no exterior e aumentar o consumo interno. “Hoje produzimos para exportar 80% da nossa produção para Rússia, Ucrânia e Hong Kong. Para não ficarmos reféns destes mercados precisamos que o governo federal tenha uma política de estoque de carne e milho e que principalmente fomente o consumo interno”.