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Debate sobre transgênicos incita polêmica e expõe desinformação

<p>Apesar de toda a informação divulgada nos últimos dez anos sobre os alimentos geneticamente modificados, ainda falta ao consumidor brasileiro um entendimento claro sobre o que significa esse segmento da biotecnologia e as suas implicações para o futuro.</p>

Redação (13/07/07) – Essa foi a principal conclusão de um debate acalorado organizado na quarta-feira pelo Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo. 

O encontro "Alimentos transgênicos: impacto na economia e nos negócios; sustentabilidade rentável?" reuniu sob o mesmo teto os mais apaixonados defensores e críticos dos transgênicos. Entre eles, cientistas renomados dentro e fora do país. Mas o alto nível do debate – em alguns momentos excessivamente técnico – provocou sinais faciais de dúvida ainda mais aparentes no público heterodoxo que compareceu ao local. "Não sei o que pensar", admitiu uma advogada interessada em sustentabilidade, após estréia na discussão sobre organismos geneticamente modificados. "Se perguntarem o que acho dos transgênicos, não sei". 

Como se espera de um tema polêmico, foram repetidos à exaustão dados científicos para derrubar o argumento contrário. Por teleconferência, o consultor Jeffrey Smith, dos EUA, relatou interesses econômicos das multinacionais com alimentos geneticamente modificados e ações para calar cientistas e retirar apoio financeiro para pesquisas voltadas à investigação. "Quanto de evidência já foi acumulada indicando que não fazem mal ao homem?", perguntou Smith ao público. "Sabemos de indícios de intoxicação no rim e fígado provocados pelo milho transgênico. Eu mesmo já compilei 65 riscos que precisam ser investigados". O relato calou a platéia. 

Mohamed Habib, professor de Ecologia e diretor do Instituto de Biologia da Unicamp, acusou os transgênicos de não atender a vários quesitos, entre eles o social e econômico, mas também o moral e ético. Criticou as pesquisas desenvolvidas por multinacionais e o perigo que espreita o Brasil. 

"Tudo isso é bobagem", interrompeu uma voz impaciente no fundo do auditório, causando curiosidade e confusão na platéia. Alda Lerayer, engenheira agrônoma PhD em Genética e diretora-executiva do Conselho sobre Informações em Biotecnologia (CIB), soltou um sem-número de dados científicos para mostrar os benefícios dos transgênicos. Cientista renomada, ela ironizou o ataque às multinacionais e defendeu os "brilhantes pesquisadores da Embrapa" por sua grande participação no desenvolvimento de produtos transgênicos. Métodos de pesquisa e termos científicos foram surgindo no embate entre os dois cientistas, alheios ao mundo dos demais mortais presentes. 

"Peraí, gente. Vou pedir uma coisa: coloquem uma pouco de amor no coração de vocês", interrompeu a professora de arquitetura, dirigindo-se aos cientistas. Ela disse se sentir uma "ignorante" por saber tarde dos planos da CTNBio (Comissão Técnica Nacional sobre Biossegurança) em aprovar a primeira variedade transgênica o milho, após a liberação comercial da soja e do algodão. "Não podemos fechar cegamente em uma questão. Eu quase morri por causa de uma bactéria. Vai saber o que um gene em outro lugar pode fazer com uma população inteira. Falo como mãe". Foi aplaudidíssima. 

Uma estudante pegou o microfone e fez seu discurso, contou seus temores. À sua frente, um homem se apresentou como "consumidor" e resumiu o espírito do evento, que já entrava pela noite. "Respeito o trabalho de cientistas, mas essa discussão faz parecer que vocês vivem num castelo acadêmico sem contato com base. Por que estão divergindo?". Silêncio total. "Quando me disserem em quê divergem, talvez eu chegue a uma opinião sobre os transgênicos".