Graças a uma revolução silenciosa, processada nos laboratórios de pesquisa agropecuária, o Brasil vem produzindo cada vez mais alimentos em áreas proporcionalmente menores. Esses experimentos, com forte contribuição da biotecnologia, multiplicaram a produtividade agrícola, reduzindo a demanda por novas áreas.
O principal agente dessa revolução é a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Seus trabalhos nos últimos 30 anos estão entre os responsáveis pela expansão da produtividade agrícola do país em cinco a seis vezes, dependendo da cultura. Com isso, a produção brasileira dobrou nos últimos dez anos, enquanto a área plantada cresceu cerca de 25%. No fim dos anos 1990, o Brasil produzia em torno de 80 milhões de toneladas de grãos em uma área ao redor de 40 milhões de hectares. Hoje colhe cerca de 160 milhões numa área próxima a 50 milhões de hectares.
Segundo Francisco Aragão, pesquisador da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, responsável pelo Laboratório de Engenharia Genética dessa unidade, sem as novas tecnologias “a gente teria desmatado muito mais ou até passado fome”, diz.
O pesquisador lembra que nos anos 1950 e 1960, o Brasil chegava a receber ajuda humanitária em alimentos, destinados principalmente ao Nordeste, em épocas de seca. Hoje, a pressão para produzir mais alimentos vem do mercado globalizado, pois há mais gente demandando comida, especialmente na Ásia. Para aumentar a produtividade, usa-se tecnologia, o que inclui irrigação, cuidados com o solo, tratos culturais e genética.
A primeira planta transgênica da América Latina foi gerada pela Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia em 1986. Desde então, o centro de pesquisa vem desenvolvendo plantas mais resistentes, que apresentam menos perdas no campo e que facilitam o plantio. Mais recentemente foram introduzidas pesquisas para melhorar o aspecto nutricional das variedades. Está sendo desenvolvida, por exemplo, uma alface com 15 vezes mais ácido fólico. A falta dessa substância está associada à má-formação de bebês, depressão e outras doenças.
A Embrapa Biotecnologia também criou um feijão resistente ao vírus causador do mosaico dourado, doença responsável por perdas de 40% a 100% de uma lavoura. No país, segundo Aragão, as perdas chegam a 280 mil toneladas de feijão por ano. Isso leva os produtores, especialmente os de maior porte, a aplicar inseticidas semanalmente nas plantações. Com a planta, a expectativa da Embrapa é de que a produção de feijão aumente 30% em uma mesma área.
A estatal também desenvolveu, em parceria com a Basf, uma cultivar de soja resistente a um herbicida produzido pela multinacional. O objetivo é levar os produtores a fazer uma rotação de herbicidas, para evitar o aparecimento de ervas daninhas resistentes. A comercialização depende agora da aprovação dos principais países consumidores da soja brasileira – União Europeia, Japão e China.
A Monsanto também aguarda aprovação entre os países consumidores de uma variedade de soja geneticamente modificada – a Intacta RR2 PRO -, desenvolvida ao longo dos últimos dez anos especificamente para o mercado brasileiro. Segundo a empresa, a planta proporciona um ganho de R$ 346,91 por hectare, considerando-se a economia com a redução do uso de inseticidas, já que a planta é resistente a lagartas que atacam a cultura, e o aumento de produtividade, de 6,59 sacas a mais por hectare, em relação às variedades existentes no mercado.