O Brasil caminha para registrar novo recorde na instalação de usinas eólicas em 2022, em movimento que anima empresas do setor, mas gera também algumas preocupações, como a falta de equipamentos, disseram representantes da indústria ouvidos pelo Scoop by Mover.
A aceleração no ritmo de construção de parques eólicos pode resultar em escassez de equipamentos no curto prazo, bem como pressionar para baixo os preços cobrados no mercado por geração renovável, segundo essas pessoas.
A Associação Brasileira de Energia Eólica estima que o Brasil deve adicionar 5 gigawatts em capacidade em novas usinas neste ano, um salto significativo ante os cerca de 3,6 gigawatts de 2021, que já era uma marca histórica.
A expansão deve-se à preocupação de empresas com sustentabilidade, que aumentou na pandemia, e a um subsídio federal para usinas renováveis, que será retirado para novos projetos após uma fase de transição, disse a presidente da Abeeólica, Elbia Gannoun.
O crescimento esperado no setor, no entanto, virá no momento em que o mundo todo lida com problemas na cadeia de suprimentos, desencadeados por impactos da pandemia, que inclusive ajudaram a elevar preços de equipamentos eólicos e de outras fontes de geração.
“Não vou afirmar que o setor vai parar por causa disso, porque é muito forte, e é global, então vai fazendo ajustes. Mas haverá desafios. No curto prazo, vemos uma relativa falta de equipamentos”, disse ao Scoop a chefe da Abeeólica.
Falta de equipamento, sobra de energia
A expectativa da indústria eólica, segundo Gannoum, é de que alguns fornecedores anunciem investimentos para aumentar capacidade ou ampliem turnos de produção no Brasil devido à demanda aquecida.
O diretor de Novos Negócios da desenvolvedora de projetos Casa dos Ventos, Lucas Araripe, disse ao Scoop que o cenário deve gerar certa disputa entre empresas por equipamentos.
“Como tem tanta gente querendo implantar usinas, vai ter uma demanda muito grande. Nos próximos quatro anos, serão viabilizados muito mais projetos que nos anos anteriores. Aí ganha importância ter um relacionamento diferenciado com o fabricante”, afirmou.
A francesa Engie, por sua vez, avalia que apesar da “enxurrada” de novos projetos, muitos não conseguirão sair do papel justamente pelo desafio de se encontrar equipamentos no prazo desejado ou por dificuldades de financiamento.
O gerente de Relações com Investidores da Engie, Rafael Bósio, disse que também está no radar da companhia um risco de excesso de oferta de energia renovável. “Há um receio no mercado de que essa corrida de projetos possa trazer uma pressão baixista no preço da energia no curto prazo”, explicou.
A Engie está atualmente construindo um parque eólico no Rio Grande do Norte, o complexo Santo Agostinho, mas decisões sobre novos projetos serão cautelosas, uma vez que a companhia não pretende sacrificar retornos em prol da expansão, acrescentou Bósio.
Ao final de 2022, o Brasil tinha 20,8 gigawatts em usinas eólicas, o equivalente a 11,5% do parque gerador. Em 2021, a fonte respondeu por quase metade da expansão da capacidade de geração, segundo dados da Agência Nacional de Energia Elétrica, Aneel.