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Clima

El Niño forte pode impactar consideravelmente a produção de grãos e leite no país

Especialistas discutem efeitos climáticos para o setor agrícola em live da Globo Rural

El Niño forte pode impactar consideravelmente a produção de grãos e leite no país

O El Niño ativo e de alta intensidade apresenta o potencial de desencadear ondas de calor, ciclones, chuvas de granizo e outros fenômenos que podem interferir nas fases de plantio e colheita de grãos no Brasil até o final deste ano. No entanto, ainda existe incerteza em relação à intensidade desse fenômeno climático e suas ramificações para a agricultura

Além do El Niño, são esperados eventos como massas de ar polar até o fim do inverno, que podem ocasionar novas ondas de frio. No entanto, essas massas de ar não devem impactar significativamente a agricultura.

As temperaturas acima da média previstas para o final do inverno, bem como durante a primavera e o verão, características associadas ao El Niño, merecem especial atenção por parte dos produtores, de acordo com Willians Bini, especialista em meteorologia da Climatempo. Ele ressaltou que, apesar das previsões de umidade favorável para o Centro-Oeste, a principal região produtora de grãos no país, não há garantia de chuvas regulares e condições ideais para o plantio em setembro.

“Os agricultores precisam planejar seus plantios de forma a evitar replantios. As chuvas tendem a ser irregulares em setembro e podem não fornecer o volume necessário para uma emergência bem-sucedida”, afirmou Ricardo Sodré, CEO da FieldPro.

No que diz respeito às regiões Norte e Nordeste do país, a previsão é de chuvas fracas e irregulares, enquanto o Sul enfrentará excesso de precipitações. No entanto, prever quando e onde essas chuvas ocorrerão continua sendo um desafio, conforme apontado pelo especialista da Climatempo.

O Brasil atualmente conta com cerca de 750 estações meteorológicas, a maioria concentrada em áreas urbanas. Em comparação, os Estados Unidos possuem mais de 26 mil estações.

Fenômenos climáticos atípicos têm se tornado mais frequentes, segundo Sodré, da FieldPro, seja devido ao La Niña ou ao El Niño. A neutralidade climática está se tornando cada vez mais rara. Essa situação, aliada à falta de dados climáticos coletados no Brasil, dificulta previsões climáticas precisas. Bini enfatizou que é praticamente impossível prever com exatidão eventos que ocorrerão ou não com mais de oito meses de antecedência.

É notável, segundo os especialistas, que ninguém previu que julho de 2023 se tornaria o mês mais quente da história, como reconhecido pela Organização Meteorológica Mundial (OMM).

Enquanto o Hemisfério Norte enfrenta um verão com temperaturas excepcionalmente altas este ano, o Hemisfério Sul vivencia um “inverno quente”, o que justifica os recordes de temperaturas em parte do Brasil.

Uma consequência desse clima atípico é o aumento da frequência de eventos climáticos extremos. “Estamos observando ocorrências incomuns, como deslizamentos de terra, inundações, incêndios florestais, tempestades e ventos fortes, com maior frequência e intensidade”, disse Bini.

Sodré observa que a capacidade de prever o clima depende de uma expansão significativa na coleta de dados climáticos. Ele sugere que a implementação de uma política pública para estabelecer pontos de coleta em áreas rurais resultaria em previsões muito mais precisas para o campo.

Segundo ele, “investir em compreender o clima é o melhor investimento que um produtor pode fazer”. Esse conhecimento possibilita a aplicação de insumos no momento adequado, o respeito ao meio ambiente e a conquista de maior produtividade.