Estava embaralhando as ideias em busca de sentimentos e padrões de comportamento que ajudem os brasileiros a lidar melhor com o delicado momento que o país vive na economia e na política. Dei então de cara com o cooperativismo, que responde por cerca de 48% do valor de produção do nosso agronegócio. Gente de trabalho, que vem protagonizando uma história bonita no campo.
Por conta de seus valores tradicionais, nascidos em torno do conceito de união, o cooperativismo é uma ideia com potência para acelerar a difusão de tecnologia, aculturar modelos de gestão, proporcionar competitividade operacional entre pequenos criadores e agricultores, assim trilhando o difícil caminho de tirar o produtor do anonimato das commodities e levar seus produtos até a mesa do consumidor.
Tanto se fala do marketing do produtor e esse é, de fato, um caminho eficaz para adicionar valor ao seu trabalho. Veja por exemplo o caso da Aurora, que conta com 13 filiais e cerca de 70 mil famílias, que juntas fazem chegar alimentos com sua marca nas mesas de todo o país e do exterior.
Ou então uma Cooperalfa, que criou paradigmas de modernidade no oeste catarinense, plantou evolução tecnológica em uma região de grandes desafios, cultivou amor à terra e hoje procura fortalecer esse espírito nas novas gerações, para estimular sua fixação no campo e defender o futuro das comunidades rurais.
Esses não são os dois únicos casos. São dezenas e dezenas de belos exemplos pelo país e há um componente no DNA do cooperativismo que me intriga e pode fazer a diferença para alavancar o fortalecimento de um homem e de uma comunidade cooperativista – mas também de pessoas e grupos sociais de outros matizes.
União, integração, compromisso, coletividade, solidariedade e visão compartilhada. Tudo está no script cooperativista e soma para seu sucesso. São traços de comportamento e ferramentas essenciais do cooperativismo — e como tal devem ser sacralizadas. Mas por trás de todas elas está uma atitude original e precedente, que é a de não aceitar o dado posto, a fatalidade histórica ou do ambiente.
É o instinto de rebelar-se contra um status quo avesso ao progredir da vida e aos valores humanistas básicos da sociedade. E, se formos buscar a gênese, o turning point dos projetos cooperativistas, certamente vamos encontrar uma situação presente, ou de futuro visível, em que não se vislumbravam saídas, ou evoluções satisfatórias e possíveis. Uma espécie de esgotamento de futuro.
Aí está a semente de atitude do cooperativismo como opção econômica e existencial. Um impulso renovador, que sai da dormência e equivale à vontade de sonhar o próprio sonho para tentar fazer a própria história – em grupo ou em uma grande coletividade. É disso que o Brasil precisa, neste momento.
Coriolano Xavier, Vice-Presidente de Comunicação do Conselho Científico para Agricultura Sustentável (CCAS), Professor do Núcleo de Estudos do Agronegócio da ESPM.