Redação (16/08/06)- A Embrapa Roraima completa 25 anos de atuação em Boa Vista (RR) e os resultados desse período estão presentes em mais de 90 tecnologias que a Embrapa desenvolveu, adaptou e validou para as condições do lavrado ou para as regiões de mata em Roraima. Grande parte da agricultura em Roraima é viabilizada porque houve pesquisa e adaptação de conhecimentos gerados pela Embrapa, é o que afirma o chefe-geral da Unidade, Antônio Carlos Centeno Cordeiro.
Um exemplo é que o solo dos lavrados ou cerrados (ecossistema que se estende por 17% da área territorial do Estado) possui pouca fertilidade, baixo pH (solos ácidos) e pouca matéria orgânica. Condições que praticamente inviabilizariam a produção. As pesquisas permitiram estabelecer os percentuais adequados de calcário para a correção do solo, a utilização de fertilizantes e o manejo do solo, o que viabilizou a agricultura no lavrado, sendo possível o plantio comercial de arroz, milho, soja, feijão caupi, fruteiras, além de experimentos com algodão, girassol, entre outras culturas que demonstram potencial para a região.
Uma conseqüência dessa atuação no Estado está na pecuária. Antes, até 1980, a atividade era extensiva com baixa produção, ocupando cinco hectares de pasto para cada cabeça de gado, com a oferta de 134 Kg de carcaça (o peso do animal sem as vísceras e cabeça). A pesquisa no melhoramento de pastagens e no desenvolvimento de formulação de mistura mineral para alimentação de bovinos, visando atender as necessidades específicas de Roraima, ajudou a mudar essa situação, afirma o pesquisador da Embrapa Roraima, veterinário Ramayana Braga. O resultado é que isso influenciou no aumento em mais de 60% da produção de carne por animal, registrando-se em 2005, a produção média de 220 Kg de carne por animal.
Vale destacar também a contribuição no que se refere à pesquisa com cultivos anuais de grãos, explorados tanto pela agricultura familiar quanto pela agricultura empresarial. Com a pesquisa da Embrapa, hoje Roraima tem disponíveis 11 cultivares de arroz tanto para cultivo irrigado (potencial de 7 toneladas por hectare) quanto para condições de sequeiro (potencial de 4 toneladas por hectare) com boa produtividade e alta qualidade de grãos. O arroz tornou-se a principal atividade agrícola do Estado e, apenas o cultivo de arroz irrigado tem a participação de 11% no PIB estadual.
A soja, que no início de seu cultivo em Roraima, na década de 80, tinha a produtividade em 1,5 tonelada por hectare, dobrou sua produtividade para 3 toneladas por hectare, em média, graças às novas cultivares e o desenvolvimento de um sistema de produção. Já se somam 20 cultivares de soja adaptadas pela Embrapa para os cerrados de Roraima, das quais 15 são as que prevalecem, segundo informa o pesquisador Vicente Gianluppi, que participou do melhoramento da maioria destas cultivares. Entre as cultivares de soja para o cerrado de Roraima, destaca-se como a mais cultivada a BRS Tracajá (produtividade média de 3,8 toneladas por hectare). A última recomendação, neste mês, foi da cultivar BRS Candeia. Hoje, 90 % da área plantada com soja em Roraima é com sementes de tecnologia desenvolvida pela Embrapa.
Outra grande presença da tecnologia da Embrapa na agricultura do Estado, é com a oferta de cinco variedades e quatro híbridos de milho, com produtividades que variam de 3 a 7 toneladas, para diferentes condições (agricultura mecanizada, agricultura familiar e para áreas sujeitas a encharcamento temporário). Uma das variedades mais plantadas no Estado é a BR 106 (produtividade média de 3,5 toneladas por hectare).
Um exemplo de como a pesquisa agropecuária e a oferta de novas tecnologias vem ajudando na economia pode ser encontrado no sul do Estado. Na década de 80, os produtores estavam perdendo toda a produção de banana atacada pelo “Mal do Panamá”. Na ocasião, a Embrapa Roraima por meio de unidades demonstrativas junto aos produtores introduziu variedades de banana resistentes à doença, além de apresentar técnicas de adubação, segundo informa o pesquisador Dalton Schwengber, que na época era um dos responsáveis por esse trabalho. As variedades Misore e Prata-anã ganharam a preferência do consumidor e na região sul de Roraima, principalmente no município de Caroebe, a produção ampliou-se e hoje abastece a capital de Roraima e vem conquistando o mercado na capital do estado vizinho, Manaus (AM), para onde são enviados semanalmente uma média de 70 caminhões com o produto.
Atualmente a Embrapa Roraima desenvolve 36 projetos de pesquisa em diversas áreas, entre elas: melhoramento de oleaginosas; coleta, caracterização e conservação de germoplasma de fruteiras; estudo de doenças e pragas que ocorrem nas lavouras da região; pesquisa com tecnologias para melhoria dos sistemas de produção da agricultura familiar; manejo de produtos florestais não madeireiros; sistemas agroflorestais; desenvolvimento de sistemas pecuários sustentáveis em áreas alteradas na Amazônia, entre outros projetos.
Várias tecnologias desenvolvidas pela Embrapa Roraima são direcionadas para o aproveitamento de áreas alteradas, inclusive incorporando áreas degradadas ao processo produtivo e com isso ajudando a reduzir a pressão para novos desmatamentos. Entre esses projetos estão: o de tecnologias para produção de bananas em áreas alteradas, que conta com uma Unidade Demonstrativa de Banana no município de Caroebe; o projeto Tipitamba, que utiliza a tecnologia de corte e trituração de capoeira como alternativa para preparo da terra sem uso do fogo na agricultura. Este projeto é desenvolvido no município de Mucajaí, situado na zona conhecida como Arco do Fogo em Roraima, onde ocorre o uso intenso de queimadas para preparo do solo.
De forma geral, as pesquisas visam gerar tecnologias que possam oferecer ao agricultor e pecuarista melhores condições e resultados na sua produção, seja com a adoção de variedades produtivas e resistentes às principais pragas e doenças, seja com melhor sustentabilidade ambiental, seja com a adoção de boas práticas desde o manejo da cultura até a colheita e pós-colheita para oferecer melhores produtos agrícolas e/ou florestais no mercado. “Em suma, são 25 anos de pesquisa, voltados para o conhecimento, geração e transferência de tecnologias buscando oferecer melhores condições de produção, atendendo às diferentes características das atividades dos empresários rurais, agricultores familiares, comunidades indígenas e extrativistas de nosso Estado”, resume o chefe-geral da Unidade.
Os 25 anos referem-se à criação do primeiro órgão da Embrapa com sede em Roraima, chamado de Unidade de Execução de Pesquisa de Âmbito Territorial (Uepat) de Boa Vista, em 13 de agosto de 1981. Porém, desde 1980 já eram realizadas atividades de extensão das pesquisas coordenadas por unidades da Embrapa nos estados do Amazonas e Pará. O período comemorativo terá a duração de um ano, iniciando neste mês, com uma programação que reúne eventos sociais e técnicos, inclusive o seminário internacional “Amazônia, Recursos Naturais e Sustentabilidade Sócio-Ambiental”, previsto para o mês de novembro.