A diferença de preços entre a carcaça suína especial e o frango congelado no atacado paulista é atualmente apenas um terço do que era há dois anos, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP. E isso é resultado sobretudo de um excedente na oferta interna de suínos, que se estabeleceu após investimentos em aumento de produção que não previam uma queda significativa na demanda chinesa, segundo o analista Fernando Iglesias, da Safras & Mercado. Com carne de porco sobrando no mercado doméstico, os preços recuaram.
Nos últimos dois anos, a carcaça especial suína desvalorizou-se 14,3% em valores nominais, segundo dados do Cepea. O produto foi negociado a R$ 10,01 por quilo neste mês, na média até terça-feira. Já o frango congelado subiu 41,5% na comparação, para R$ 7,96 na média parcial de setembro. Com isso, a diferença diminuiu 66%, para R$ 6,06 o quilo.
A demanda por proteínas mais baratas que a carne bovina cresceu devido, principalmente, ao empobrecimento da população. O movimento beneficiou mais o frango do que o suíno por causa de hábitos de consumo. “O brasileiro é menos afeito à carne suína”, diz Iglesias.
Era a forte demanda externa, sobretudo da China, que dava esperanças para a suinocultura brasileira. As exportações da proteína bateram recordes em 2020 e 2021, garantindo o equilíbrio da oferta e da demanda. Mas os chineses recuperaram mais rapidamente que o previsto sua produção após a crise provocada pele peste suína africana. “A China importou 4,5 milhões de toneladas no ano passado [de todos os países], e este ano deve comprar a metade disso”, comenta o analista.
Já os embarques de carne de frango estão indo muito bem em 2022. “O Brasil está sabendo aproveitar as oportunidades geradas pelo surto de influenza aviária no Hemisfério Norte e pela guerra na Ucrânia”, diz Iglesias. A doença reduziu a oferta e as exportações da Europa, e a guerra tirou a Ucrânia do mercado.
Queda nas exportações
De acordo com a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), as exportações brasileiras de carne suína alcançaram 722,8 mil toneladas de janeiro a agosto, 4,5% menos que no mesmo período de 2021. No caso do frango, foram 3,3 milhões de toneladas, um incremento de 7,7%.
A produção de suínos tem um ciclo mais longo que o da avicultura. Assim, o ajuste à nova realidade está demorando mais. O suinocultor de Santa Catarina ainda amarga prejuízos este mês, diz Iglesias. “A perda é de R$ 130 por cabeça, mas, no decorrer do ano, já foi de R$ 300”, lembra.
No último trimestre de 2022, a demanda interna pelas duas proteínas poderá aumentar com o pagamento de auxílios do governo à população de baixa renda e aos caminhoneiros. O período de festividades, ampliado pela Copa do Mundo no Catar, tende a colaborar para o aquecimento do consumo interno.
O cenário externo, por sua vez, é mais favorável ao frango. O Brasil é líder nas exportações globais de aves halal e deve embarcar volumes consideráveis para suprir a demanda de turistas de vários lugares do mundo que estarão na Copa do Mundo, no Oriente Médio. No caso dos suínos, o analista da Safras & Mercado elogia o trabalho setorial para ampliar os embarques para parceiros que não a China, o que se traduziu em um crescimento nas vendas ao exterior em agosto. “A abertura e a ampliação de outros mercados é muito importante para darmos vazão a esse excedente de oferta”, finaliza.